Desde que me entendo por gente, as histórias contadas através da animação sempre me cativaram. Há algo mágico em ver mundos impossíveis ganharem vida, em testemunhar emoções complexas desenhadas em cores vibrantes. É essa paixão inata que me leva a revisitar filmes como Cats e a Gatolândia, uma joia chinesa de 2018 que, à primeira vista, pode evocar um senso de familiaridade, mas que guarda um coração pulsante de humanidade sob sua pelagem felina.
Eu sei o que você deve estar pensando. Um pai que precisa se aventurar para salvar o filho que se perdeu em uma busca por um lugar místico? “Isso não me parece familiar?”, talvez você se pergunte, comparando-o a certa jornada marinha por aí. E sim, você não está completamente errado. Cats e a Gatolândia (ou ‘Cats and Peachtopia’, no original) não reinventa a roda do enredo de aventura familiar. Mas, quer saber? Às vezes, o conforto do familiar, quando executado com alma e esmero, pode ser exatamente o que precisamos. A genialidade, muitas vezes, não reside na originalidade absoluta da trama, mas na forma como ela é contada, nos personagens que nos conquistam e nas nuances que nos fazem refletir sobre a nossa própria vida.
Acompanhamos Bolota, um pai-gato que, para ser gentil, poderíamos chamar de… erm, extremamente caseiro. Preguiçoso seria um termo mais acurado, confesso. Sua vida se resume a sonecas sob o sol e, provavelmente, evitar qualquer esforço desnecessário. Mas o amor, esse bicho esquisito, tem a capacidade de nos tirar das mais confortáveis zonas de conforto. Quando seu filho, o jovem Pipoca, decide ir em busca de uma terra mística conhecida como o “Jardim Mágico” – um lugar de lendas e maravilhas infantis –, Bolota é forçado a abandonar seu estilo de vida sedentário. E é aqui que a verdadeira jornada começa, não apenas a de Pipoca em busca de um sonho, mas a de Bolota em busca de si mesmo e de seu filho.
A animação da Light Chaser Animation Studios é, sem dúvidas, um dos pontos altos. As paisagens são deslumbrantes, com cores que explodem na tela, criando um mundo tão convidativo quanto perigoso. Os pelos dos gatos parecem tão macios que quase podemos senti-los, e a fluidez dos movimentos nos transporta diretamente para o centro da ação. O “Jardim Mágico”, quando finalmente vislumbrado, cumpre sua promessa visual, um espetáculo que faz valer cada passo da árdua jornada. O diretor e roteirista Gary Wang nos presenteia com um universo rico em detalhes, onde cada folha e cada sombra contribuem para a imersão.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Gary Wang |
Roteirista | Gary Wang |
Produtores | Ye Yuan, Zhou Yu, Mayank Jhalani |
Elenco Principal | Yang Yanduo, Chen Linsheng, 周華健, Dermot Mulroney, Vladimir Caamaño |
Gênero | Animação, Família, Aventura |
Ano de Lançamento | 2018 |
Produtora | Light Chaser Animation Studios |
Mas o que realmente me fisgou foi a profundidade dos personagens, especialmente a transformação de Bolota. A voz de Dermot Mulroney, que empresta sua entonação ao preguiçoso Bolota (Blanket, em inglês), carrega um cansaço tão palpável no início do filme, que sua eventual transição para um pai destemido se torna ainda mais impactante. Você sente cada suspiro dele, cada relutância, mas também a crescente determinação que só o amor incondicional pode acender. É uma performance que mostra, em vez de apenas contar, a evolução de um personagem que nunca achou que seria capaz de tanto.
E não posso deixar de mencionar a participação vocal do周華健 (Wakin Chau), que interpreta o enigmático 弹琴猫 (The Music Cat). Sua presença adiciona uma camada de mistério e sabedoria à narrativa, com uma voz que embala e acalenta, como as cordas de seu instrumento. E o Male Antelope, dublado por Vladimir Caamaño? Uma adição surpreendente e deliciosa, que quebra a tensão com momentos de humor e uma perspectiva inesperada no meio daquela selva de emoções felinas.
No fim das contas, Cats e a Gatolândia transcende a mera cópia. É uma ode ao amor paterno, à capacidade de superação e à busca por aquilo que realmente importa. Sim, o mapa da jornada pode até nos ser familiar, mas o terreno que esses personagens percorrem, as emoções que os movem e as paisagens que os cercam, ah, essas sim, são novas a cada passo. O filme nos lembra que, às vezes, a maior aventura está em enfrentar nossos próprios medos e em ir além dos nossos limites, tudo por aqueles que amamos. E quem de nós nunca se sentiu assim, compelido por um amor que nos impulsiona para o desconhecido? É essa a magia sutil de Cats e a Gatolândia, um filme que, apesar de sua sinopse familiar, consegue nos tocar e nos fazer ronronar de satisfação.