Alemão: Um retrato visceral da violência carioca, onze anos depois
Onze anos se passaram desde que Alemão estreou nos cinemas brasileiros em 7 de fevereiro de 2014. E, apesar do tempo, a visceralidade do filme continua a me assombrar. A trama acompanha cinco policiais militares infiltrados no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em novembro de 2010, presos em uma situação de vida ou morte após serem descobertos pelos traficantes. A tensão crescente, a espera angustiante por um resgate que pode ou não vir, formam o núcleo de um thriller policial que transcende o mero entretenimento.
A direção de José Eduardo Belmonte é, sem dúvida, um dos pontos altos do longa. Ele opta por uma estética crua, quase documental, que aumenta a sensação de claustrofobia e perigo iminente. A câmera treme, imita o movimento nervoso dos personagens, nos colocando dentro da pele desses homens encurralados. Não é um filme esteticamente bonito, mas sim brutalmente honesto em sua representação da realidade. A escolha de trabalhar com planos fechados, focando nos rostos tensos e desesperados dos policiais, reforça o impacto emocional da narrativa.
O roteiro de Gabriel Martins consegue equilibrar a ação frenética com momentos de profunda introspecção. A construção dos personagens é eficaz, embora alguns, como o Doca (Otávio Muller), poderiam ter sido melhor explorados. No entanto, o foco principal é a crescente tensão entre a lealdade à corporação e a sobrevivência individual, um dilema moral que os policiais enfrentam constantemente. O ritmo do filme é tenso, mantendo o espectador em estado de alerta constante, com reviravoltas que, embora previsíveis em alguns momentos, são bem executadas e geram o suspense necessário.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | José Eduardo Belmonte |
| Roteirista | Gabriel Martins |
| Produtor | Rodrigo Teixeira |
| Elenco Principal | Caio Blat, Gabriel Braga Nunes, Marcelo Mello Jr., Milhem Cortaz, Otávio Müller |
| Gênero | Ação, Drama, Crime |
| Ano de Lançamento | 2014 |
| Produtoras | RT Features, Camisa Treze |
As atuações são, de forma geral, excelentes. Caio Blat, Gabriel Braga Nunes e Milhem Cortaz entregam performances sólidas, conseguindo transmitir a fragilidade e o medo por trás da fachada de bravura policial. Marcelo Mello Jr. e Otávio Muller também se destacam, cada um com sua interpretação marcante. A química entre os atores é palpável, contribuindo para a imersão na narrativa.
Alemão não é um filme perfeito. A narrativa, por vezes, pode parecer um tanto linear e previsível, principalmente em relação ao desfecho. Algumas licenças poéticas em relação à realidade do complexo de favelas também podem ser questionáveis para quem está familiarizado com o tema. Contudo, sua força reside na visceralidade, no retrato honesto (ainda que com as limitações de uma narrativa cinematográfica) do perigo e da tensão que permeiam esses ambientes.
O filme explora, de forma indireta, temas como corrupção, violência policial e a complexa dinâmica social do Rio de Janeiro. Alemão funciona também como uma crítica implícita, embora sutil, aos métodos muitas vezes questionáveis de combate ao crime organizado. A mensagem é clara: a guerra às drogas tem um custo humano altíssimo, e as consequências muitas vezes recaem sobre aqueles que estão na linha de frente.
Em suma, Alemão é um filme que, apesar de suas imperfeições, deve ser assistido. Não se trata de um filme de ação espetacular, repleto de tiroteios e explosões exageradas. Trata-se de um filme que te pega pela garganta e te impele a pensar sobre os dilemas éticos e as consequências da violência. Acho que a experiência de assistir Alemão, onze anos depois de seu lançamento, é ainda mais impactante, considerando as mudanças (ou a falta delas) no cenário social do Rio de Janeiro. Recomendo fortemente, principalmente para aqueles que buscam um cinema brasileiro mais denso e reflexivo, disponível em diversas plataformas de streaming.
