Ah, os filmes de criatura. Sabe, tem algo de primal neles que sempre me puxa. Talvez seja a memória infantil de espiar “Tubarão” por entre os dedos, ou a simples fascinação por predadores que nos lembram quão frágeis somos diante da natureza. Quando ouvi falar de Crocodilos: A Morte Te Espera – o “Black Water: Abyss” original, um título que já arrepia – uma pequena parte de mim, aquela que adora uma boa adrenalina e um suspense claustrofóbico, pulou de alegria. Afinal, um filme australiano sobre crocodilos em cavernas? É quase um subgênero em si, e Andrew Traucki, o diretor, já nos deu sustos memoráveis com “Black Water” e “The Reef”. A expectativa estava lá, como a maré alta se aproximando.
E por que escrever sobre ele agora, em 2025, anos depois de seu lançamento original e brasileiro? Porque, veja bem, algumas experiências cinematográficas, mesmo que não revolucionárias, deixam uma marca. E a luta pela sobrevivência, o confronto visceral do homem contra a natureza, é um tema que nunca envelhece. Este filme, com sua promessa de nos aprisionar em um labirinto subaquático infestado por répteis ancestrais, merecia um olhar mais atento, um mergulho mais profundo na sua essência e no impacto que causa – ou não.
A premissa, você há de concordar, é uma isca perfeita para os amantes do terror e da aventura. Um grupo de amigos, com o casal Jennifer (Jessica McNamee) e Eric (Luke Mitchell) no centro, decide explorar um sistema de cavernas remoto e inexplorado no coração da Austrália, lá no Território do Norte. Clichê? Talvez. Mas a tentação da aventura, a busca pelo desconhecido, é uma força poderosa, e quem de nós, em algum momento, não se deixou levar por ela? O problema é quando a aventura vira pesadelo. E quando uma tempestade implacável se aproxima, transformando o que era um refúgio natural numa armadilha de pedra e água, a tensão começa a escorrer pelas paredes da caverna antes mesmo que os crocodilos mostrem suas garras.
A direção de Andrew Traucki, como em seus trabalhos anteriores, busca construir o medo através da atmosfera e da situação, mais do que por sustos baratos. E, para ser justo, a claustrofobia é um elemento que ele explora com perícia. A caverna começa a encher, a visibilidade diminui, o espaço se torna cada vez mais apertado. Dá para sentir o aperto no peito, o ar rarefeito, a água gelada subindo lentamente. É nesse cenário de escuridão e desespero que o verdadeiro perigo se revela. Não é apenas a natureza selvagem da Austrália, mas seus habitantes mais temíveis: um grupo de crocodilos, tão ancestrais quanto as próprias pedras da caverna, que agora se tornam os senhores daquele mundo submerso.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Andrew Traucki |
Roteiristas | John Ridley, Sarah Smith |
Produtores | Michael Robertson, Neal Kingston, Pam Collis |
Elenco Principal | Jessica McNamee, Luke Mitchell, Amali Golden, Benjamin Hoetjes, Anthony J. Sharpe, Louis Toshio Okada, Rumi Kikuchi, Anna Kubat, Nicole Collett, Stu Kirk |
Gênero | Terror, Ação, Aventura |
Ano de Lançamento | 2020 |
Produtoras | Altitude Film Sales, Cornerstone Pictures, ProdigyMovies, Filmology Finance |
Jessica McNamee, como Jennifer, e Luke Mitchell, como Eric, tentam dar uma certa gravidade à situação, e o restante do elenco – Amali Golden como Yolanda, Benjamin Hoetjes como Viktor, Anthony J. Sharpe como Cash, Louis Toshio Okada como Akito e Rumi Kikuchi como Miyuki – esforça-se para personificar diferentes reações ao pânico. As atuações são… adequadas para o gênero. Não espere Oscar, mas há momentos de desespero genuíno que nos fazem questionar o que faríamos em uma situação dessas. A luta pela sobrevivência se torna uma dança brutal entre a inteligência humana e o instinto predatório, tudo sob a água que se recusa a recuar.
Contudo, é aqui que precisamos abraçar a nuance, como um bom crítico que sou. Aquela crítica da SWITCH, que mencionava “Crawl” (Predadores Assassinos) e “The Shallows” (Águas Rasas), acerta em um ponto crucial. Crocodilos: A Morte Te Espera tem todos os ingredientes para ser um filme tenso e assustador – um cenário isolado, predadores implacáveis, personagens vulneráveis. Mas, por alguma razão, ele não atinge a mesma ressonância visceral, o mesmo terror indomável que aqueles outros filmes conseguem. A profundidade emocional dos personagens, a capacidade de nos fazer realmente investir na sua sobrevivência, não é tão acentuada. O suspense é construído, sim, mas falta aquele golpe final, aquele soco no estômago que nos deixa sem fôlego.
Talvez seja o roteiro de John Ridley e Sarah Smith que, embora competente em montar a situação de crise, não aprofunda tanto as relações e motivações dos personagens, tornando suas mortes (ou a perspectiva delas) um pouco menos impactantes do que poderiam ser. Ou talvez seja a repetição de certas sequências subaquáticas que, depois de um tempo, perdem um pouco do seu poder de choque. O filme é um exercício decente em terror de criatura, mas não consegue transcender as convenções do gênero para se tornar algo verdadeiramente memorável. É como um mergulho em águas profundas: você vê coisas interessantes, sente o frio, mas a sensação de maravilha ou pavor absoluto não se mantém durante toda a jornada.
No final das contas, Crocodilos: A Morte Te Espera é um filme que entrega o que promete em termos de terror, ação e aventura, especialmente para quem não tem medo de um bom ataque animal. Ele nos lembra da brutalidade da natureza, da insignificância humana diante de forças primais. A produção da Altitude Film Sales, Cornerstone Pictures, ProdigyMovies e Filmology Finance fez um trabalho sólido em criar um ambiente imersivo, e as cenas subaquáticas, com a escuridão e os crocodilos espreitando, são eficazes. Mas se você busca algo que o mantenha à bebeira do assento do início ao fim, com personagens que você se importa profundamente, talvez a experiência possa parecer um pouco… molhada demais. Ainda assim, para uma noite de pipoca e sustos descompromissados, onde a morte te espera a cada curva escura da caverna, ele cumpre seu papel. Não é “Tubarão”, mas te faz pensar duas vezes antes de entrar em qualquer água escura. E, convenhamos, para um filme de crocodilos, isso já é uma vitória.