Ah, o amor. Uma dança complexa de expectativas, concessões e, bem, uma boa dose de caos. Quem de nós nunca se viu à beira do precipício, com a vida pessoal e profissional a colidir de forma espetacular? Eu, por exemplo, já tive meus dias onde a balança entre a paixão por escrever e a paixão por… bem, outras coisas, pendeu de maneiras hilárias ou desastrosas. É por isso que, quando me deparei com Amor² Outra Vez, não pude deixar de sentir um certo arrepio de reconhecimento. Um filme de 2023 que, dois anos depois, ainda ecoa em certas conversas sobre o que realmente significa manter uma chama acesa quando o mundo exterior insiste em soprar ventos fortes.
Não me venha com aquele papo de que “filme de romance é tudo igual”. Não é. E Amor² Outra Vez, dirigido com um toque sensível por Filip Zylber e roteirizado por Wiktor Piątkowski e Natalia Matuszek, é um lembrete agridoce disso. A premissa, você já conhece: um jornalista famoso, Stefan ‘Enzo’ Tkaczyk (o carismático Mateusz Banasiuk), e uma professora discreta, Monika Grabarczyk (a encantadora Adrianna Chlebicka), veem seu relacionamento ser chacoalhado quando a carreira dele decola ainda mais, exigindo um nível de exposição que ela, uma mulher de bastidores e de rotina, simplesmente não assina embaixo.
Sabe aquela sensação de ter um pedaço da sua vida, da sua intimidade, sendo dissecado sob os holofotes, não porque você quer, mas porque alguém que você ama agora vive lá? Pois é. O filme te joga direto nesse turbilhão. A Monika, interpretada com uma doçura resistente por Adrianna Chlebicka, é o retrato da pessoa que valoriza a tranquilidade. Seus olhos, muitas vezes, parecem carregar o peso de um segredo bem guardado, o que só a torna ainda mais intrigante. Ela não é a mocinha que clama por atenção, mas a que busca a autenticidade e a paz no seu cantinho. Quando Stefan – Mateusz Banasiuk, que consegue ser charmoso e, ao mesmo tempo, exibir a arrogância sutil de quem está acostumado a ser o centro das atenções – mergulha de cabeça num novo projeto de TV, a linha tênue entre o “nós” e o “eu” de cada um começa a se desintegrar.
A química entre Chlebicka e Banasiuk, diga-se de passagem, é o motor dessa comédia romântica. Eles conseguem te fazer acreditar que, sim, esses dois se amam desesperadamente, mas também que, sim, eles estão a um passo de explodir um ao outro em mil pedacinhos. É como observar um cabo de guerra emocional, onde cada puxão, cada olhar trocado, cada silêncio ensurdecedor, adiciona uma camada de complexidade à trama. Não é só o trabalho dele que interfere; é a mudança na dinâmica, o tempo que falta, as prioridades que se desalinham. Já viu isso antes, né? Eu já vi demais, e não só na tela.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Filip Zylber |
| Roteiristas | Wiktor Piątkowski, Natalia Matuszek |
| Produtora | Magdalena Szwedkowicz |
| Elenco Principal | Adrianna Chlebicka, Mateusz Banasiuk, Mikołaj Roznerski, Tomasz Karolak, Monika Krzywkowska |
| Gênero | Romance, Comédia |
| Ano de Lançamento | 2023 |
| Produtoras | Endemol Shine Polska, MS Productions Magdalena Szwedkowicz |
O que me prendeu em Amor² Outra Vez não foi a promessa de um final feliz previsível (afinal, estamos falando de uma rom-com, mas as boas sempre nos dão uma boa dose de incerteza antes), mas sim a maneira como ele explora as áreas cinzentas. Aquele momento em que Monika olha para Stefan no auge de sua fama, e você vê em seu rosto uma mistura de orgulho e uma pontada de solidão. Ou quando Stefan, mesmo cercado de aplausos, percebe o vazio que a ausência dela deixa. É um “mostrar, não contar” que te pega pelo estômago. O diretor Filip Zylber é inteligente ao deixar que esses pequenos gestos falem mais alto que mil palavras.
E não posso deixar de lado o elenco de apoio que dá corpo e alma a esse universo. Mikołaj Roznerski como Rafał Wiśniewski, por exemplo, oferece um contraponto interessante à figura de Stefan, talvez um vislumbre do que Monika procura, ou talvez apenas um espinho necessário para a trama. E as figuras do dyrektor szkoły, interpretado por Tomasz Karolak, e de Aleksandra Burska, por Monika Krzywkowska, dão um tempero extra, mostrando as diferentes perspectivas do mundo ao redor de nossos protagonistas. A produção da Endemol Shine Polska e MS Productions Magdalena Szwedkowicz conseguiu criar um ambiente que parece ao mesmo tempo glamouroso e acolhedor, refletindo bem essa dualidade.
Afinal, o que Amor² Outra Vez nos quer dizer? Que amar é um verbo ativo, uma escolha diária, e que nenhum relacionamento está imune às pressões externas. Especialmente quando uma das partes está sob o olhar impiedoso de milhões. É uma comédia que te faz rir, sim, mas também te deixa com um nó na garganta, pensando sobre o que você estaria disposto a sacrificar pelo amor, e o que não. No fim das contas, a pergunta que fica é: vale a pena dobrar a aposta no amor, outra vez, quando o jogo fica tão exposto?
Para mim, este filme é um convite para refletir sobre as nossas próprias histórias de amor – aquelas em que a paixão e a carreira parecem viver em planetas diferentes, e onde a comunicação, ou a falta dela, pode ser o herói ou o vilão. Não é uma obra-prima revolucionária, mas é genuína, vibrante e, acima de tudo, humana. E, convenhamos, num mundo que muitas vezes parece exigir perfeição, assistir a personagens que se atrapalham, erram e tentam de novo é, por si só, um bálsamo para a alma. Vale a pena revisitar, ou descobrir, essa história. Afinal, quem não gosta de uma boa dose de amor com uma pitada de drama e muitas risadas pelo caminho? Eu, certamente, adoro.




