Adão Negro

Adão Negro: Um Relâmpago que Brilha, Mas Não Cega

Confesso, estava dividido antes de assistir a Adão Negro em 2022. De um lado, a expectativa gerada pelo carisma inegável de Dwayne “The Rock” Johnson no papel principal. Do outro, a sombra da inconsistência que pairava sobre o DCEU na época. Passados quase três anos, posso dizer que o filme, apesar de seus defeitos, deixou uma marca – e não apenas por causa dos músculos de Johnson.

A sinopse é simples: após quase 5.000 anos aprisionado, Teth-Adam, o Adão Negro, é libertado e precisa lidar com um mundo que mudou drasticamente. Ele carrega uma justiça brutal, um método que, para ele, é a única forma de combater a injustiça. Sem muitos spoilers, posso dizer que essa premissa dá espaço para boas cenas de ação, mas também para uma exploração superficial de moralidade ambígua que, infelizmente, não é completamente desenvolvida.

A direção de Jaume Collet-Serra, conhecido por seus thrillers, imprime uma estética visualmente impressionante. As cenas de ação são, sem dúvida, o ponto alto do longa-metragem, frenéticas e com um bom trabalho de CGI, especialmente em relação aos efeitos de raios e ao visual dos membros da Sociedade da Justiça. No entanto, senti que a estética visual, por vezes, ofuscava o desenvolvimento dos personagens. O roteiro, escrito por Adam Sztykiel, Sohrab Noshirvani e Rory Haines, sofre com alguns clichês previsíveis. A sensação é que o filme se perde em algumas subtramas, sem conseguir dar a profundidade necessária para alguns dos personagens secundários, que têm um potencial enorme, como Hawkman (Aldis Hodge), Atom Smasher (Noah Centineo) e Cyclone (Quintessa Swindell).

Falando em atuações, Dwayne Johnson entrega exatamente o que se espera: presença imponente e carisma de sobra. Ele é, sem dúvida, o carro-chefe do filme, e carrega nas costas boa parte da experiência. Os demais atores também se esforçam, mas o roteiro não lhes oferece muitas oportunidades de brilhar. Sarah Shahi, como Adrianna Tomaz, fica em segundo plano, o que é uma pena, considerando seu talento.

O grande trunfo de Adão Negro é sua ambição. O filme tenta ser algo diferente, um anti-herói à moda antiga, com uma postura moral complexa. Ele tece essa trama com elementos mitológicos, fantasia e ficção científica, criando um universo próprio dentro do DCEU. Infelizmente, esse mesmo desejo de grandiosidade acaba se tornando um de seus maiores pontos fracos. A tentativa de abarcar tantos personagens e elementos acaba diluindo o impacto emocional da narrativa. A jornada de Adão Negro poderia ter sido mais profunda, mais explorada. As referências à mitologia egípcia, por exemplo, poderiam ter sido melhor integradas à história.

Quanto aos temas, o filme explora justiça, vingança e o peso do passado. Ele também brinca com a ideia de anti-herói versus herói, mostrando os diferentes métodos para se alcançar um objetivo semelhante. Apesar da superficialidade em alguns aspectos, a mensagem é clara: mesmo os métodos mais brutais podem ter boas intenções por trás.

No geral, Adão Negro é um filme divertido, com ação espetacular e um protagonista carismático. Mas sua previsibilidade e o desenvolvimento irregular dos personagens impedem que ele se torne um clássico do gênero. A recepção da crítica foi mista em 2022, com muitos apontando a falta de originalidade no roteiro. Eu concordo em parte; o filme não reinventa a roda, mas oferece um entretenimento palatável. Eu o recomendaria para fãs de ação e da figura de Adão Negro, mas com a ressalva de que a experiência será mais satisfatória se você não esperar profundidade narrativa. No final das contas, um relâmpago brilhante, mas que não cega completamente. Vale a pena ver em plataformas digitais, agora que já se passou algum tempo desde seu lançamento em 20 de outubro de 2022.