Chamando Jane: Um grito silencioso, mas poderoso, do passado
Confesso: quando me sentei para assistir “Chamando Jane” (2022), em uma tarde chuvosa de setembro de 2025, esperava um drama histórico competente, mas talvez um pouco previsível. Afinal, a temática do aborto ilegal nos anos 60 já foi explorada em diversas obras. Mas Phyllis Nagy, com sua direção sensível e ao mesmo tempo implacável, me surpreendeu. Este não é apenas um filme sobre aborto; é um grito silencioso, mas poderoso, sobre a luta pela liberdade feminina, pela solidariedade e pela coragem inabalável de mulheres que se recusaram a ser silenciadas.
A sinopse, sem spoilers, é simples: Chicago, 1960. Joy, uma dona de casa com uma gravidez inesperada e um problema cardíaco grave, encontra um grupo clandestino que oferece abortos seguros. A sua busca por ajuda a coloca no centro de um movimento secreto e transformador.
Nagy, com um roteiro bem construído por Hayley Schore e Roshan Sethi, evita o maniqueísmo. Não há vilões caricatos, apenas um sistema opressor que impõe suas regras sobre corpos e vidas femininas. A direção é impecável, construindo uma atmosfera de tensão e sigilo que se equilibra perfeitamente com a delicadeza dos relacionamentos entre as personagens. A escolha estética, que privilegia tons mais suaves e uma fotografia que captura a atmosfera da época, contribui significativamente para a imersão do espectador.
O elenco é de tirar o chapéu. Elizabeth Banks, no papel principal, entrega uma performance visceral e comovente. Ela transmite com maestria a vulnerabilidade de Joy, sem abrir mão de sua força e determinação. Sigourney Weaver, como a enigmática Virginia, líder do grupo, é simplesmente magnífica. Seu ar de autoridade contida e sua capacidade de transmitir sabedoria e compaixão simultaneamente são hipnotizantes. O restante do elenco, incluindo Chris Messina, Wunmi Mosaku e Kate Mara, completa o quadro com atuações igualmente sólidas.
Atributo | Detalhe |
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Diretora | Phyllis Nagy |
Roteiristas | Hayley Schore, Roshan Sethi |
Produtores | Claude Amadeo, Michael D'Alto, Lee Broda, Kevin McKeon, David M. Wulf, Robbie Brenner |
Elenco Principal | Elizabeth Banks, Sigourney Weaver, Chris Messina, Wunmi Mosaku, Kate Mara |
Gênero | Drama, História |
Ano de Lançamento | 2022 |
Produtoras | Ingenious Media, Unburdened Entertainment, Redline Entertainment, FirstGen Content, RB Entertainment, Our Turn Productions, LB Entertainment, Roadside Attractions |
Entretanto, o filme não é isento de pontos fracos. Algumas passagens podem parecer um pouco lentas para os espectadores acostumados a narrativas mais ágeis. E, embora o filme evite o sentimentalismo excessivo, alguns momentos poderiam ter sido explorados com mais profundidade emocional, sem perder o equilíbrio delicado que a diretora construiu.
“Chamando Jane” transcende a sua temática central. Ele fala sobre a importância da escolha, sobre o poder da sororidade e sobre a luta constante pela igualdade de gênero. A mensagem é clara: as mulheres sempre lutaram, e sempre lutarão, pelos seus direitos, mesmo em meio à adversidade e à ilegalidade. A obra também nos relembra a importância de conhecermos a história, para evitar que erros do passado se repitam no futuro.
Após sua estreia em 2022, “Chamando Jane” recebeu uma recepção majoritariamente positiva pela crítica, embora alguns tenham apontado para a mencionada lentidão em partes da narrativa. No entanto, a força da atuação e o impacto emocional do filme parecem ter superado qualquer ressalva.
Em conclusão, “Chamando Jane” é um filme essencial, que merece ser visto e discutido. Se você busca um drama histórico bem construído, com atuações excepcionais e uma mensagem poderosa, não hesite. A jornada de Joy e das mulheres do grupo “Jane” é uma lição de história e um apelo à reflexão sobre a importância da luta por direitos fundamentais. Recomendo fortemente sua exibição em plataformas de streaming, e acredito que ele continuará relevante por muitos anos como um retrato tocante e necessário de um período crucial da luta feminina pelos seus direitos reprodutivos.