Dark Web: Cicada 3301: Uma Teia de Ambição que Nem Sempre Conecta
A internet, para muitos de nós, é um labirinto de mistérios e possibilidades. Mas há cantos dela que prometem mais do que meras interações sociais ou compras online; prometem segredos, sociedades ocultas e jogos de intelecto que desafiam a própria realidade. Dark Web: Cicada 3301, lançado originalmente em 2021 e chegando ao Brasil em 2022, tenta mergulhar de cabeça nesse universo fascinante, buscando transformar o infame enigma da “Cicada 3301” em uma experiência cinematográfica de ação, thriller e, surpreendentemente, comédia. E, devo dizer, o resultado é uma mistura tão variada quanto os gêneros que ele ousa abraçar.
O longa nos apresenta a Connor Black (Jack Kesy), um hacker brilhante, mas talvez um tanto desorientado, que se vê arrastado para um sofisticado jogo de recrutamento global por uma sociedade secreta da dark web. Ao seu lado, seu fiel e excêntrico melhor amigo Avi (Ron Funches) e uma astuta bibliotecária, Gwen (Conor Leslie), completam a equipe improvável que deve navegar por charadas complexas e perigos reais para sobreviver e, quem sabe, desvendar a verdade por trás da organização. A premissa, como se pode imaginar, é um convite irrecusável para qualquer fã de teorias da conspiração e desafios intelectuais.
A Visão do Polivalente Alan Ritchson
Atributo | Detalhe |
---|---|
Diretor | Alan Ritchson |
Roteiristas | Joshua Montcalm, Alan Ritchson |
Produtores | Alan Ritchson, D.J. Viola, Marc Bach, Carl Beyer |
Elenco Principal | Jack Kesy, Conor Leslie, Ron Funches, Alan Ritchson, Andreas Apergis |
Gênero | Thriller, Ação, Comédia |
Ano de Lançamento | 2021 |
Produtora | Lionsgate |
O que mais me chamou a atenção antes mesmo de apertar o play foi a figura de Alan Ritchson. Conhecido por seu porte físico imponente em papéis de ação, vê-lo não apenas atuar como o Agente Carver, mas também assinar a direção e o roteiro (ao lado de Joshua Montcalm) para o seu próprio projeto é algo que desperta minha curiosidade crítica. É uma aposta alta, um salto de fé para um artista que claramente tem uma visão a compartilhar. E, por um lado, essa ousadia é palpável na tela. Há momentos em que o filme brilha com uma energia contagiante, especialmente nas sequências de ação e na tentativa de construir um thriller moderno que se alimenta do nosso fascínio por segredos digitais.
No entanto, essa multiplicidade de papéis de Ritchson também parece ser a faca de dois gumes do projeto. A direção, em alguns momentos, exibe uma inexperiência que impede que a tensão se construa de forma orgânica. É como se a narrativa estivesse sempre apressada demais para a próxima peça do quebra-cabeça, sem dar tempo para o espectador realmente mergulhar na atmosfera de paranoia e intriga que um bom thriller de dark web exige. O roteiro, por sua vez, navega com dificuldade entre os tons. A intenção de mesclar thriller e ação com comédia é clara, e por vezes funciona, graças em grande parte à performance de Ron Funches. Mas em outras ocasiões, a comédia destoa, tirando a força de momentos que deveriam ser mais graves, ou vice-versa, deixando o espectador em um limbo tonal.
Elenco: Entre o Carisma e o Desperdício
Jack Kesy, no papel principal de Connor Black, tenta injetar complexidade em seu hacker. Ele tem o carisma necessário para carregar o filme, e sua jornada do cético ao participante relutante é um dos pilares da trama. Contudo, o roteiro nem sempre lhe dá material para ir além do arquétipo. Conor Leslie como Gwen, a bibliotecária, é um alívio. Ela traz uma inteligência e uma sagacidade bem-vindas, servindo como uma espécie de âncora racional no meio do caos digital.
Mas é Ron Funches quem realmente rouba a cena, e é aqui que o elemento comédia do filme encontra seu maior trunfo. Avi, o melhor amigo de Connor, é uma fonte constante de alívio cômico, e Funches entrega suas falas com uma naturalidade que torna seu personagem genuinamente engraçado e, surpreendentemente, empático. É ele quem, muitas vezes, mantém a leveza quando o filme ameaça se levar demasiado a sério ou se perde na complexidade das pistas da “online mobile game”. Alan Ritchson e Andreas Apergis, como os agentes Carver e Sullivan, cumprem seus papéis como a força antagônica, mas sem muito espaço para profundidade, servindo mais como catalisadores para a ação.
Temas e Mensagens: Superfície e Potencial Não Explorado
O filme aborda temas relevantes como hacking, a natureza elusiva da dark web e as implicações de sociedades secretas no mundo digital. As palavras-chave “hacking”, “online hookup” e “online mobile game” dão pistas claras sobre as ferramentas e o cenário. Há uma tentativa de explorar como a vida pessoal, o encontro online (“online hookup”) e a busca por conexão podem se cruzar com jogos de poder e recrutamento globais. Entretanto, a profundidade desses temas é frequentemente sacrificada em prol da próxima perseguição ou da próxima charada a ser resolvida. Sinto que o potencial de explorar as complexidades morais do hacking, a psicologia por trás da obsessão por enigmas ou os perigos reais da desinformação online não foi totalmente aproveitado. O filme prefere a emoção da caça à introspecção.
Veredito Final: Um Jogo que Vale a Pena Tentar, Mas Não Ganha o Grande Prêmio
Dark Web: Cicada 3301 é um filme que, apesar de suas falhas, me deixou com a sensação de ter assistido a uma boa intenção. Ele é um lembrete de que o cinema independente e os projetos ambiciosos que fogem do comum têm seu valor, mesmo que não atinjam todas as notas. As sequências de ação são decentes, a premissa é intrigante, e Ron Funches entrega uma performance que, sozinha, justifica parte do ingresso – ou do tempo de streaming, considerando que já estamos em 2025.
Para aqueles que buscam um thriller de ação leve, com toques de comédia e uma trama que bebe da fonte de mistérios da internet, este filme pode ser uma boa pedida para uma noite sem grandes expectativas. É imperfeito, sim, com uma direção que ainda está aprendendo a dançar em múltiplos gêneros e um roteiro que por vezes tropeça na própria ambição. No entanto, sua energia e a curiosidade inerente ao título podem mantê-lo engajado até o fim. Não espere um clássico, mas uma distração competente que tenta, e às vezes consegue, conectar os pontos de sua própria teia digital.