A Fúria Silenciosa de Charles Bronson em Desejo de Matar
Cinquenta e um anos se passaram desde que Desejo de Matar (Death Wish, em sua versão original) estreou nos cinemas, em 1974, e mesmo em 2025, sua brutalidade contida e a aura de tragédia grega que o envolve continuam a me assombrar. Não se trata de um filme fácil de digerir, muito menos de celebrar, mas sua importância na história do cinema, e sua capacidade de provocar reflexões incômodas sobre justiça, vingança e a decadência urbana, permanecem inegáveis.
A trama acompanha Paul Kersey, um arquiteto nova-iorquino cuja vida pacata é brutalmente interrompida por um assalto violento em seu apartamento. O ataque deixa sua esposa morta e sua filha em estado crítico. A ineficácia da polícia e o desespero diante de um sistema falido levam Kersey a uma jornada sombria e, paradoxalmente, libertadora, transformando-o num vigilante que impõe sua própria forma de justiça nas ruas de Nova York.
Michael Winner, na direção, imprime uma frieza calculada. Não há aqui a exaltação gratuita da violência, comum em muitos filmes de ação contemporâneos. A câmera acompanha a transformação de Kersey com uma frieza quase documental, realçando o horror da situação e a crescente desesperança que o leva à violência. As cenas de violência são brutais, sim, mas pontuais, servindo mais como consequência do que como mero espetáculo. O roteiro, assinado por Wendell Mayes, Gerald Wilson e o próprio Winner, é funcional, mas eficaz em construir a atmosfera de tensão crescente e mostrar a gradual desumanização do protagonista. A cidade, em si, se torna um personagem, retratada como um cenário sombrio e implacável, palco de crimes e indiferença.
A atuação de Charles Bronson é, sem sombra de dúvidas, o coração do filme. Seu Kersey é um homem devastado, um vulcão à beira da erupção, que encontra na vingança uma forma – distorcida, é verdade – de lidar com a dor incomensurável. Bronson, com seu olhar gélido e sua presença física imponente, encarna a violência contida de Kersey com uma maestria impecável, transmitindo a complexidade de suas emoções por meio de gestos sutis e poucas palavras. A atuação de apoio, especialmente de Vincent Gardenia como o detetive Ochoa, também é memorável. Gardenia consegue humanizar o policial que persegue Kersey, criando um contraponto intrigante à espiral de violência do protagonista.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Michael Winner |
Roteiristas | Wendell Mayes, Gerald Wilson, Michael Winner |
Produtores | Bobby Roberts, Hal Landers, Dino De Laurentiis |
Elenco Principal | Charles Bronson, Hope Lange, Vincent Gardenia, Steven Keats, William Redfield |
Gênero | Crime, Drama, Ação |
Ano de Lançamento | 1974 |
Produtoras | Landers-Roberts Productions, The De Laurentiis Company, Scimitar Films, Paramount Pictures |
A grande força de Desejo de Matar reside em sua ambivalência. O filme não romantiza a violência. Pelo contrário, mostra as consequências devastadoras da vingança, a fragilidade da lei e a complexidade da justiça. Ao mesmo tempo, é impossível não se questionar sobre os limites da autodefesa em um sistema que falha em proteger seus cidadãos. É esta capacidade de provocar questionamentos morais, de colocar o espectador em um desconforto intelectual e emocional, que torna o filme tão impactante, mesmo depois de todas estas décadas.
Entre os pontos fracos, podemos apontar a previsibilidade de certos desdobramentos da trama. O tom quase impassível pode incomodar alguns espectadores que buscam mais ação visceral. No entanto, acredito que essa frieza seja exatamente o que torna o filme eficaz em sua intenção. A narrativa não se apressa em romantizar a vingança; ela a mostra em sua crua e desoladora realidade.
Desejo de Matar não é um filme para todos os gostos. Sua temática violenta e seu protagonista moralmente ambíguo podem causar incômodo. No entanto, para aqueles que apreciam dramas de suspense carregados de tensão e reflexões sobre a justiça, a sociedade e a natureza humana, este é um clássico atemporal que resiste ao teste do tempo, e que, se você tiver acesso através de plataformas digitais ou streaming, recomendo fortemente que você assista, apesar do que alguns consideram polêmicas que o cercam. O filme deixou sua marca no imaginário coletivo e continua a gerar debates até os dias de hoje, 2025, demonstrando sua importância duradoura no cenário cinematográfico.