A Última Coisa que Mary Viu

O vento gelado de um inverno de 1843, a penumbra de uma casa isolada, o sussurro de segredos antigos… Ah, você me conhece. Basta uma premissa dessas para eu me sentir irremediavelmente atraído, como uma mariposa para a chama, ou melhor, como um detetive para o cheiro de um mistério que transcende o tempo. E foi exatamente essa sensação que me arrastou para a experiência de assistir A Última Coisa que Mary Viu, um filme de 2021 que, mesmo após alguns anos desde seu lançamento, ainda ecoa na minha mente como um sino sinistro em uma noite sem lua.

O que me puxa a escrever sobre ele agora, em pleno outubro de 2025? Não é apenas a frieza que de repente decidiu se assentar aqui fora, mas a maneira como certos filmes se recusam a abandonar a nossa memória. A Última Coisa que Mary Viu é mais do que um terror; é um drama gélido, um thriller psicológico que se aninha sob a pele e ali permanece. Edoardo Vitaletti, o diretor e roteirista, nos oferece uma obra que não grita, mas sim sussurra ameaças, construindo uma atmosfera tão densa que quase podemos sentir o cheiro de mofo e a umidade das paredes. É o tipo de filme que me faz questionar não apenas o que os personagens veem, mas o que nós estamos dispostos a enxergar nas sombras.

A história nos transporta para a Irlanda rural, um lugar onde a paisagem parece conspirar com a melancolia. Mary (Stefanie Scott), uma jovem marcada pela perda e pela investigação da misteriosa morte de sua avó, a matriarca Constance (Judith Roberts), é o nosso portal para este mundo de aflições. Não é apenas a morte que a persegue, mas a nuvem de suspeita que paira sobre ela e sua família. E é aqui que o filme se revela, não como uma simples narrativa de crime, mas como uma exploração das memórias, do trauma e das forças indizíveis que se escondem por trás da fachada da normalidade. Vitaletti tem a coragem de nos mergulhar na subjetividade de Mary, fazendo-nos duvidar da fronteira entre o real e o sobrenatural, entre o luto e a loucura.

O elenco, diga-se de passagem, é um espetáculo à parte na sua contenção e intensidade. Stefanie Scott como Mary é uma força silenciosa. Seus olhos, muitas vezes arregalados e úmidos, contam mais do que qualquer diálogo. Você vê nela a fragilidade de uma alma jovem esmagada pelo peso de uma tragédia e, ao mesmo tempo, uma resiliência quase palpável, uma busca desesperada por entender o que aconteceu. Não é uma performance de grandes explosões emocionais, mas de pequenos tremores, olhares furtivos e respirações contidas que entregam a profundidade de seu desespero. É a antítese do “show, não conte”, e funciona magnificamente.

AtributoDetalhe
DiretorEdoardo Vitaletti
RoteiristaEdoardo Vitaletti
ProdutoresIsen Robbins, Aimee Schoof
Elenco PrincipalStefanie Scott, Isabelle Fuhrman, Rory Culkin, Judith Roberts, Carolyn McCormick
GêneroTerror, Drama, Thriller
Ano de Lançamento2021
ProdutorasIntrinsic Value Films, Arachnid Films

Ao lado dela, Isabelle Fuhrman, como Eleanor, a irmã, adiciona uma camada extra de tensão. Há algo em seu porte, em seu jeito de olhar, que nos faz questionar suas intenções, sua lealdade. É a nuance que eu tanto aprecio, a capacidade de um ator de construir um personagem que não é unidimensional, nem herói, nem vilão claro, mas um ser humano complexo em circunstâncias extremas. Rory Culkin como Rupert, um figura masculina na casa, também se encaixa nesse mosaico de desconfiança e silêncios. E claro, Judith Roberts, mesmo na sua presença fantasmagórica como Constance, a matriarca morta, projeta uma sombra que é fundamental para a atmosfera do filme. Carolyn McCormick como Agnes completa o quadro familiar, adicionando sua própria dose de angústia e segredos. É um balé de atuações minimalistas, mas poderosas, que sustenta o drama e o terror.

Vitaletti nos prende não com jump scares baratos, mas com a construção lenta e inexorável de um mal-estar. A ambientação de 1843 é mais do que um mero pano de fundo histórico; ela é um personagem. As limitações da época – a falta de iluminação, a medicina rudimentar, as crenças populares – servem para intensificar o isolamento e o desamparo dos personagens. A fotografia é sombria, muitas vezes banhada em tons de azul e cinza, refletindo o inverno tanto exterior quanto interior. É como se a própria casa, com seus segredos e sua história, respirasse e nos observasse. Não é difícil imaginar o frio cortante atravessando as paredes, os rangidos da madeira contando histórias não ditas.

O filme não tem pressa em entregar suas respostas, e é aí que reside parte de seu poder. Ele nos força a habitar a incerteza, a mergulhar na psique de Mary enquanto ela tenta dar sentido ao caos. As “forças atemporais” da sinopse não são explícitas ou fáceis de definir. São elas a culpa, a loucura, o trauma geracional, ou algo verdadeiramente sobrenatural que se enraizou naquela família? Vitaletti joga com essa ambiguidade de forma brilhante, deixando que a sua própria imaginação preencha as lacunas, um método que, para mim, é sempre mais aterrorizante do que qualquer monstro explícito. Porque o que está dentro da nossa cabeça, o que nós tememos, é sempre o mais assustador, não é?

A Última Coisa que Mary Viu talvez não seja um filme para todos. Se você espera um ritmo frenético e sustos a cada esquina, talvez se decepcione. Mas se você busca uma experiência imersiva, um mergulho em um terror mais existencial, que explora a vulnerabilidade humana diante do inexplicável, então este filme é um achado. Ele me lembrou da importância de olhar para o que está nas margens, no silêncio entre as palavras, no olhar que desvia. Porque é ali, muitas vezes, que as verdades mais perturbadoras se escondem, à espera de serem vistas. E, no fim das contas, a última coisa que Mary viu… bem, você terá que descobrir por si mesmo, se tiver coragem de se aventurar na penumbra.

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