Ah, Bravura Indômita. Sabe, de vez em quando, um filme nos abraça com a aspereza de uma lixa e, ainda assim, nos deixa com uma sensação de calor reconfortante. Não é sempre que uma história antiga consegue ser recontada com tanta vitalidade que parece nascer de novo, respirando o mesmo ar empoeirado, mas com uma pulsação totalmente diferente. É exatamente isso que Ethan e Joel Coen fizeram em 2010, e é por isso que, mesmo passados quinze anos, esta joia do faroeste ainda ecoa na minha mente.
Por que revisitar um clássico? Bom, porque a verdade, a vingança e a coragem têm nuances que se revelam de formas distintas em cada geração. No coração de Bravura Indômita reside a obstinação quase irreal de Mattie Ross, uma garota de 14 anos que, depois de perder o pai para a bala covarde do bandido Tom Chaney, decide que o luto não será um luxo, mas um combustível. Ela não chora; ela calcula, ela negocia, ela exige. Essa é a “bravura indômita” que dá nome ao filme e que, para mim, é a essência mais pura do Velho Oeste: a resiliência indomável diante da adversidade mais cruel.
Mattie, interpretada por uma Hailee Steinfeld que explode na tela com uma maturidade assustadora, não é uma heroína convencional. Ela é uma força da natureza em miniatura. Quando ela chega à cidade e contrata Rooster Cogburn, um xerife beberrão e de tapa-olho – um Jeff Bridges que se veste do personagem com a naturalidade de uma velha bota de caubói –, você sente que a dinâmica não será a típica de um mentor e sua protegida. Pelo contrário, ela é quem, de certa forma, “protege” o caçador de recompensas de si mesmo, ditando os termos, questionando as decisões, aguentando o tranco com uma dignidade que poucos adultos seriam capazes de exibir. A atuação de Bridges é um espetáculo de imperfeições – o álcool que embaça seus olhos, mas não sua mira; o temperamento explosivo que esconde um código de conduta próprio. Ele é Rooster Cogburn, um homem à beira da ruína, mas com faíscas de honra sob a superfície.
A essa dupla inusitada, junta-se LaBoeuf, um Texas Ranger interpretado por Matt Damon, que também busca Chaney, mas pela recompensa, não pela vingança pessoal. E é aí que a aventura realmente ganha camadas. Damon entrega um LaBoeuf que começa quase como uma caricatura de vaidade e bravata, mas que, ao longo da jornada por um Arkansas hostil, revela sua própria dose de coragem e lealdade. A química entre os três, especialmente as picuinhas verbais entre Mattie e Cogburn, e a tensão latente entre Cogburn e LaBoeuf, são o que elevam a narrativa de uma simples caçada a uma exploração complexa de caráter, confiança e redenção.
Atributo | Detalhe |
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Diretores | Ethan Coen, Joel Coen |
Roteiristas | Joel Coen, Ethan Coen |
Produtores | Ethan Coen, Joel Coen, Scott Rudin |
Elenco Principal | Jeff Bridges, Hailee Steinfeld, Matt Damon, Josh Brolin, Barry Pepper |
Gênero | Drama, Aventura, Faroeste |
Ano de Lançamento | 2010 |
Produtoras | Scott Rudin Productions, Mike Zoss Productions, Skydance Media, Paramount Pictures |
Os irmãos Coen, com seu toque inconfundível, transformam o material original (um romance que já havia virado filme) em algo que é ao mesmo tempo reverente e subversivo. O roteiro deles é afiado como uma lâmina, as palavras pesam, os diálogos são repletos de um humor seco e uma sabedoria mordaz. Não espere um faroeste romantizado; espere lama, suor, violência rápida e brutal, e uma paisagem desoladora que é, em si, um personagem. O trabalho dos Coen aqui é um testemunho de como uma adaptação pode honrar sua fonte enquanto infunde uma identidade completamente nova. Eles não nos contam que o ambiente é perigoso; eles nos mostram com cada rajada de vento gélido, cada passo falso em rios gelados, cada silêncio opressor antes da tempestade.
E Josh Brolin, como Tom Chaney, é a personificação da covardia e da selvageria que Mattie busca confrontar. Ele não é um vilão grandioso, mas um homem pequeno, impelido por sua própria malevolência. Sua presença, assim como a de Barry Pepper como Lucky Ned Pepper, é um lembrete constante da crueldade que permeava aquela era, e da linha tênue entre justiça e barbárie.
Bravura Indômita é mais do que um filme de aventura; é um drama sobre amadurecimento acelerado, sobre a perda de um ente querido e a busca quase bíblica por acerto de contas. É sobre como a lealdade pode nascer dos lugares mais improváveis e como o heroísmo nem sempre veste branco. Quando penso neste filme, penso na cena de Mattie galopando sozinha, determinada, com a vida de Cogburn em suas mãos – uma imagem de puro desafio e resiliência. É uma história que, quinze anos depois, ainda me faz questionar: o que você faria se sua vida desmoronasse e a única coisa que restasse fosse a sua própria vontade indômita? Que coragem você encontraria em si mesmo? E é por isso que, para mim, este faroeste dos Coen Brothers não é apenas um filme; é um lembrete poderoso da força do espírito humano.