Asterix e o Domínio dos Deuses

Asterix e o Domínio dos Deuses: Uma Ode à Resistência em 3D

Onze anos se passaram desde que assisti a Asterix e o Domínio dos Deuses nos cinemas, em novembro de 2015. E, olhando para trás, percebo que o filme, apesar de algumas imperfeições, continua a ressoar em mim como uma celebração vibrante e, em certos aspectos, surpreendentemente moderna, da resistência contra a opressão. A animação em 3D, que na época era uma aposta ousada para a franquia, funciona, em sua maior parte, como um veículo para uma história que mantém a essência dos quadrinhos originais. A trama gira em torno de Júlio César, que, frustrado com suas tentativas falhas de conquistar a pequena vila gaulesa, decide construir uma luxuosa cidade romana ao lado, “Terra dos Deuses”, para seduzir seus teimosos habitantes. Asterix e Obelix, é claro, não estão dispostos a ceder ao charme imperial.

A direção de Alexandre Astier e Louis Clichy é, em sua maior parte, competente. Eles conseguem equilibrar a energia frenética característica das aventuras de Asterix com momentos de comédia mais sutis e até um pouco de melancolia. A escolha da animação 3D, embora tenha sido recebida com alguma resistência por puristas dos desenhos animados tradicionais, acabou enriquecendo a visualidade, tornando as cenas de ação mais dinâmicas e a própria “Terra dos Deuses” um espetáculo visual impressionante. Apesar do estilo CGI, a animação não perde o toque caricato que é a marca registrada da série.

O roteiro, assinado por Albert Uderzo, René Goscinny e o próprio Alexandre Astier, consegue atualizar a fórmula clássica de forma inteligente. A sátira ao consumismo e à cultura romana é atual e perspicaz, embora talvez um pouco menos mordaz do que em algumas das histórias em quadrinhos. Não é uma adaptação fiel em todos os aspectos, mas captura o espírito da saga de forma satisfatória. As atuações de voz (na versão original francesa) são excelentes, com o elenco entregando performances cheias de energia e talento cômico. Roger Carel como Astérix, por exemplo, continua a ser a voz definitiva do herói gaulês.

O filme, no entanto, não está isento de falhas. Algumas piadas caem um pouco planas e o ritmo pode se mostrar um pouco irregular em alguns momentos. A transição entre a estética dos quadrinhos originais para a animação 3D não é perfeitamente harmoniosa, gerando, em algumas passagens, uma sensação levemente artificial. No entanto, esses pequenos defeitos são facilmente perdoáveis em vista das qualidades do filme.

Asterix e o Domínio dos Deuses é mais do que uma simples aventura animada para toda a família. Ele explora temas universais de resistência à opressão, preservação da identidade cultural e o poder da amizade e da comunidade. A mensagem final, em meio a toda a comédia e ação, é sutil, porém poderosa: a verdadeira força reside não na submissão, mas na preservação da individualidade e na luta contra a uniformização.

Em 2025, olhando para a cena da animação 3D, que avançou significativamente desde 2014, Asterix e o Domínio dos Deuses se mantém como um exemplar interessante. A escolha do 3D, criticada na época por alguns (como apontam alguns trechos de críticas que li), demonstra hoje uma escolha visionária, um reflexo das novas tendências da animação que se consolidaram nos últimos anos. Não é uma obra-prima absoluta, mas é um filme divertido, inteligente e visualmente cativante que entretém e, ao mesmo tempo, instiga a reflexão. Recomendo fortemente para famílias, amantes de animação e, claro, para todos os fãs da saga Asterix. Vale a pena assistir, ou rever, em plataformas digitais.