Catarina, a Menina Chamada Passarinha: Uma Comédia Medieval que Decola (e Cai)
Dois anos se passaram desde a estreia de Catarina, a Menina Chamada Passarinha, e a lembrança daquela experiência ainda me persegue. Não como um fantasma, mas como uma melodia um tanto desafinada, ora encantadora, ora irritante. O filme, dirigido e roteirizado por Lena Dunham, prometia uma comédia de aventura medieval com uma protagonista espirituosa, e em parte, cumpre a promessa. Mas, como a própria Catarina, o filme é um tanto imprevisível, flutuando entre momentos brilhantes e outros francamente desajeitados.
A sinopse é simples: Lady Catarina, apelidada de Passarinha, uma jovem rebelde na Inglaterra do século XIII, luta contra a vontade da família de arranjar um casamento para ela. Seu espírito independente e sua inteligência afiada a colocam em rota de colisão com seus pais e, mais importante, com um pretendente particularmente repulsivo. A trama segue esse conflito central, salpicada de aventuras e momentos de comédia, e, claro, com um toque daquela rebeldia juvenil tão deliciosa de assistir.
A direção de Dunham é, para dizer o mínimo, peculiar. Há uma estética que se esforça por ser vibrante e divertida, mas que, em alguns momentos, se torna excessivamente estilizada, distraindo do núcleo da história. Há momentos de beleza visual, sem dúvida, mas a direção parece às vezes mais interessada em criar uma atmosfera do que em guiar o fluxo narrativo de maneira coesa.
Atributo | Detalhe |
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Diretora | Lena Dunham |
Roteirista | Lena Dunham |
Produtores | Tim Bevan, Eric Fellner, Jo Wallett |
Elenco Principal | Bella Ramsey, Billie Piper, Andrew Scott, Lesley Sharp, Joe Alwyn |
Gênero | Aventura, Comédia |
Ano de Lançamento | 2022 |
Produtoras | Working Title Films, Good Thing Going, Amazon Studios |
O roteiro, também de Dunham, sofre de um problema similar. Há piadas brilhantes, diálogos inteligentes e momentos de verdadeira graça. Mas a narrativa se sente às vezes apressada, saltando entre os pontos de trama sem desenvolver personagens secundários com a profundidade necessária. A construção do vilão, por exemplo, deixa a desejar, tornando-o caricato demais, perdendo a oportunidade de explorar a complexidade de um relacionamento tão crucial.
Apesar dos problemas de roteiro e direção, o elenco se sai maravilhosamente. Bella Ramsey, como a própria Passarinha, brilha. Ela captura perfeitamente a dualidade da personagem: a força interior combinada com a vulnerabilidade inerente à sua idade. Billie Piper, Andrew Scott e Lesley Sharp oferecem um contraponto forte, dando vida a uma galeria de personagens complexos e, por vezes, surpreendentes. Joe Alwyn, como Tio George, adiciona um toque de charme à trama.
Os pontos fortes do filme residem, sem dúvida, em sua protagonista. A jornada de Catarina é cativante, e a mensagem sobre a importância da independência feminina e a luta contra as convenções sociais ressoa com força. O filme, apesar de seus defeitos, tece uma trama sobre a busca pela identidade e autodeterminação, temas atemporais que mantêm o filme relevante, mesmo dois anos após seu lançamento.
Por outro lado, a inconsistência narrativa é um obstáculo significativo. A falta de foco e a transição abrupta entre os eventos minam a imersão e o impacto emocional da história. A comédia, embora tenha seus momentos altos, também falha em ser consistente, alternando entre gags eficazes e piadas que caem completamente por terra.
Em resumo, Catarina, a Menina Chamada Passarinha é uma experiência cinemática desigual. É um filme que se atreve a ser diferente, mas que não consegue sempre equilibrar sua ambição com a execução. Recomendo-o para aqueles que apreciam filmes independentes com um toque de rebeldia e uma protagonista carismática. Se você busca uma comédia medieval impecável, talvez seja melhor procurar em outra direção. Mas se está disposto a encarar as imperfeições, pode encontrar em “Catarina” uma joia escondida com um coração valente e uma mensagem forte.