Albatroz: Um voo turbulento entre a realidade e o delírio
Seis anos se passaram desde que Albatroz, o perturbador longa-metragem de Daniel Augusto, pousou nos cinemas brasileiros em 7 de março de 2019. E, olhando para trás, percebo que a memória do filme – assim como a experiência de Simão Alcóbar, seu protagonista – é uma nebulosa de imagens vívidas e reflexões turvas. A sinopse, em resumo, acompanha a jornada de Simão, um fotógrafo que, após um trágico evento em Jerusalém, vê sua vida desmoronar sob o peso da fama repentina e de um profundo questionamento moral. Sua relação com a esposa, Catarina, e o romance com a enigmática Renée são apenas pinceladas em uma tela maior, dominada pela espiral descendente de sua psique.
A direção de Augusto, embora ousada na abordagem de inserir elementos de ficção científica em um thriller psicológico, oscila em alguns momentos. Há cenas de intensa beleza visual, captadas com maestria, contrastando com outras que parecem perder o foco, dilui-se em um experimentalismo que por vezes soa gratuito. A fotografia, por sua vez, é um trunfo, captando fielmente a angústia interna de Simão e a opressão do cenário.
O roteiro, assinado por um trio de talentos – Bráulio Mantovani, Fernando Garrido e Stephanie Degreas – é onde o filme se mostra mais forte e, também, mais vulnerável. A construção do personagem principal é complexa, multifacetada, e Alexandre Nero entrega uma performance de tirar o fôlego, mergulhando de cabeça no abismo psicológico de Simão. Andrea Beltrão, como Alícia (personagem que tem sua importância na vida de Simão, sem spoilers), e Camila Morgado, como Renée, também oferecem atuações sólidas. Mas, a trama em si, apesar de intrigante em sua proposta, apresenta alguns buracos narrativos e momentos de ritmo irregular que poderiam ter sido aprimorados.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Daniel Augusto |
| Roteiristas | Bráulio Mantovani, Fernando Garrido, Stephanie Degreas |
| Produtora | Carolina Kotscho |
| Elenco Principal | Andréa Beltrão, Alexandre Nero, Maria Flor, Gustavo Machado, Camila Morgado |
| Gênero | Ficção científica, Mistério, Thriller |
| Ano de Lançamento | 2019 |
| Produtoras | Globo Filmes, Telecine, Loma Filmes, Agência Nacional do Cinema – ANCINE, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, Fundo Setorial do Audiovisual |
Albatroz acerta em cheio ao explorar temas densos e pertinentes, como a responsabilidade ética do artista diante da tragédia, a fragilidade da sanidade mental sob pressão e a busca por significado em um mundo caótico. A ambiguidade da narrativa, a fronteira tênue entre realidade e alucinação, gera desconforto e permanece na mente do espectador muito depois dos créditos finais. Porém, essa mesma ambiguidade, por vezes, pode ser frustrante para quem busca respostas fáceis. A falta de clareza em alguns pontos da trama pode desagradar aqueles que preferem uma narrativa linear e conclusiva.
O filme, lançado em 2019 pela Globo Filmes em parceria com outros importantes players do mercado, recebeu críticas divididas na época. Alguns elogiaram sua ousadia e profundidade, outros apontaram sua fragilidade narrativa. Lembro-me de algumas discussões acaloradas em fóruns online à época do lançamento.
Em resumo, Albatroz não é um filme fácil. É uma obra desafiadora, que exige atenção e um mergulho profundo na complexidade de sua narrativa. Ele não busca agradar, mas sim provocar, questionar e, acima de tudo, inquietar. Recomendo Albatroz para aqueles que apreciam filmes que se recusam a ser superficiais e que abraçam o experimentalismo cinematográfico. Se você busca um filme que lhe deixe pensando muito tempo depois dos créditos, este pode ser seu próximo desafio. Mas prepare-se para uma experiência cinematográfica tão turbulenta quanto o voo de um albatroz.




