Terrifier 2

Terrifier 2: A Dança Macabra que Assombra (e Deixa Marcas)

Dois anos e meio se passaram desde que assisti a Terrifier 2 nos cinemas – uma experiência que, até hoje, me acompanha em alguns pesadelos agradavelmente perturbadores. O longa-metragem, lançado em 29 de dezembro de 2022 no Brasil, se estabeleceu como um fenômeno cult de terror, e com razão. É um filme que não se preocupa em agradar a todos, e essa ousadia é justamente o que o torna tão fascinante e, por vezes, desconcertante.

A trama, sem grandes spoilers, acompanha o retorno de Art the Clown, um palhaço assassino ressuscitado por forças sobrenaturais, que aterroriza duas irmãs durante a noite de Halloween. O que se segue é uma orgia de violência visceral, uma experiência sensorial que ultrapassa os limites do gênero, desafiando a sensibilidade do espectador e deixando uma marca indelével.

Damien Leone, que também assina o roteiro, demonstra uma habilidade notável na direção. A construção da tensão é magistral, os momentos de suspense são impecáveis e a coreografia das cenas violentas é tão precisa quanto grotesca. Leone não se esquiva de mostrar a brutalidade de Art, e isso, apesar de chocante para alguns, é essencial para o sucesso do filme. Ele consegue equilibrar o gore extremo com momentos de humor negro e até mesmo breves instantes de humanidade, tornando Art the Clown um ícone memorável no panteão dos vilões do cinema de terror. Sua interpretação, nas mãos de David Howard Thornton, é simplesmente brilhante. Thornton transcende o papel de um simples palhaço assassino; ele encarna a pura maldade, a crueldade sem limites, e faz isso com uma performance tão convincente que quase o torna palpável. O restante do elenco, apesar de às vezes um pouco deslocado em meio ao frenesi, cumpre seu papel com decoro, especialmente Lauren LaVera e Elliott Fullam como as irmãs Sienna e Jonathan.

Entretanto, Terrifier 2, apesar de suas muitas qualidades, não é perfeito. Concordo com alguns críticos que afirmam que o filme se perde em alguns momentos, com sequências de sonho (ou pesadelo) que, embora esteticamente interessantes, parecem alongar desnecessariamente a narrativa. A duração do filme, certamente, poderia ser mais enxuta. A exploração de temas mais profundos, além da violência gratuita, poderia ter acrescentado profundidade, embora eu entenda a escolha estética do diretor por uma abordagem mais visceral e pura.

Os pontos fortes, no entanto, sobressaem. A maquiagem e os efeitos especiais são impecáveis, criando uma atmosfera de horror real e profundamente perturbador. A trilha sonora contribui para a construção da tensão, realçando os momentos de suspense e horror. O filme demonstra, acima de tudo, coragem e audácia. Em tempos de fórmulas batidas e produções previsíveis, Terrifier 2 é uma lufada de ar fresco – ou, talvez, um sopro de ar fétido e sangrento, dependendo do seu ponto de vista. A produção independente, financiada por crowdfunding, reflete em sua alma o espírito DIY e a liberdade criativa. O filme abraça o gore com entusiasmo, sem se esconder e sem pedir desculpas, e isso é algo que precisa ser apreciado e reconhecido.

Em sua essência, Terrifier 2 é uma celebração extrema do terror slasher, uma ode ao grotesco e ao macabro. Não é um filme para os fracos de estômago, mas para aqueles que buscam uma experiência cinematográfica desafiadora e inesquecível, ele se torna uma opção imperdível. Aquele “during credits stinger” é a cereja do bolo – e uma promessa assustadora para o futuro da franquia. Recomendo Terrifier 2 sem hesitar aos amantes do terror extremo, mas aviso: prepare-se para uma experiência intensa e marcante. Se você é do tipo que se assusta facilmente com um simples palhaço, talvez seja melhor procurar outro filme. Mas se você se deleita com a violência e o gore explícito, com a capacidade de um filme realmente te chocar, então este filme foi feito para você.