Acertando as Contas com o Diabo

Acertando as Contas com o Diabo: Um Thriller Rural Que Arranha a Alma

Confesso, cheguei a Acertando as Contas com o Diabo com certa reserva. Thriller rural? Já vi tantos, e tantos ruins… Mas a presença de Danielle Deadwyler, uma atriz que me fascina desde sua atuação em “The Harder They Fall”, me convenceu a dar uma chance a esse longa de 2020, que só chegou ao Brasil em 10 de novembro de 2022. E que chance acertada! Três anos depois, ainda me pego pensando nele.

O filme acompanha Lemon Cassidy, uma fazendeira que precisa lidar com a terrível herança deixada por seu marido desaparecido. Para salvar a vida de seu filho, ela precisa pagar uma dívida antiga para a poderosa família Runion, uma dívida que ameaça destruir uma frágil trégua de uma década. Com inteligência e uma força visceral que salta da tela, Lemon mergulha numa investigação tensa, buscando a verdade por trás do mistério do desaparecimento do marido e lutando contra um sistema opressor que a força a lutar por sua própria sobrevivência. Sem revelar muito, digo que o roteiro, escrito pelos diretores Lane e Ruckus Skye, consegue equilibrar com maestria o suspense crescente com um estudo de personagem profundo e comovente.

A direção dos irmãos Skye é impecável. A fotografia, com tons escuros e uma atmosfera opressiva, reflete a claustrofobia da comunidade isolada onde a história se passa. As paisagens rurais, filmadas com um olhar atento aos detalhes, transformam-se em personagens coadjuvantes, transmitindo a sensação de isolamento e perigo. A trilha sonora, sutil mas eficaz, acompanha a tensão crescente da narrativa, criando uma experiência imersiva de tirar o fôlego.

Danielle Deadwyler é, sem sombra de dúvidas, o coração pulsante do filme. Sua performance como Lemon é absolutamente brilhante, uma demonstração de força, resiliência e fragilidade. Ela consegue transmitir toda a complexidade emocional da personagem, com nuances sutis que revelam a mulher por trás da máscara de firmeza. O elenco de apoio também é excelente, especialmente Catherine Dyer, que personifica a frieza e o poder da matriarca Runion com uma interpretação assustadoramente convincente.

Entretanto, nem tudo são flores. A trama, embora envolvente, pode parecer lenta para alguns espectadores acostumados com o ritmo frenético dos thrillers modernos. Certos diálogos poderiam ter sido mais concisos e alguns elementos da narrativa, embora bem elaborados, poderiam ter sido melhor explorados. Mas, para mim, essas pequenas falhas foram amplamente compensadas pela potência da história e pela atuação magistral de Deadwyler.

Acertando as Contas com o Diabo explora temas relevantes como a opressão social, a luta pela sobrevivência e a força inabalável do amor materno. A mensagem subjacente é poderosa: mesmo em meio à escuridão e ao desespero, a esperança e a resiliência podem florescer. O filme se destaca não pela violência explícita, mas pela atmosfera tensa e pelo desenvolvimento gradual do suspense psicológico, que deixa o espectador apreensivo até o final.

Em resumo, Acertando as Contas com o Diabo é um thriller rural imperdível para quem aprecia filmes com personagens complexos, uma direção impecável e uma narrativa que permanece na mente muito depois dos créditos finais. Apesar de algumas pequenas falhas, o longa-metragem se destaca pela sua atmosfera tensa, pela atuação extraordinária de Danielle Deadwyler e pela sua mensagem tocante. Apesar de ter sido lançado em 2022 no Brasil, em 2025 eu ainda o recomendo fortemente, especialmente para aqueles que buscam algo além dos clichês do gênero. Se você busca um thriller que vai além do entretenimento superficial, mergulhando em temas profundos e explorando a força humana de forma visceral, não deixe de assistir.