Anjos do Deserto

Anjos do Deserto: Uma Missão de Resgate Que Cai do Céu (ou não)

Lançado em 2024, Anjos do Deserto prometia ser um thriller de ação explosivo, com Eva Green liderando um grupo de mulheres em uma missão de resgate no Afeganistão. A premissa era atraente: adolescentes feitos reféns, uma equipe feminina de elite, e a necessidade de se infiltrar no grupo terrorista para garantir a libertação das jovens. Na prática, no entanto, o filme se revela uma experiência tão desigual quanto a paisagem árida onde se passa a história.

A sinopse, sem grandes spoilers, resume a trama: a soldado Jake (Eva Green) e seu grupo assumem identidades falsas para se aproximar dos terroristas, mas traições e o passado conturbado de Jake ameaçam comprometer a missão. A tensão está presente, o risco é palpável, mas algo falta para transformar essa premissa interessante em um filme memorável.

A direção de Martin Campbell, apesar de experiente (lembremos de “Casino Royale”), não consegue elevar o roteiro de Alissa Sullivan Haggis e Jonas McCord. A ação, embora presente, é previsível e carece de impacto visual memorável. As cenas de luta, em alguns momentos, parecem apressadas, perdendo a oportunidade de criar uma coreografia mais envolvente. A fotografia, por sua vez, consegue capturar a beleza crua e hostil do cenário afegão, mas isso não compensa a falta de criatividade em outras áreas.

O elenco, no entanto, é um ponto alto. Eva Green, como sempre, entrega uma atuação competente, carregando nas costas boa parte do peso dramático do filme. Maria Bakalova (The Bomb) mostra potencial, embora seu personagem seja pouco explorado. Ruby Rose, como Medic, e Reza Brojerdi, como Malik, cumprem seus papéis de forma satisfatória, enquanto Jojo T. Gibbs, como Geek, se destaca pela sua energia. Entretanto, o roteiro falha em desenvolver completamente seus personagens, transformando-os em figuras um pouco planas.

Um dos pontos fracos mais gritantes é o roteiro. A história, por vezes, parece forçada e previsível, com reviravoltas que são fáceis de antecipar. A tentativa de construir uma narrativa complexa sobre os traumas de guerra e as consequências de ações passadas fica um tanto superficial. A crítica mencionada, que chama o filme de “horrivelmente piegas, pró-EUA”, acerta em cheio. Existe uma tentativa descarada de construir uma narrativa unilateral, glorificando a intervenção militar americana sem questioná-la criticamente.

Por outro lado, a escolha de focar em uma equipe de mulheres em um contexto militar tão masculino é um ponto positivo. A ideia de “guerreiras” mulheres, lutando contra um sistema opressor, possui um potencial tremendo, porém mal explorado aqui. Elementos como os casamentos forçados e a luta pela liberdade ganham espaço na trama, mas sem a profundidade que a temática exige. Isso tudo, aliado à crítica de que o filme é “OK, mas não excepcional”, reforça a sensação de que Anjos do Deserto desperdiçou uma oportunidade de ouro.

Em resumo, Anjos do Deserto é um filme mediano. Ele funciona como entretenimento leve para quem busca ação e um enredo minimamente envolvente, mas não deixa marcas. A direção e o roteiro são seus pontos mais fracos, enquanto as atuações, principalmente de Eva Green, salvam a película do naufrágio total. Considerando a produção da Millennium Media e a recepção até então mista, era de se esperar um produto final mais refinado. Se você procura um filme para assistir em uma tarde preguiçosa, talvez ele te agrade. Mas se você espera algo mais profundo, com personagens complexos e uma narrativa mais consistente, é melhor procurar outras opções disponíveis em plataformas de streaming. A minha recomendação, portanto, é cautelosa: assista se você não tiver nada melhor para fazer, mas não crie expectativas muito altas.