A vida, às vezes, tem um jeito peculiar de nos dobrar, não é mesmo? Daqueles que a gente se vê no chão, a casa caindo, e tudo o que restava de chão sob os pés, subitamente, vira areia movediça. Foi exatamente essa imagem que me veio à mente quando Amor de Mentirinha surgiu nas minhas recomendações de série lá no começo de 2025. Eu, que já perdi a conta de quantas vezes a ficção me salvou de dias cinzentos, não pude evitar o clique. O título já era um convite a uma boa e velha história de amor com percalços, mas o que encontrei foi algo que se enroscou nos meus pensamentos muito depois do último episódio.
O ponto de partida da nossa protagonista, Yu Me-ri, interpretada com uma vulnerabilidade palpável pela brilhante 정소민, é de partir o coração. Traída pelo noivo – e aqui, meus amigos, o golpe não foi só emocional, foi daqueles que te deixam sem teto –, Meri se vê à beira do abismo. Não é só a dor do coração partido, é a humilhação, a perda de tudo que a tornava segura. Quem nunca sentiu aquele frio na barriga, aquele nó na garganta quando o mundo parece desmoronar? É nessa fase, quando você pensa que nada mais pode dar certo, que a vida (ou, nesse caso, o roteiro de Lee Ha-na) te joga uma mansão. A tal Beauté Palace. Mas, claro, há um porém, um daqueles que transformam a vida em uma comédia de erros: para reivindicá-la, ela precisa aparecer casada.
E aí que a genialidade, ou a mais pura ironia do destino, entra em cena. Sem contato com o ex-noivo, Kim Wu-ju (aqui interpretado com aquela nuance de cafajeste pelo Seo Bum-june, que consegue ser charmoso e irritante na medida certa), Meri se vê forçada a procurar um substituto. E qual não é a surpresa (e a delícia narrativa) quando ela encontra um estranho, um outro Kim Wu-ju, interpretado pelo sempre carismático Woo-sik Choi? Ah, a complexidade de ter dois homens com o mesmo nome, um deles sendo a raiz da sua desgraça e o outro a (falsa) chave para sua salvação! Essa é a faísca que acende o fogo de artifício entre a comédia e o drama que a série tão bem equilibra.
Woo-sik Choi, com sua capacidade ímpar de transitar entre o cômico e o profundamente emotivo, nos entrega um Kim Wu-ju que é o oposto do ex-noivo. Ele é o estranho que, aos poucos, se torna menos estranho. Vemos suas mãos se entrelaçando, não por paixão imediata, mas por um tipo de camaradagem forçada que, de repente, começa a soar como algo mais sincero. A química entre Choi e Jung So-min é daquelas que você compra, sabe? Não é só texto, é no olhar, nos pequenos gestos, na forma como se esquivam e se aproximam. Eles conseguem fazer a gente torcer por um “casamento de mentirinha” de um jeito que poucas produções conseguem.
Atributo | Detalhe |
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Criadores | Song Hyun-wook, Hwang In Hyeok |
Diretora | Kwon Da-som |
Roteirista | Lee Ha-na |
Elenco Principal | Woo-sik Choi, 정소민, 신슬기, 배나라, Seo Bum-june |
Gênero | Comédia, Drama |
Ano de Lançamento | 2025 |
Produtoras | Studio S, Samhwa Networks, SBS Plus |
E o elenco de apoio? 신슬기 como Yoon Jin-kyung e 배나라 como Baek Sang-hyeon não estão ali só para preencher espaço. Jin-kyung, por exemplo, é a representação da inveja ou talvez de um amor não correspondido, que adiciona uma camada de tensão e nos faz questionar até onde as pessoas iriam para proteger seus próprios interesses ou para ver o mundo pegar fogo. Sang-hyeon, por outro lado, pode ser o amigo leal, o confidente, ou a outra ponta do triângulo amoroso que inevitavelmente se forma. Os criadores Song Hyun-wook e Hwang In Hyeok, junto com a diretora Kwon Da-som, souberam usar cada peça desse tabuleiro com maestria, garantindo que cada personagem tivesse seu momento de brilho e, mais importante, de impacto na trama.
A grande questão que a série nos lança, e que me pegou de jeito, é sobre a verdade por trás das aparências. Será que um amor que começa com uma farsa pode se tornar mais real do que muitos amores “verdadeiros”? E o peso do segredo, daquele olhar furtivo, da mentira que precisa ser alimentada a cada dia… Isso é um prato cheio para o drama, mas também para situações hilárias que nos fazem rir alto. A roteirista Lee Ha-na brinca com as expectativas do público, criando diálogos afiados e reviravoltas que, mesmo quando previsíveis no universo das comédias românticas, são executadas de forma tão envolvente que a gente se pega roendo as unhas.
Amor de Mentirinha não é apenas mais uma série sobre um casamento arranjado. É um estudo sobre resiliência, sobre como a perda pode abrir portas inesperadas e sobre a complexidade das relações humanas. É sobre a dor da traição e a esperança de um recomeço. É sobre rir quando a vontade é de chorar e, sim, sobre chorar quando a situação pede um riso. É uma montanha-russa emocional, com picos de euforia e vales de melancolia, mas que no fim, te deixa com um calorzinho no peito e a certeza de que, às vezes, a mentira mais bem contada pode ser o caminho para a verdade mais bonita. Se você me perguntar se vale a pena, minha resposta é um sonoro sim. Porque, no fundo, a gente sabe que todo mundo tem uma “mentirinha” guardada que, no fundo, só queria virar amor.