Ah, Camelot! Quantas vezes a gente já não sonhou com seus muros, com a glória dos seus cavaleiros, com a magia de um mundo à beira do colapso, mas ainda assim regido por ideais grandiosos? Eu, por exemplo, sempre tive um fraco pelas lendas arturianas. Elas nos falam de honra, de traição, de destino… e, cá entre nós, de uma dose irresistível de aventura e magia que a vida real nem sempre oferece. É por isso que, mesmo em 2025, quando um filme como Arthur & Merlin: Cavaleiros de Camelot (lançado lá em 2020) me aparece, minha curiosidade é imediatamente atiçada. Não é todo dia que nos deparamos com uma nova visão sobre o Rei Arthur, especialmente uma que promete nos levar de volta ao coração da Grã-Bretanha do século V.
E qual é a proposta aqui, você me pergunta? Bem, não é a história que talvez você conheça de cor, mas um Arthur que volta para casa, exausto e talvez um tanto desiludido, após lutar contra o Império Romano. Imagine só: ele venceu os inimigos externos, mas o verdadeiro inferno o aguardava em casa. Seu próprio filho ilegítimo, um vulto sombrio que ele talvez nem soubesse existir, corrompeu o trono que ele tanto se esforçou para proteger. Que golpe, não é? A coroa, o símbolo de sua autoridade e legado, agora em mãos indignas. E é aí que a aventura começa de verdade, forçando o rei a reunir-se com o velho e sábio Merlin e os Cavaleiros da Távola Redonda para tentar, veja só, recuperar o que já era dele. É um clássico “herói retorna para um lar transformado”, mas com um toque bem particular de desespero e urgência.
Ao me sentar para assistir, a expectativa era de mergulhar em uma narrativa de Aventura, História e Ação, gêneros que, convenhamos, combinam como luva com a mitologia arturiana. Dirigido por Giles Alderson, e com roteiro de Simon Cotton e Jonny Grant, a produção da Dagger Films e Picture Perfect parecia querer nos contar uma história mais crua, talvez mais focada na visceralidade de um período tão tumultuado. E você consegue sentir isso na tela. Não espere a opulência dos grandes orçamentos de Hollywood, e isso não é necessariamente um demérito. Pelo contrário, por vezes, a falta de excessos permite que a história e os personagens respirem de uma forma mais genuína.
Richard Short, no papel de Arthur, entrega um rei que está longe da figura idealizada e invencível que muitas vezes pintamos. Há uma melancolia em seu olhar, um peso nos ombros de quem já viu demais e agora precisa lutar não por glória, mas pela própria alma de seu reino. Sua interpretação me fez pensar: o que realmente significa ser um rei quando o seu mundo desmorona não por invasão estrangeira, mas por uma traição familiar? Ele não é o Arthur imaculado, mas um homem falho, humano, que precisa reacender a chama da esperança em si mesmo e em seus poucos aliados.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Giles Alderson |
| Roteiristas | Simon Cotton, Jonny Grant |
| Produtores | Jeet Thakrar, Lucinda Rhodes Thakrar |
| Elenco Principal | Richard Short, Joe Egan, Ronan Summers, Olivia Bernstone, Georgia Curtis |
| Gênero | Aventura, História, Ação |
| Ano de Lançamento | 2020 |
| Produtoras | Dagger Films, Picture Perfect |
E falando em aliados, o reencontro com Merlin é um dos pontos que mais me interessou. Apesar de não ter o intérprete aqui, a figura do mago é sempre a bússola moral e mágica dessa saga. Em um mundo onde a espada fala mais alto que a razão, a sabedoria ancestral de Merlin se torna o último refúgio. E o que dizer de figuras como The Beast, interpretado por Joe Egan? Ou Lucan (Ronan Summers), Tabitha (Olivia Bernstone) e Mathilde (Georgia Curtis)? Cada um deles, mesmo em papéis de apoio, contribui para tecer essa tapeçaria de lealdade e conflito. Egan, com sua presença física, consegue dar uma gravidade a The Beast que é quase palpável, como uma força da natureza que precisa ser contida ou canalizada.
Giles Alderson, na direção, parece entender as limitações e virtudes de uma produção independente. Ele não tenta reinventar a roda com efeitos especiais faraônicos, mas foca na atmosfera. A ambientação do século V é sentida na aspereza dos cenários, na rusticidade dos figurinos, no tom cinzento que permeia a jornada. Ação, sim, tem, mas é uma ação mais brutal, menos coreografada, mais desesperada. Você sente a colisão das espadas, o cansaço dos combatentes. É como se cada golpe fosse uma tentativa derradeira de reafirmar a ordem em um caos crescente. E é justamente nessa abordagem mais “pé no chão” que o filme encontra sua força, nos lembrando que, antes de ser lenda, Arthur foi um guerreiro, um homem.
No fim das contas, Arthur & Merlin: Cavaleiros de Camelot não é um épico para rivalizar com as grandes superproduções, e talvez nem queira ser. Ele é mais como uma daquelas histórias contadas ao redor de uma fogueira, com a brisa fria do inverno a lembrar-nos dos tempos antigos. É uma reimaginação que explora a humanidade por trás da coroa, a dor da traição e a persistência da esperança. É um lembrete de que, mesmo em Camelot, os heróis são feitos de carne e osso, com suas dúvidas e cicatrizes. E, para quem, como eu, ainda se encanta com a ideia de cavaleiros e reis em tempos remotos, é uma jornada que, com seus altos e baixos, vale a pena ser revisitada, se não pela grandiosidade, pela coragem de contar uma velha história com um novo fôlego. Afinal, quem não gosta de ver um bom rei lutando para recuperar o que é seu, não é mesmo? É um sentimento universal.




