Benediction: Um Retrato Intimista e Inquieto de Siegfried Sassoon
Terence Davies, cineasta conhecido por seu olhar contemplativo e sua capacidade de extrair poesia do cotidiano, entrega com Benediction um filme biográfico sobre o poeta Siegfried Sassoon que, apesar de algumas imperfeições, se destaca pela força de sua interpretação e pela honestidade brutal com que aborda a complexidade da vida de seu protagonista.
O filme acompanha a trajetória de Sassoon, desde sua experiência traumática na Primeira Guerra Mundial até seus relacionamentos amorosos e sua luta por identidade em um contexto social profundamente repressivo. Sem revelar detalhes cruciais da trama, podemos dizer que Benediction é uma jornada através da mente e do coração de um homem atormentado, marcado pela guerra e pela opressão social. A sinopse nos promete drama, história e, claro, uma imersão profunda na vida de um ícone literário. E entrega, mesmo que de forma talvez um tanto irregular.
Davies, que também assina o roteiro, escolhe um ritmo deliberado, quase contemplativo, que funciona tanto a favor quanto contra o filme. Há momentos de beleza visual arrebatadora, sequências que parecem pinceladas de poesia em movimento. A fotografia capta a atmosfera da época com maestria, transportando o espectador para as trincheiras da Primeira Guerra e para os salões elegantes da alta sociedade britânica. Por outro lado, esse mesmo ritmo lento pode, em alguns momentos, se mostrar um pouco arrastado, exigindo do espectador uma paciência considerável.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Terence Davies |
Roteirista | Terence Davies |
Produtor | Michael Elliott |
Elenco Principal | Jack Lowden, Peter Capaldi, Simon Russell Beale, Jeremy Irvine, Calam Lynch |
Gênero | Drama, História, Guerra |
Ano de Lançamento | 2021 |
Produtoras | BBC Film, Creative England, EMU Films, Reiver Pictures, M.Y.R.A. Entertainment, Lipsync Productions |
O elenco é impecável. Jack Lowden, como o Sassoon mais jovem, e Peter Capaldi, na fase adulta, entregam performances poderosas, retratando as nuances da personalidade de Sassoon com grande sensibilidade. A química entre Lowden e os atores que interpretam seus amantes, como Simon Russell Beale (Robbie Ross) e Jeremy Irvine (Ivor Novello), é palpável, adicionando camadas de profundidade emocional à narrativa. A composição de conjunto, aliás, merece destaque. Cada ator secundário parece cuidadosamente escolhido para contribuir para o quadro maior, construindo um retrato vivo e complexo da sociedade britânica da época.
Apesar de seu talento, Davies não está imune a alguns deslizes. Como observado em alguns trechos de críticas que li, o filme pode, de fato, se mostrar um pouco “desordenado” em sua estrutura. Há momentos em que a narrativa parece pular de um período da vida de Sassoon para outro sem uma transição perfeitamente fluida. Entretanto, mesmo essa “desordem” parece, de certa forma, refletir a própria natureza fragmentada da memória e da experiência humana, que são temas centrais do filme.
Benediction é um filme sobre guerra, sim, mas também sobre amor, perda, identidade e a busca por significado em um mundo em constante mudança. A exploração da temática LGBT na década de 1910, e o impacto desta nas escolhas e sofrimento de Sassoon, é tratada com sensibilidade e sem concessões à época. É uma história de coragem, mas também de fragilidade. É um filme que permanece na mente muito depois dos créditos finais, instigando reflexões sobre o passado e sobre a nossa própria busca por autenticidade.
Recomendo Benediction a todos os apreciadores de cinema autoral, que buscam uma experiência cinematográfica mais profunda, e menos preocupada com a fórmula hollywoodiana de narrativa. Não é um filme para todos, mas para aqueles dispostos a mergulhar na complexidade emocional da obra, a recompensa é imensa. É um retrato íntimo e inquietante, que nos convida a refletir sobre a beleza e a dor da condição humana, e sobre o legado duradouro de um poeta excepcional.