A Carne e o Neon: Uma Resenha sobre “O Demônio de Neon” (2016)
Nove anos se passaram desde que Nicolas Winding Refn nos presenteou com “O Demônio de Neon”, e a lembrança do filme, como um reflexo distorcido num espelho de mercúrio, continua a me assombrar. Não se trata de um filme fácil, nem agradável, mas sim de uma experiência visceral, uma imersão num universo de beleza tóxica e decadência glamourosa que permanece gravada na retina. A trama acompanha Jesse, uma jovem modelo que chega a Los Angeles sonhando com a fama e encontra um mundo cruel e predatório disfarçado de paraíso. A ascensão meteórica de Jesse é contrabalançada por encontros com personagens enigmáticas, entre elas a maquiadora Ruby, cujo papel na narrativa se revela aos poucos com nuances inquietantes.
Refn, como sempre, dirige com um estilo visual impactante. “O Demônio de Neon” é um tratado de estética, um banquete para os olhos repleto de cores vibrantes, néons hipnóticos e uma fotografia impecável que transforma Los Angeles numa cidade de sonhos e pesadelos. A trilha sonora, que também contribui para criar uma atmosfera única, intensifica o suspense e a tensão que permeiam o filme. A câmera dança ao redor das atrizes, explorando a beleza de cada uma e, ao mesmo tempo, as expondo a uma frieza gélida. É um trabalho de composição visual excepcional que transcende o terror e se aproxima da arte pura.
O roteiro, co-escrito por Refn, Mary Laws e Polly Stenham, é uma tapeçaria de obsessão, inveja e manipulação. Os diálogos são mínimos, mas extremamente eficazes em construir a atmosfera tensa e carregada de subtexto que permeia o filme. O filme utiliza o silêncio e a sugestão como armas poderosas, e não precisamos de longos discursos para entender a crueldade implícita em cada cena. As atuações são igualmente sólidas. Elle Fanning entrega uma performance sutil, construindo a fragilidade e a ambição de Jesse com uma naturalidade impressionante. Jena Malone é uma presença perturbadora como Ruby, enquanto o restante do elenco feminino, com Bella Heathcote e Abbey Lee, completa o quadro de rivalidade e competição feroz do mundo da moda.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Nicolas Winding Refn |
Roteiristas | Nicolas Winding Refn, Mary Laws, Polly Stenham |
Produtores | Lene Børglum, Sidonie Dumas, Vincent Maraval, Nicolas Winding Refn |
Elenco Principal | Elle Fanning, Karl Glusman, Jena Malone, Bella Heathcote, Abbey Lee |
Gênero | Terror, Thriller |
Ano de Lançamento | 2016 |
Produtoras | Wild Bunch, Gaumont, Space Rocket Nation, Vendian Entertainment, Bold Films |
Apesar de sua beleza visual hipnótica, “O Demônio de Neon” tem seus pontos fracos. Algumas sequências, na busca por um surrealismo extremo, podem soar gratuitas ou desconexas para alguns espectadores. A narrativa, embora eficaz em criar uma atmosfera de suspense, carece de uma resolução convencional, optando por uma conclusão ambígua que pode deixar o público dividido. A trama, em sua essência, é relativamente simples, mas a complexidade vem da forma como é apresentada.
O filme é um mergulho profundo na obsessão pela beleza, a superficialidade da indústria da moda e os perigos do narcisismo. A rivalidade feminina, a manipulação e a busca desenfreada pela fama são exploradas de forma visceral e perturbadora. Ele questiona nossa percepção de beleza e o preço que estamos dispostos a pagar por ela. Há uma crítica implícita, e talvez até mesmo subversiva, à cultura da imagem e à obsessão com a perfeição física. A violência gráfica, presente em algumas cenas, pode não ser para todos os estômagos.
Em resumo, “O Demônio de Neon” não é um filme para quem busca respostas fáceis. É uma experiência cinematográfica que exige uma atenção total, uma imersão completa no mundo de imagens e sensações que Refn criou. O longa é uma obra de arte perturbadora e fascinante, uma ode à beleza e à sua face mais sombria. A recepção em 2016 foi mista, mas a experiência visual e o teor subversivo do filme garantem que ele continue a ser apreciado – e debatido – anos depois de sua estreia. Se você busca um filme convencional, fuja. Se você aprecia cinema como experiência sensorial e está preparado para um mergulho no lado obscuro da beleza, então “O Demônio de Neon” é uma obra-prima que não deve ser perdida, disponível hoje em diversas plataformas de streaming. Recomendo fortemente, mas com o aviso explícito: assista com o estômago preparado.