Aterrorizada

Aterrorizada: Um retorno de Carpenter que assombra mais pela promessa do que pela entrega

Dezesseis anos se passaram desde 2010, ano em que John Carpenter, mestre do terror, nos presenteou com Aterrorizada. Um retorno após um hiato considerável, a obra prometia um mergulho de volta no universo sombrio e claustrofóbico que o consagrou, mas, infelizmente, fica aquém da expectativa criada em torno do nome do diretor. O filme acompanha Kristen (Amber Heard), uma jovem encontrada ferida e desorientada próxima a uma casa em chamas, internada em um hospital psiquiátrico onde descobre que não está sozinha em sua luta pela sobrevivência e pela sanidade.

A sinopse, por si só, evoca o clima de suspense psicológico que permeia o longa. A ambientação claustrofóbica do hospital psiquiátrico, com suas longas sombras e corredores escuros, é trabalhada com maestria, explorando a atmosfera tensa inerente ao gênero. O roteiro, escrito pelos irmãos Shawn e Michael Rasmussen, tenta criar um mistério envolvendo a verdadeira natureza da internação de Kristen e os eventos que culminaram em sua situação. A trama se desenvolve através de flashbacks fragmentados e vislumbres perturbadores, tentando manter o público na ponta da cadeira.

No entanto, é aqui que reside um dos principais problemas do filme. A construção da narrativa se torna, por vezes, confusa e pouco eficiente. O ritmo oscila entre momentos de suspense palpável e outros de lentidão excessiva, prejudicando o impacto geral da trama. A tentativa de desvendar o mistério se mostra atropelada, com revelações que, em vez de surpreenderem, deixam uma sensação de insatisfação.

Apesar das falhas no roteiro, a direção de John Carpenter demonstra ainda o seu talento nato para criar atmosfera. A utilização da fotografia e da trilha sonora contribuem para construir uma atmosfera opressiva e eficaz, embora não tão memorável como em seus trabalhos anteriores. A escolha de Amber Heard para o papel principal é curiosa. Ela apresenta uma performance convincente, transmitindo a fragilidade e a luta interna de Kristen, mas sua atuação não chega a ser memorável. O restante do elenco, com Mamie Gummer e Danielle Panabaker, cumpre seu papel sem grandes destaques.

Os pontos fortes de Aterrorizada se concentram, sobretudo, na construção de seu cenário: o hospital psiquiátrico torna-se um personagem à parte, impondo-se como um elemento perturbador e ameaçador. A exploração de temas como a fragilidade mental, a manipulação e a busca pela verdade são pontos relevantes na trama, embora não sejam explorados com a profundidade que mereciam. A cena pós-créditos, um recurso comum no gênero, insinua um possível desdobramento da história, deixando uma pontinha de esperança para uma sequência, embora, após 15 anos, isso pareça improvável.

Porém, as fraquezas do filme se sobressaem. O roteiro previsível e as reviravoltas pouco impactantes prejudicam consideravelmente a experiência. A ausência de sustos genuínos e a falta de uma narrativa coesa tornam o filme, no fim, um trabalho mediano, muito aquém do que se espera de um mestre do gênero como John Carpenter.

Em suma, Aterrorizada é um filme que decepciona, principalmente por não atingir o potencial que a sinopse e o nome do diretor prometiam. Apesar de apresentar alguns momentos de tensão e suspense, a trama confusa e a falta de impacto emocional o tornam um trabalho esquecível na filmografia de Carpenter. É um filme assistível, mas certamente não é uma obra-prima do terror, e eu dificilmente o recomendaria. A menos que você seja um grande fã de Carpenter, e mesmo assim, com ressalvas. A nostalgia pode ser um veneno perigoso. Avaliação: 2,5 de 5 estrelas. Recomendo procurar outros títulos em plataformas de streaming antes de investir tempo nesse.