O cheiro de jasmim, o calor úmido de uma noite de formatura no Texas e aquela sensação agridoce de que o futuro é uma tela em branco, mas também um abismo. Quem nunca sentiu isso? Aquele ponto de virada onde uma única decisão, um “sim” ou um “não”, parece ter o poder de redefinir toda a sua existência? É essa corda bamba existencial que me puxou para Como Seria se…?, um filme que, desde seu lançamento em 2022, não me sai da cabeça, e que hoje, em 2025, ainda ecoa em cada encruzilhada pessoal. Não é só um filme, tá? É quase um espelho, daqueles que te obrigam a encarar as mil versões de si mesmo que poderiam ter sido.
A premissa é daquelas que agarram a gente pela gola da camisa: Natalie Bennett, interpretada pela talentosíssima Lili Reinhart, está ali, na noite da sua formatura da faculdade. Um rito de passagem, um limbo entre o que foi e o que será. E então, um teste de gravidez. Um objeto tão pequeno, mas com o poder de implodir e recriar mundos. É aqui que Wanuri Kahiu, a diretora com uma visão tão nítida quanto sensível, e April Prosser, a roteirista que costura a vida em nós, decidem que a história de Natalie não seguirá um caminho linear. Pelo contrário, ela se divide. Uma linha do tempo onde o teste é positivo, outra onde é negativo. E aí, meu amigo, o balé da vida começa em dobro.
Em uma realidade, Natalie se vê em uma jornada inesperada com Gabe (Danny Ramirez). É um amor que nasce sob a pressão de uma responsabilidade imensa, um romance que precisa amadurecer a fórceps, mas que, paradoxalmente, encontra beleza e verdade nas fissuras. Aqui, o drama e o romance se entrelaçam de um jeito que faz a gente sentir o peso e a leveza de cada escolha. A Lili Reinhart, olha, ela não só interpreta uma personagem; ela encarna duas almas distintas, mas profundamente conectadas pela mesma essência. A forma como seu olhar muda, a postura dela ao carregar a barriga crescente em uma realidade, versus a leveza de quem explora as próprias ambições na outra, é de um primor que te faz esquecer que é a mesma atriz.
Do outro lado da moeda, temos Natalie vivendo uma vida sem a gravidez. Ela persegue seus sonhos profissionais, muda-se para Los Angeles, e o romance acontece com Jake, vivido por um David Corenswet que exala carisma e uma promessa de futuro. Esta realidade é mais tingida pela comédia romântica clássica, com seus altos e baixos, as descobertas sobre o amor e a carreira, e a liberdade de quem decide o próprio rumo sem uma interrupção tão brusca. É interessante como a Aisha Dee, como Cara, a melhor amiga, funciona como uma âncora e um catalisador em ambas as realidades, oferecendo apoio e também uns empurrões necessários. E a Andrea Savage, como Tina Bennett, a mãe da Natalie, é aquele ponto de apoio familiar que, mesmo com suas próprias expectativas, tenta equilibrar-se entre o desejo de ver a filha feliz e a realidade crua.
Atributo | Detalhe |
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Diretora | Wanuri Kahiu |
Roteirista | April Prosser |
Produtores | Bryan Unkeless, Eric Newman, Jessica Malanaphy |
Elenco Principal | Lili Reinhart, Danny Ramirez, David Corenswet, Aisha Dee, Andrea Savage |
Gênero | Romance, Drama, Comédia |
Ano de Lançamento | 2022 |
Produtoras | Screen Arcade, CatchLight Studios |
O que Como Seria se…? faz tão bem é não romantizar uma escolha em detrimento da outra. Não existe um “final feliz” unânime. Ambas as Natalies enfrentam desafios, descobrem alegrias inesperadas e aprendem sobre si mesmas e sobre o amor. É aí que reside a verdadeira nuance da produção da Screen Arcade e CatchLight Studios, sob a batuta de Bryan Unkeless, Eric Newman e Jessica Malanaphy. Eles nos convidam a ponderar: o que define uma vida plena? É a carreira dos sonhos? É a família que se constrói? Ou é a forma como lidamos com o inesperado, com a maneira como nos adaptamos e crescemos, independentemente do caminho que a vida nos joga? Não é sobre ter a resposta certa, mas sobre a coragem de viver cada uma das suas opções com inteireza.
A direção de Wanuri Kahiu merece um capítulo à parte. Ela consegue manter as duas narrativas fluidas, sem que uma ofusque a outra. Há uma sensibilidade visual em como ela diferencia os mundos de Natalie – talvez um tom mais quente e caseiro para a vida com Gabe, e um mais vibrante e urbano para a de Jake. Pequenos detalhes que mostram, sem precisar dizer, a atmosfera de cada escolha. E o roteiro da April Prosser evita os clichês fáceis. As conversas parecem reais, as piadas encaixam e os momentos de silêncio são tão eloquentes quanto os diálogos mais intensos. Você sente o nervosismo da Natalie ao esperar um telefonema importante, o abraço apertado de uma mãe compreensiva, o riso leve em um momento de pura conexão.
Passados três anos desde sua estreia no Brasil, em 17 de agosto de 2022, Como Seria se…? permanece uma joia que merece ser (re)descoberta. É um filme que não só entretém, mas que te faz pensar. Te faz revisitar suas próprias decisões, os “e se?” que permeiam a sua história. E isso, para mim, é o maior presente que uma obra cinematográfica pode nos dar: a chance de olhar para dentro, de sentir e de nos reconectarmos com a complexidade maravilhosa de ser humano. É uma dramédia que nos lembra que a vida é um emaranhado de começos e recomeços, e que a beleza está justamente na jornada, não importa quantas delas você acabe vivendo.