África, Adeus!

África, Adeus!: Um olhar incômodo sobre a brutalidade do pós-colonialismo

Em 18 de setembro de 2025, revisitando África, Adeus! (1966), não posso deixar de sentir um misto de fascínio perturbador e repulsa. Este longa-metragem, dirigido pela dupla Gualtiero Jacopetti e Franco Prosperi, não é apenas um documentário; é um mergulho visceral, muitas vezes chocante, na realidade brutal da África pós-colonial. O filme, através de imagens de arquivo e uma narração implacável, nos apresenta uma visão – polêmica, é preciso dizer – da violência, da exploração e da desordem que se seguiram à independência de diversas nações africanas. Não se trata de um filme para os fracos de estômago. Prepare-se para imagens fortes e uma experiência que vai te assombrar.

A direção de Jacopetti e Prosperi é tão ousada quanto controversa. A escolha de apresentar a realidade africana com um olhar cru e implacável, sem filtro ou romantismo, era – e ainda é – um ato de grande ousadia. O estilo “mondo”, característico da dupla, nos joga no meio de uma realidade desoladora sem piedade. A ausência de um tom narrativo mais “equilibrado” é ao mesmo tempo seu maior trunfo e sua maior falha. A câmera não julga, apenas registra, o que cria uma atmosfera tensa e opressiva. As atuações, na verdade, consistem em registros de arquivo de personalidades como Jomo Kenyatta, Julius Nyerere e Moïse Tshombe, o que confere ao filme uma autenticidade – assustadora e perturbadoramente real – que poucos documentários conseguem alcançar.

O roteiro, também escrito pela dupla de diretores, é um amálgama de imagens chocantes e uma narrativa fragmentada que, apesar da aparente falta de estrutura, funciona como um reflexo da própria instabilidade da África pós-colonial. A estrutura não linear, com a intercalação de diversos eventos e locais, reforça a sensação de caos e imprevisibilidade que permeia a narrativa. É um filme que não se preocupa em ser politicamente correto, mas sim em apresentar uma versão, ainda que parcial e muitas vezes tendenciosa, da brutal realidade de um continente em ebulição.

AtributoDetalhe
DiretoresGualtiero Jacopetti, Franco Prosperi
RoteiristasGualtiero Jacopetti, Franco Prosperi
ProdutorAngelo Rizzoli
Elenco PrincipalSergio Rossi, Jomo Kenyatta, Gualtiero Jacopetti, Julius Nyerere, Moïse Kapenda Tshombe
GêneroDocumentário, Terror
Ano de Lançamento1966
ProdutoraCineriz

Os pontos fortes de África, Adeus! residem justamente na sua crueza e na sua capacidade de nos confrontar com a face sombria da história. O filme nos obriga a encarar imagens que a maioria das pessoas prefere ignorar: a violência tribal, a corrupção, o tráfico de pessoas, o mercenarismo. No entanto, sua maior fraqueza se manifesta na sua aparente falta de nuance e na sua perspectiva, frequentemente acusada de eurocêntrica e profundamente tendenciosa. A falta de contexto e o apelo ao sensacionalismo, embora intencionais, podem levar a uma interpretação superficial e potencialmente equivocada dos eventos retratados.

O filme aborda temas pesados e complexos como o neocolonialismo, a exploração econômica, a consequência da Guerra Fria no continente africano e a violência inerente a transição política do período pós-independência. A mensagem é ambígua, e propositalmente perturbadora. A narrativa não busca julgar, mas sim, apresentar um mosaico de imagens que provocam reflexão e incômodo.

Em 1966, quando foi lançado, África, Adeus! foi recebido com um misto de admiração e indignação. As reações foram bastante polarizadas, o que demonstra o impacto e a força de um filme que não deixou ninguém indiferente. A controvérsia que gerou, no entanto, é parte essencial de sua herança histórica.

Ao final da exibição, um profundo mal-estar permanece. Não se trata de um filme fácil de assistir. Mas é também um filme impossível de esquecer. Em 2025, África, Adeus! serve como um documento histórico, implacável e desconfortável, que nos lembra a complexidade e a brutalidade do passado, e nos convida a refletir sobre como o continente africano se desdobra nos dias atuais. Recomendaria sua exibição apenas para aqueles que buscam um olhar cru e intenso sobre um período turbulento da história mundial, e estão preparados para uma experiência cinemática visceral e potencialmente desconfortável, disponível em diversas plataformas de streaming. A decisão de assistir ou não é inteiramente sua, mas sua observação é fundamental para uma compreensão mais completa das complexidades do continente africano.

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