Ah, o dilema do solteiro! Quem nunca se pegou em um fim de semana qualquer, talvez após mais um encontro desastroso ou uma noite de sexta-feira embalada apenas pelo ronronar do gato e o som da própria respiração, e pensou: “Cara, por que é tão difícil encontrar alguém? Será que só eu passo por isso?” Eu, sinceramente, já perdi a conta de quantas vezes essa reflexão bateu à minha porta, um lembrete meio agridoce da eterna busca. É por isso que, quando a Tondero nos trouxe Busco Namorada em 2022, senti um clique imediato. Não era só mais uma comédia; era um espelho, e um dos bons, que nos mostra que não estamos sozinhos nessa dança desajeitada que é a vida amorosa.
O filme, dirigido por Daniel Vega Vidal e com roteiro de Renato Cisneros, é o tipo de obra que a gente assiste e sente uma estranha mistura de vergonha alheia e um alívio quase catártico. É o diário íntimo de Renzo, interpretado com uma vulnerabilidade e um timing cômico que só César Ritter consegue entregar. Renzo não é o galã clássico dos filmes românticos, daqueles que desfilam autoconfiança e piadas prontas. Não, Renzo é a gente. Ele hesita, gagueja, tropeça nas próprias palavras e, mais importante, nos próprios sentimentos. Quando ele se flagra ensaiando frases de efeito diante do espelho, com uma expressão que oscila entre a esperança e o desespero, a gente não ri dele, mas com ele, porque já estivemos lá, cada um à sua maneira, tentando decifrar o manual invisível da conquista.
A trama, aparentemente simples — um homem solteiro que busca uma namorada — ganha camadas através da construção dos personagens e das interações. Lucía, a amiga de longa data de Renzo, vivida com uma doçura e uma sagacidade natural por Magdyel Ugaz, serve como seu porto seguro, mas também como um catalisador para que ele confronte suas próprias inseguranças. Ela o ouve, ela o repreende com carinho, ela representa a complexidade das relações que nem sempre se encaixam nas caixinhas de “amigo” ou “interesse romântico”. E quando Fiorella Pennano surge como Mariana, a gente percebe a labuta que é se abrir para o novo, os medos de repetir erros antigos, a dança delicada entre o querer e o proteger-se.
O que me prendeu em Busco Namorada não foi apenas o humor, que, diga-se de passagem, é afiado e bem colocado, sem cair no pastelão gratuito. Foi a forma como o filme lida com a dor de não encontrar. Aquele “com horror, com prazer” da sinopse resume bem a montanha-russa emocional que Renzo, e por tabela, o público, atravessa. O “horror” de se sentir inadequado, de ver a vida passar enquanto a busca continua; o “prazer” de descobrir que essa aflição é compartilhada, que a grande maioria de nós está, de alguma forma, tateando no escuro, tropeçando, se levantando e tentando de novo. É um prazer estranho, de uma solidariedade silenciosa.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Daniel Vega Vidal |
| Roteirista | Renato Cisneros |
| Produtor | Miguel Valladares |
| Elenco Principal | César Ritter, Magdyel Ugaz, Vadhir Derbez, Fiorella Pennano, Gustavo Bueno |
| Gênero | Comédia |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtora | Tondero |
Miguel Valladares, como produtor da Tondero, junto com a visão de Daniel Vega Vidal e o texto sagaz de Renato Cisneros, conseguiu criar um universo onde as falhas são charmosas e as tentativas frustradas são lições. Até mesmo o personagem de Gustavo Bueno, Ventoso, o sujeito mais velho e, presumo, com mais “experiência” de vida (e de fracassos, talvez?), oferece um contraponto divertido, um conselho às vezes equivocado, mas sempre com boas intenções. E Vadhir Derbez, com sua presença, adiciona mais uma pitada de tempero à essa salada de relações humanas, mostrando que nem tudo é como parece na superfície do flerte.
Depois de três anos desde seu lançamento, Busco Namorada ainda ressoa. É um daqueles filmes que você revisita e descobre novas nuances, novas frases que te fazem rir ou te dão um nó na garganta. Ele não promete uma fórmula mágica para o amor, nem sequer um final perfeitamente feliz no estilo Hollywoodiano. O que ele entrega é algo muito mais valioso: a sensação de pertencimento. A certeza de que nossas incertezas amorosas são universais, que nossos tropeços são válidos e que, no fim das contas, a busca é parte da jornada. E tá tudo bem nisso, né? A gente segue buscando, um filme de cada vez, um sorriso de cada vez.




