Crescer é Muito Chato

A Inevitável Ameaça da Realidade em Crescer é Muito Chato

Lembro-me claramente do burburinho em torno do cinema “screenlife” há alguns anos. A inovação prometia nos mergulhar em narrativas contadas inteiramente através de telas de computador, celulares e tablets, uma linguagem que se tornou quase uma segunda natureza para a nossa geração. Em 2022, quando Crescer é Muito Chato chegou às plataformas digitais, eu estava, admito, um tanto cético. Outro filme nesse formato? Será que ele realmente teria algo a dizer ou seria apenas um truque estilístico? Dois anos depois do seu lançamento original – e aqui estamos nós, em setembro de 2025 – me vejo revisitando esta obra de Ilyssa Goodman com uma perspectiva renovada e, devo dizer, um apreço surpreendente.

Crescer é Muito Chato não é apenas um título provocativo; é um lamento, uma constatação agridoce da transição da infância para a dura realidade. O filme nos apresenta Annie (interpretada com uma sensibilidade efervescente por Cree Cicchino), uma garota que, após o divórcio de seus pais, vê seu mundo virar de cabeça para baixo. Seu maior desejo é simples e universal: voltar para sua antiga escola, seus amigos em Nova Jersey, para a vida que conhecia. Diante da oportunidade que parece perfeita, Annie arquiteta um plano ambicioso para fazer com que seus pais, agora separados, se apaixonem de novo. O que se desenrola, claro, é um lembrete cruel de que a vida raramente segue o roteiro que escrevemos para ela.

O que me fisgou neste drama, e o que o diferencia de muitos de seus contemporâneos no subgênero “found footage” ou “screenlife”, é a maestria com que a diretora Ilyssa Goodman, também coroteirista ao lado de Ashley Peter, utiliza a limitação inerente ao formato a seu favor. Não é um artifício; é a própria essência da narrativa. Goodman nos coloca diretamente dentro do universo digital de Annie. Vemos suas chamadas de vídeo com amigos e familiares, suas pesquisas no Google, suas mensagens de texto, seus diários online. Essa imersão não é apenas um truque visual; ela reflete a forma como muitas crianças e adolescentes hoje processam o mundo, como constroem suas realidades e suas fantasias dentro das fronteiras de suas telas.

AtributoDetalhe
DiretoraIlyssa Goodman
RoteiristasIlyssa Goodman, Ashley Peter
ProdutoresТимур Бекмамбетов, Vicky Petela, Adam Sidman
Elenco PrincipalCree Cicchino, Gavin Warren, Ashley Judd, Maria Canals-Barrera, Emily Skinner
GêneroDrama
Ano de Lançamento2022
ProdutoraMarVista Entertainment

A Força da Tela e a Fragilidade da Infância

O roteiro de Goodman e Peter é uma pérola de autenticidade. Ele captura a voz juvenil sem cair no caricato, o desespero de uma criança que não entende por que seu mundo se desfez e a determinação ingênua de tentar consertá-lo. A escolha do formato screenlife amplifica essa intimidade. Testemunhamos as reações cruas de Annie, não através de tomadas cinematográficas tradicionais, mas através da lente de sua própria webcam, das mensagens que ela digita e apaga, da música que ela ouve para abafar o barulho do mundo. É um voyeurismo permitido, que nos convida a sentir a solidão e a esperança da protagonista.

Cree Cicchino é uma revelação como Annie. Sua performance é o coração pulsante do filme. Ela consegue transmitir uma gama impressionante de emoções – da irritação adolescente à profunda tristeza e à centelha de esperança – tudo através de uma tela, muitas vezes sem a presença física de outros atores. Não é fácil roubar a cena quando sua “cena” é, literalmente, a interface de um computador. Gavin Warren, como Christian, o irmão de Annie, também entrega uma atuação competente, complementando a dinâmica familiar. A presença de nomes como Ashley Judd e Maria Canals-Barrera (que interpretam os pais, embora seus personagens específicos não sejam explicitados no material original, suas atuações conferem o peso dramático necessário às figuras parentais) e Emily Skinner é um testamento à qualidade do projeto, adicionando uma camada de maturidade e experiência que ancoram a montanha-russa emocional de Annie.

Os pontos fortes do filme são inegáveis. A direção de Ilyssa Goodman transforma o que poderia ser uma barreira em uma vantagem. O formato found footage/screenlife não apenas é justificado, mas essencial para a temática. Os produtores, incluindo o notável Тимур Бекмамбетов – um dos grandes evangelistas e pioneiros do gênero screenlife – junto a Vicky Petela e Adam Sidman da MarVista Entertainment, claramente entenderam o potencial dessa abordagem. O filme se sente visceral e atual. Os temas centrais, como o divórcio e seus impactos devastadores na vida infantil, a nostalgia por um passado que não retorna, e a inevitabilidade e, sim, o quão chato pode ser crescer e enfrentar a realidade, são universais e tocantes. A mensagem é clara: por mais que tentemos controlar o fluxo da vida, há forças maiores que nos empurram para a frente, para o desconhecido, para o amadurecimento.

Se há um ponto fraco, talvez seja a própria natureza do screenlife que, para alguns espectadores, pode gerar uma certa fadiga visual ou a sensação de distanciamento, especialmente para aqueles que preferem uma cinematografia mais tradicional. É um estilo que exige uma certa adaptação, um ajuste na forma de assistir e processar a história. No entanto, para quem se entrega, a recompensa é uma experiência singularmente imersiva e emocionalmente ressonante.

Crescer é Muito Chato transcende a curiosidade tecnológica para se firmar como um drama genuíno e comovente. Ele nos lembra que a dor da mudança é uma parte intrínseca do desenvolvimento e que, por mais que tentemos, não podemos forçar o mundo a se encaixar em nossas fantasias infantis. A realidade, por mais “chata” que seja, tem a sua própria beleza e as suas próprias lições.

Conclusão: Uma Recomendação com Ressalvas Necessárias

Em resumo, para o público que está aberto a experimentar narrativas fora do convencional e que valoriza a exploração de temas humanos profundos através de lentes inovadoras, Crescer é Muito Chato é um filme que merece ser descoberto (ou redescoberto, caso você o tenha deixado passar em 2022). É uma obra que prova que a inovação tecnológica no cinema pode, sim, servir à emoção e à verdade. É um convite à reflexão sobre a infância perdida, os sonhos despedaçados e a resiliência necessária para seguir em frente. Recomendo este longa-metragem para qualquer pessoa que já sentiu o peso do amadurecimento e que aprecia uma boa história contada de uma forma não tão convencional. Prepare-se para uma jornada emocional intensa, cheia de risadas nervosas e lágrimas silenciosas. Porque, sim, crescer é muito chato, mas este filme definitivamente não é.

Trailer

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