A volta para casa pode ser um inferno: uma resenha de “Crônicas do Sol”
Sete anos. Sete anos se passaram desde que “Crônicas do Sol” (2018) invadiu minhas noites com sua trama intrincada e personagens tão cativantes quanto irritantes. Revisitá-la em 2025, reavivou memórias e me permitiu uma análise mais madura dessa produção francesa que, na época, dividiu opiniões. A sinopse é simples: Claire, após dezessete anos longe, retorna a Montpellier com seu filho, Théo, e se vê envolvida na acusação de assassinato de um amigo de infância. Daí pra frente, um turbilhão de segredos de família, relacionamentos complexos e reviravoltas dignas de um bom vinho francês – às vezes, um tanto enjoativos, admito.
A série se sustenta na aura misteriosa que cerca Claire, interpretada com maestria por Mélanie Maudran. Ela consegue transmitir, com poucos gestos, a fragilidade e a força de uma mulher lutando contra um passado que a persegue. O mesmo não se pode dizer de algumas outras atuações; ainda que o elenco como um todo seja competente, alguns personagens secundários – principalmente na dinâmica familiar – se perdem em roteiros pouco inspirados, quase que caricatos. E é aqui que reside um dos pontos fracos da série: a escrita, apesar de criar um clima de suspense eficaz, se perde em subplots desnecessárias que, ao invés de aprofundar a narrativa, a diluem. Muitas vezes, a trama se torna confusa, com saltos temporais e mudanças de foco que prejudicam a imersão do espectador.
Apesar dessas falhas, “Crônicas do Sol” brilha em sua direção. A série demonstra um cuidado especial na construção da atmosfera de Montpellier, que se torna um personagem a parte, quase que um comparsa silencioso, testemunha dos segredos e das tragédias que se desenrolam. A fotografia, repleta de tons quentes e sombras sugestivas, contribui para criar uma estética visualmente rica, capaz de prender a atenção mesmo durante os momentos mais lentos. A trilha sonora também merece destaque, escolhendo com precisão os momentos de tensão e os instantes de melancolia.
Atributo | Detalhe |
---|---|
Criadores | Olivier Szulzynger, Eline Le Fur, Cristina Arellano, Stéphanie Tchou-Cotta |
Elenco Principal | Mélanie Maudran, Emma Colberti, Moïse Santamaria, Yvon Back, Benjamin Bourgois |
Gênero | Soap |
Ano de Lançamento | 2018 |
Produtoras | France Télévisions, Epeios Productions, France.tv Studio |
Os temas explorados pela série são clássicos das novelas policiais francesas: a busca pela verdade, a redenção, o peso do passado. Mas, ao contrário de muitos trabalhos do gênero, “Crônicas do Sol” não se esquiva de abordar a complexidade das relações humanas, explorando as múltiplas nuances da culpa, do perdão e da vingança. A série consegue, em seus melhores momentos, criar empatia com personagens moralmente ambíguos, nos mostrando que nem sempre o bem e o mal são tão facilmente definidos.
Entretanto, a série se alonga demais. A trama poderia ter sido resolvida em menos episódios, sem perder sua essência. Esse excesso de episódios contribui para a sensação de repetição e previsibilidade, principalmente nas últimas temporadas. A produção de France Télévisions, Epeios Productions e France.tv Studio, embora bem realizada visualmente, sofre com a inconsistência na escrita, que ora te prende, ora te deixa sonolento.
No fim das contas, “Crônicas do Sol” é uma série irregular. Se você procura uma trama policial complexa e cheia de reviravoltas, sem se importar com alguns desvios de roteiro, pode valer a pena dar uma chance. Para aqueles que buscam uma narrativa impecável do início ao fim, talvez seja melhor procurar outra opção nas plataformas digitais. Vale a pena assisti-la em 2025 se você busca uma experiência de “guilty pleasure”, uma daquelas séries que você sabe que tem defeitos, mas que de alguma forma te cativam. A recomendação é condicional, dependendo da sua tolerância a certas inconsistências narrativas.