O Caso Belle Steiner

Sabe, tem certas histórias que grudam na gente antes mesmo de a tela acender. Histórias que prometem desenterrar a frágil linha que separa a normalidade da tragédia, e nos fazem questionar o quão bem realmente conhecemos as pessoas ao nosso lado. O Caso Belle Steiner, o mais recente de Benoît Jacquot, que chegou aos cinemas neste ano de 2025, é exatamente isso. Uma experiência que se instala na pele e não solta.

Eu sempre tive um fascínio por thrillers que não se contentam com a mera caça ao culpado, mas que mergulham nas águas turvas da psique humana. Aqueles que nos obrigam a olhar para dentro, para nossas próprias sombras e para as rachaduras que se formam nos alicerces das relações mais sólidas. E O Caso Belle Steiner me pegou nesse lugar, logo de cara. Não é um filme que se entrega fácil; ele te convida a um jogo de espera, de observação, de suposições silenciosas.

Imagine você, vivendo sua rotina, suas certezas, e de repente, BOOM! Um evento brutal irrompe, não num beco escuro, mas dentro do seu próprio santuário. Isso é o que acontece com Pierre (Guillaume Canet) e sua esposa, Cléa (Charlotte Gainsbourg). Uma vida tranquila, construída com esmero, desmorona quando a filha de uma amiga do casal é encontrada morta na casa deles. E o pior? Pierre era a única pessoa presente no local. De repente, o marido, o amigo, o homem comum, vira o rosto da suspeita. É um cenário que, só de pensar, já causa arrepios, não é? A ideia de ter seu mundo virado do avesso por algo que aconteceu sob seu teto, sob sua suposta proteção.

Guillaume Canet, no papel de Pierre, é um labirinto de indecisões e silêncios. Ele não grita, não esperneia; ele se encolhe, se encolhe sob o peso dos olhares que o questionam, até o seu próprio reflexo na janela parecer um juiz implacável. Você vê a perplexidade nos seus olhos, o cansaço que se acumula nos ombros, a cada cena ele parece um pouco mais acossado. E o mais interessante é que Jacquot não nos dá respostas fáceis. A ambiguidade na performance de Canet é brilhante, nos fazendo oscilar entre a compaixão e uma pontinha de desconfiança – afinal, ele estava lá, e a menina não. Essa dança entre inocência e culpa é a espinha dorsal do filme, e Canet a personifica com uma sutileza que é quase dolorosa de assistir.

AtributoDetalhe
DiretorBenoît Jacquot
RoteiristasJulien Boivent, Benoît Jacquot
ProdutoresPhilippe Carcassonne, Marie-Jeanne Pascal
Elenco PrincipalGuillaume Canet, Charlotte Gainsbourg, Patrick Descamps, Jérémie Covillault, Anne-Lise Heimburger
GêneroThriller, Drama
Ano de Lançamento2025
ProdutorasMacassar Productions, Ciné-@, Artémis Productions, Caneo Films

E Charlotte Gainsbourg, como Cléa, é a outra ponta dessa navalha afiada. Não é um amor que se desfaz em fumaça de um dia para o outro; é um tecido que rasga devagar, fio a fio, a cada pergunta não dita, a cada hesitação nos olhos do homem que ela jurou conhecer. A Cléa de Gainsbourg é uma mulher que luta para manter a fachada, para se agarrar à imagem de um marido que ela ama, mas que, no fundo, talvez não reconheça mais. Seus olhos carregam o peso de um mundo que se despedaça, de uma lealdade que é testada até o limite da sua resistência. É uma atuação contida, mas que fala volumes sobre a dor, a dúvida e a devastação silenciosa. O trabalho de apoio de atores como Patrick Descamps, Jérémie Covillault e Anne-Lise Heimburger completa o quadro, cada um contribuindo com nuances que solidificam o universo complexo da trama.

Benoît Jacquot, com sua direção precisa e roteiro co-escrito com Julien Boivent, não nos joga em sustos baratos. Ele nos puxa para um abismo psicológico, onde o maior terror não está no sangue, mas no silêncio que paira, nas sombras que se estendem pelos cômodos familiares que agora parecem estranhos. A câmera dele é quase um observador intrusivo, sentindo o ar pesado, a poeira que se assenta sobre as verdades não ditas. Não há grandes orquestrações musicais para nos manipular; o som ambiente, os passos no assoalho, o suspiro de um personagem, tudo isso constrói uma atmosfera de opressão sutil, mas constante. A produção, liderada por Philippe Carcassonne e Marie-Jeanne Pascal, com o apoio de produtoras como Macassar Productions e Artémis Productions, entregou um visual austero, porém elegante, que sublinha o drama.

E que dizer sobre a verdade? É fascinante como um filme pode nos fazer duvidar de tudo. O Caso Belle Steiner não é só sobre encontrar um culpado; é sobre o que a suspeita faz com as relações humanas. Como você continua olhando nos olhos de alguém que ama quando a menor das dúvidas se aninha no seu peito? Esse é o verdadeiro drama aqui, essa erosão da confiança que é mais devastadora do que qualquer condenação judicial. É sobre o luto, sim, mas também sobre o luto de uma vida que jamais será a mesma.

Quando as luzes se acendem no cinema, a gente não sai leve. Não há uma catarse fácil. Saímos com um nó na garganta, repensando sobre as camadas da existência, sobre os segredos que guardamos e sobre a sorte (ou azar) que nos coloca em situações sem volta. Jacquot nos oferece um espelho, e o que vemos nem sempre é bonito, nem sempre é preto no branco.

Então, sim, O Caso Belle Steiner não é um filme para quem busca respostas mastigadas. É para quem aceita o convite de habitar o desconforto, de sentir na pele a tensão que desestrutura uma vida aparentemente perfeita. E nesse território cinzento, Jacquot e sua equipe entregam um trabalho que, mesmo que nos deixe um tanto… desassossegados, é inegavelmente potente. É uma obra que fica com você, ecoando em seus pensamentos, questionando suas próprias certezas muito depois de os créditos rolarem. Vale a pena a experiência, se você tiver coragem de olhar para o abismo.

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