Blade Runner 2049

Sabe, há certas obras que chegam até nós com um peso quase sísmico. E, para mim, poucas sequências carregaram uma responsabilidade tão colossal quanto Blade Runner 2049. Digo isso porque o Blade Runner original, de 1982, não era apenas um filme; era um marco, uma profecia visual e filosófica que redefiniu a ficção científica e nos fez questionar a própria essência do que significa ser humano. Então, quando soube que Denis Villeneuve assumiria a batuta para uma continuação, uma mistura de excitação e apreensão me invadiu. Poderia um filme ousar tocar nesse pilar? Anos depois, em 2025, posso dizer com a clareza da retrospectiva: sim, e como tocou.

Entrar no mundo de 2049 é como mergulhar de cabeça em um sonho febril, mas estranhamente familiar. Trinta anos se passaram desde a jornada de Deckard, e o futuro distópico de Los Angeles é ainda mais sombrio, mais encharcado de chuva e néon. As ruas, antes vibrantemente caóticas, agora parecem pulsantes com uma melancolia operária, uma espécie de resignação tecnológica. A imensidão visual é de tirar o fôlego, quase opressora, transformando cada quadro em uma pintura em movimento que fala de solidão em meio à multidão, de uma civilização que, por mais avançada que seja, parece ter perdido algo vital. É um universo que te abraça com seu frio, seu cinza e seus flashes de luz que mal conseguem perfurar a escuridão incessante.

No centro desse futuro melancólico, encontramos K, interpretado com uma quietude hipnotizante por Ryan Gosling. K não é apenas um “caçador de androides” – um blade runner –, ele é um replicante, um modelo mais novo, projetado para obedecer, para caçar e “aposentar” os modelos mais antigos. A vida dele é uma rotina programada, pontuada pela solidão e por um relacionamento agridoce com Joi (Ana de Armas), uma inteligência artificial holográfica que preenche seu apartamento espartano com cor e, de certa forma, com afeto. A complexidade do laço entre K e Joi, especialmente naquela cena de intimidade que desafia as convenções, já valeria um ensaio à parte. É uma tentativa desesperada de conexão em um mundo que se fragmenta, um vislumbre de humanidade para alguém que sequer sabe se a possui.

A verdadeira jornada de K começa quando ele desenterra um segredo que ameaça a frágil ordem da sociedade – algo que tem o potencial de virar de cabeça para baixo a distinção entre replicante e humano. Essa descoberta não é apenas um plot twist; é um soco no estômago existencial para K. Ele se vê obrigado a procurar Rick Deckard, o blade runner original, desaparecido há três décadas, numa busca que o leva pelas ruínas de Las Vegas, um cenário desolado de poeira e silêncio.

Atributo Detalhe
Diretor Denis Villeneuve
Roteiristas Hampton Fancher, Michael Green
Produtores Broderick Johnson, Cynthia Sikes, Bud Yorkin, Andrew A. Kosove
Elenco Principal Ryan Gosling, Harrison Ford, Ana de Armas, Dave Bautista, Robin Wright
Gênero Ficção científica, Drama
Ano de Lançamento 2017
Produtoras Alcon Entertainment, Columbia Pictures, Scott Free Productions, Bud Yorkin Productions, Torridon Films, 16:14 Entertainment

E é aí que Harrison Ford entra em cena, trazendo toda a bagagem e o cansaço de um personagem que viu e viveu demais. O encontro entre K e Deckard não é de mentores ou pupilos, mas de duas almas perdidas, cada uma em sua própria prisão de memórias e mistérios. Ford não apenas reprisa seu papel; ele o aprofunda, mostrando-nos um Deckard amargurado, mas ainda com um fogo teimoso em seus olhos, uma bússola moral que se recusou a ser apagada pelo tempo e pela desilusão.

Denis Villeneuve, com roteiro de Hampton Fancher e Michael Green, tinha a tarefa hercúlea de não apenas continuar uma história, mas de expandir seu universo temático e visual sem trair a essência do original. E ele consegue isso de forma audaciosa. O ritmo é deliberado, quase meditativo, permitindo que a atmosfera, os dilemas e as performances se infiltrem lentamente em nossa consciência. Não é um blockbuster de ação frenética; é um drama introspectivo embalado em uma estética cyberpunk deslumbrante. Questionamentos sobre genética, inteligência artificial e o futuro da humanidade são tecidos na própria estrutura do filme, sem didatismo, mas com uma profundidade que nos força a refletir.

Acho que o que mais me pega em Blade Runner 2049 é sua compaixão latente. Por trás de toda a frieza tecnológica e da distopia opressiva, há uma ode à busca por significado, por identidade, por um lugar no mundo – seja você um humano nascido de carne e osso, um clone feito sob medida ou uma inteligência artificial programada para sentir. A cena de Dave Bautista como Sapper Morton, por exemplo, é breve, mas carrega uma carga emocional que humaniza de forma impactante a figura do replicante. E Robin Wright, como Tenente Joshi, projeta uma autoridade cansada, uma figura que equilibra o pragmatismo com um toque de cuidado genuíno por K.

Este filme não é para ser apenas assistido; é para ser vivenciado. É uma tapeçaria rica e complexa que honra seu legado ao mesmo tempo em que se atreve a ir além, a perguntar novas perguntas e a nos deixar com uma sensação de admiração e inquietação. A jornada de K, de um caçador de recompensas a um ser em busca de sua própria verdade, é uma parábola poderosa sobre a condição humana na era da tecnologia, uma advertência e, paradoxalmente, um vislumbre de esperança. Blade Runner 2049 não apenas preencheu a enorme sombra projetada pelo original; ele esculpiu seu próprio espaço monumental na paisagem da ficção científica, e é um filme que continuará a ressoar em mim por muitos, muitos anos.

Trailer

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