Argentina, 1985: Um filme que ecoa através do tempo
Duas coisas me marcaram profundamente em Argentina, 1985, recém-assistido em 2025: a frieza calculada da justiça contra a brutalidade desumana da ditadura, e a performance absolutamente magnética de Ricardo Darín. O filme, dirigido por Santiago Mitre, narra a história real da equipe de procuradores que, em meio a um clima de medo e ameaças, ousou processar os líderes da Junta Militar Argentina pelos crimes cometidos durante o período mais sombrio da história do país. Sem entregar spoilers, posso dizer que acompanhamos uma corrida contra o tempo, um jogo de xadrez jurídico em que cada jogada é uma aposta na vida, e em que a justiça se torna a única arma contra o terror.
A direção de Mitre é precisa e elegante. Ele equilibra brilhantemente a tensão dramática dos julgamentos com os momentos de fragilidade humana dos personagens, capturando a atmosfera opressiva da Argentina da época sem cair em excessos melodramáticos. A câmera, muitas vezes observadora e discreta, nos coloca na sala do tribunal, nos fazendo testemunhas da batalha legal que se desenrola. Embora concorde que a direção e a fotografia sejam pontos altos, como sugere um dos trechos de crítica, duvido que se trate de uma obra “20/10”. A excelência está lá, inegável, mas a escala de “20/10” parece-me um tanto hiperbólica.
O roteiro, assinado por Mitre e Mariano Llinás, é um triunfo. A complexidade do caso é destrinchada com clareza, sem jamais sacrificar a dramaticidade. O texto é inteligente, utilizando o humor ácido como contraponto à gravidade dos acontecimentos. O diálogo é, por si só, um personagem, revelando as personalidades e as nuances ideológicas dos envolvidos. A escolha de focar não só nos advogados, mas também nas suas famílias, adiciona uma dimensão humana crucial, mostrando o peso pessoal da luta pela justiça.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Santiago Mitre |
| Roteiristas | Santiago Mitre, Mariano Llinás |
| Produtores | Axel Kuschevatzky, Chino Darín, Santiago Mitre, Santiago Carabante, Ricardo Darín, Federico Posternak, Agustina Llambi Campbell, Victoria Alonso, Ana Taleb |
| Elenco Principal | Ricardo Darín, Peter Lanzani, Alejandra Flechner, Paula Ransenberg, Carlos Portaluppi |
| Gênero | Drama, História, Crime |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | La Unión de los Ríos, Kenya Films, Infinity Hill, Wanka Cine, Infinity Hill |
E que atuações! Ricardo Darín, como Julio Strassera, é simplesmente excepcional. Ele transmite a determinação inabalável do promotor, a inteligência estratégica e a sensibilidade ferida de um homem que carrega o peso da história sobre seus ombros. Peter Lanzani, como Luis Moreno Ocampo, também entrega uma performance convincente, mostrando a força e a juventude engajada do jovem promotor. O resto do elenco é igualmente talentoso, construindo personagens críveis e memoráveis, que dão vida à complexa teia humana do filme.
Argentina, 1985 não é apenas um filme sobre um julgamento histórico. É uma reflexão sobre a importância da memória, a luta pela justiça e a responsabilidade individual na defesa da democracia. Um ponto que talvez o trecho de crítica não tenha tocado é a forma como o filme consegue fazer justiça, ao mesmo tempo que tece uma narrativa que não idealiza a justiça como algo perfeito ou isento de falhas. O filme toca em uma ferida aberta na sociedade argentina, e a sua capacidade de o fazer com sensibilidade e coragem é um dos seus pontos mais fortes. Porém, a duração do filme pode se mostrar extensa para alguns espectadores.
Em suma, Argentina, 1985 é um filme imperdível. Uma obra-prima do cinema argentino que transcende fronteiras geográficas e temporais, nos lembrando da importância da luta pela justiça e da memória coletiva. Recomendo fortemente a todos aqueles que apreciam filmes históricos, dramas jurídicos e narrativas inspiradas em fatos reais. Se você busca uma experiência cinematográfica potente e emocionante, procure este filme – é uma jornada poderosa que, garanto, irá ressoar em você muito depois dos créditos finais.




