Você já parou para pensar naqueles filmes que, de cara, já te dão um frio na espinha pelo absurdo da premissa? Não no sentido de terror existencial, mas naquela ‘eita, como é que isso vai dar certo?’ que te prende pela curiosidade mórbida. Essa é a minha eterna fascinação pelos chamados “filmes de criatura”, e é exatamente essa pulsação que me puxou para as profundezas lamacentas de Croc!, lançado lá em 2022. Não é todo dia que a gente se depara com um crocodilo furioso atormentando um casamento numa mansão Tudor no interior da Inglaterra, né? E é justamente essa improbabilidade que o torna tão… irresistível para um crítico como eu.
Imagine a Inglaterra. Não a Londres vibrante, mas o interiorzão, sabe? Aquela paisagem bucólica que parece tirada de um livro de Jane Austen, onde a maior ameaça costuma ser uma xícara de chá mal servida ou, quem sabe, um escândalo discreto. Pois bem, nesse cenário idílico e completamente fora do lugar, Lisa e Charlie estão a postos para o grande dia, o casamento perfeito na Mansão Tudor. O que eles não contavam, nem em seus pesadelos mais bizarros, é que um certo réptil gigante e mal-humorado tinha outros planos para a festa. E é aqui que Croc! morde, ou tenta morder, a gente.
Paul W. Franklin, que assina tanto a direção quanto o roteiro, parece ter abraçado essa premissa com um piscar de olhos, uma piscadela cúmplice para quem entende o que ele tá tentando fazer aqui. Não é um terror de arrepender os cabelos, nem de te deixar semanas sem dormir. É um terror de conceito, daquele que joga um elemento completamente alienígena num ambiente doméstico e vê o caos se instalar. Franklin brinca com essa dissonância, e a mansão, em vez de ser um refúgio, vira um labirinto mortal, um palco para o bicho-papão escamoso. O ritmo do filme oscila entre a construção da tensão e o estouro abrupto dos ataques, mas nunca perdendo de vista a diversão inerente ao seu próprio absurdo.
No centro desse pandemônio, temos um elenco que se vira nos trinta para vender a situação. Sian Altman, como Lisa King, a noiva que vê seu dia perfeito desmoronar, navega por esse pesadelo com uma mistura de pânico genuíno e uma certa teimosia que a gente até entende. Não é fácil ser noiva quando o que te persegue não é a sogra, mas um crocodilo gigante, né? Mark Haldor, como Dylan ‘Bruiser’ King, e George Nettleton, interpretando Charlie, trazem a dose necessária de heroísmo relutante e, por que não dizer, um pouco de desespero masculino. Chrissie Wunna, como Vanessa, e Beatrice Fletcher, como Georgie, completam o quadro de vítimas e sobreviventes em potencial, cada uma reagindo ao ataque de maneira que, dentro da lógica do filme, faz algum sentido para os seus personagens. Não espere atuações dignas de Oscar, mas espere performances que compreendem a tonalidade do projeto: um terror B que se leva a sério o suficiente para te engajar, mas com a autoconsciência de que está fazendo algo divertido.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Paul W. Franklin |
Roteirista | Paul W. Franklin |
Produtores | Scott Chambers, Rhys Frake-Waterfield |
Elenco Principal | Sian Altman, Mark Haldor, George Nettleton, Chrissie Wunna, Beatrice Fletcher |
Gênero | Terror |
Ano de Lançamento | 2022 |
Produtora | Jagged Edge Productions |
E não podemos falar de Croc! sem mencionar a Jagged Edge Productions, com Scott Chambers e Rhys Frake-Waterfield na produção. Esses nomes já são quase sinônimo de um certo tipo de cinema de gênero: descarado, corajoso, e muitas vezes deliciosamente, uhm, econômico. Eles têm um certo “know-how” em levar um conceito ao limite, mesmo que a corda nem sempre aguente o peso da ambição. Em Croc!, essa filosofia se traduz em um filme que não se esconde de suas origens de baixo orçamento, mas as abraça. Os efeitos visuais do nosso antagonista réptil podem não ser os mais realistas que você já viu – a gente sabe que, lá no fundo, está assistindo a um crocodilo bem digital –, mas a maneira como o filme orquestra seus ataques e a ameaça constante que ele representa, muitas vezes fora de quadro, compensa qualquer limitação técnica. É o velho truque de “mostrar menos e sugerir mais” funcionando a seu modo.
Ao final da sessão, a pergunta que fica é: Croc! cumpre o que promete? Se você espera uma obra-prima do terror que redefina o gênero, talvez seja melhor procurar outro lugar. Mas se você busca uma aventura de terror honesta, com um crocodilo gigante num cenário absurdamente inglês, um punhado de personagens simpáticos o suficiente para você torcer (ou não) e uma boa dose de sustos e risadas, então Croc! é um prato cheio. É aquele tipo de filme que você assiste com um sorriso meio torto no rosto, talvez comendo uma pipoca e comentando com quem está ao lado, mas que, na hora de dormir, faz você dar uma olhadinha extra debaixo da cama… só por garantia, né? Porque, afinal, se um crocodilo consegue invadir uma mansão Tudor, quem garante que ele não pode estar à espreita no seu quarto? É o encanto peculiar dos filmes de monstro que persistem em nos lembrar que o terror pode vir dos lugares mais inesperados e, sim, dos mais improváveis.