Ah, o cinema! Uma paixão que nos leva a lugares… E, por vezes, a dilemas. Lembro-me bem do burburinho quando anunciaram Angry Birds: O Filme lá em 2016. Quem não se pegou, em algum momento, arremessando aqueles pássaros coloridos contra estruturas frágeis num smartphone? Era uma febre, um vício divertido. Mas, convenhamos, transformar um joguinho de física tão direto numa narrativa de 90 minutos, com personagens que precisavam falar e sentir? Essa, pra mim, era a verdadeira manobra de alto risco. A gente esperava o quê? Uma trama que justificasse toda aquela fúria emplumada que nos consumia em cada fase? A curiosidade, amigos, era o que me levava à sala escura.
O que a gente encontrou, de cara, foi a ilha paradisíaca dos pássaros, um lugar onde a felicidade era quase uma obrigação, quase opressora. E no centro desse cenário pastelão, tínhamos Red, dublado com uma melancolia cômica pelo Jason Sudeikis. Sabe aquele cara que já acorda com o pé esquerdo e o mundo só o irrita? Era o Red. Ele não se encaixava na utopia da paz. E é aí que entra a sacada do roteirista Jon Vitti: o filme não só explica por que os pássaros ficam bravos, mas faz da raiva do Red o motor da história, quase como uma terapia de gerenciamento de fúria invertida. Ao lado dele, o veloz Chuck, com a voz inconfundível e o ritmo frenético de Josh Gad, e o adorável, mas explosivo, Bomba, ganhando vida na performance vocal de Danny McBride. Esse trio de “rejeitados”, como a sinopse bem aponta, forma o coração da comédia de criaturas que o filme se propõe a ser.
A direção de Clay Kaytis e Fergal Reilly, ao invés de reinventar a roda, optou por criar um mundo vibrante e cheio de energia, que faz jus à estética colorida do jogo. Os pássaros, com suas formas esféricas e traços exagerados, ganham expressões que variam da mais pura alegria à mais hilária frustração. E olha, o trabalho de animação é impecável. Cada pena, cada explosão (cortesia do Bomba, claro!), cada detalhe da ilha é um convite visual. E a Maya Rudolph como Matilda, a professora que tenta canalizar a raiva em algo mais “zen”, dá um contraponto delicioso à irritação de Red. Mas é quando os porquinhos verdes, liderados pelo carismático e sorrateiro Leonard (com a voz ardilosa de Bill Hader), chegam à ilha que a coisa esquenta. A rivalidade, que no jogo era pura física, aqui ganha uma camada de malícia e desconfiança. Os porcos, que pareciam inofensivos, logo revelam seu plano de vilania, transformando a ilha pacífica num palco para uma verdadeira batalha de reino animal.
Quando os porquinhos mostram suas verdadeiras intenções, a narrativa se alinha de vez com o espírito do jogo, culminando em uma sequência de ação onde os pássaros, finalmente unidos e “com raiva”, usam seus talentos para resgatar o que lhes foi roubado. Essa parte é pura adrenalina, com gags visuais que remetem diretamente à mecânica do videogame, o que, pra mim, foi um aceno respeitoso aos fãs. As produtoras Columbia Pictures e Rovio Entertainment, junto com a Rovio Animation, souberam dosar o humor infantil com referências que os adultos pegam, construindo uma comédia de criaturas que agrada a diferentes faixas etárias, sem cair no vulgar.
Atributo | Detalhe |
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Diretores | Clay Kaytis, Fergal Reilly |
Roteirista | Jon Vitti |
Produtores | John Cohen, Catherine Winder, Sean Mullen |
Elenco Principal | Jason Sudeikis, Josh Gad, Danny McBride, Maya Rudolph, Bill Hader |
Gênero | Animação, Aventura, Comédia, Família |
Ano de Lançamento | 2016 |
Produtoras | Columbia Pictures, Rovio Entertainment, Rovio Animation |
Claro, não é um filme que reinventa o cinema de animação ou que te deixará refletindo por dias. Uma das críticas que ouvi e, de certa forma, até entendo, é a de que as expectativas para uma adaptação de videogame são sempre altas e, às vezes, é difícil superar a simplicidade genial da fonte. “Eu não tinha expectativas e ainda assim me decepcionei”, li em algum lugar, e essa frase ecoa a dificuldade de traduzir a experiência interativa para o passivo. Mas eu vejo de outra forma. A gente tem que lembrar de onde ele veio. Ele não promete ser uma epopeia, mas entrega uma aventura divertida, cheia de cor e com um elenco vocal que se joga de cabeça.
No fim das contas, Angry Birds: O Filme é mais do que uma mera adaptação; é uma expansão do universo que a gente já conhecia. Ele pega o “porquê da raiva” e o transforma num enredo coeso, cheio de peripécias, que explora a importância de aceitar as emoções, mesmo aquelas consideradas “negativas”. É uma celebração da individualidade, da amizade e da ação, tudo embrulhado em uma embalagem de animação de alta qualidade. E, sim, ainda tem aquela famosa cena “durante os créditos” que te arranca um sorriso final, deixando a gente com a sensação de que, mesmo num mundo cheio de porcos e pássaros irados, sempre há espaço para uma boa risada. É para se divertir, esquecer um pouco da seriedade da vida e, quem sabe, até repensar um pouco sobre o que realmente nos irrita.