Deu a Louca na História: O Filme

Sabe, há algo de profundamente sedutor em ver a história ser virada de cabeça para baixo. Aquelas aulas enfadonhas, repletas de datas e nomes que pareciam sair de um livro de receitas esquecido, ganham vida – e que vida! – quando a comédia entra em cena. É por isso que, mesmo passados alguns anos desde sua estreia no Brasil, em 06 de setembro de 2022, ainda me pego pensando em Deu a Louca na História: O Filme. Ele não é só um filme; é uma lufada de ar fresco que nos lembra que o passado pode ser tão divertido quanto instrutivo.

Lembro-me bem da primeira vez que ouvi falar da premissa. Um adolescente romano, um imperador megalomaníaco, uma exílio forçado para a Grã-Bretanha selvagem e, para completar, uma amizade improvável com uma Celta. Aí, a cereja do bolo: a inevitável invasão romana, colocando os novos amigos em lados opostos de um conflito épico. Se você, como eu, já foi fã daquela série de TV britânica que brinca com os fatos históricos de um jeito hilário, vai entender imediatamente a proposta aqui. É aquela irreverência esperta, aquela capacidade de nos fazer rir de coisas que talvez, em outros contextos, nos fariam apenas franzir a testa. E o filme, dirigido com uma energia contagiante por Dominic Brigstocke e roteirizado com uma sagacidade afiada por Jessica Swale, captura essa essência perfeitamente.

O coração dessa aventura é, sem dúvida, Sebastian Croft como Atti. Ele não é o herói musculoso de sandálias brilhantes que você esperaria de uma epopeia romana. Longe disso! Atti é um garoto meio desajeitado, um tanto arrogante, que se mete em encrenca com o Imperador Nero – e quem não se meteria, certo? Craig Roberts, no papel de Nero, é um verdadeiro deleite. Ele nos entrega um imperador que é, ao mesmo tempo, um tirano temperamental e um adolescente birrento, com um senso de drama digno de um palco. É uma performance que mostra a loucura de Nero sem precisar que ninguém nos conte que ele é louco. Seus olhos esbugalhados, seus surtos de egocentrismo… a gente sente a tensão, mas ri alto da absurdez.

Quando Atti é despachado para a distante e chuvosa Grã-Bretanha do século I, é aí que a verdadeira magia cômica e o charme familiar do filme desabrocham. Ele cruza caminho com Orla, interpretada por uma vibrante Emilia Jones, uma Celta espirituosa e destemida que representa tudo o que ele não é. A dinâmica entre eles é o fio condutor, uma dança de choque cultural e amizade em formação. Orla não treme diante do poderio romano; ela o desafia com a força de sua cultura e um sorriso maroto. As cenas dos dois tentando se entender, cada um preso em suas próprias percepções do mundo, são ouro puro para os gêneros comédia e família. É um “mostrar, não contar” clássico da amizade que nasce da adversidade.

Mas não são apenas os protagonistas que brilham. O elenco coadjuvante é um show à parte. Kate Nash, como a icônica Boudicca, entrega uma líder celta que exala força e carisma, mas também com um toque de humor seco que a torna incrivelmente humana. E Nick Frost como Arghus? Ah, ele é a dose extra de risadas, um personagem que consegue ser tanto bobo quanto surpreendentemente perspicaz em momentos-chave. A produção, com nomes como Altitude Film Entertainment e BBC Film por trás, demonstra um cuidado em recriar o mundo do Império Romano e das tribos Celtas com um olhar que é preciso o suficiente para ser reconhecível, mas flexível o bastante para as piadas funcionarem.

O que me prendeu a ‘Deu a Louca na História’ não foi apenas a comédia escrachada, que, por si só, já valeria o ingresso. Foi a forma como ele lida com a História. Em vez de simplesmente listar fatos, o filme nos convida a experimentar a Antiga Roma e as terras Celtas através dos olhos de jovens que estão vivendo esses momentos. É um lembrete sutil, mas poderoso, de que por trás dos grandes impérios e das legiões romanas, havia pessoas, com seus dramas, suas bobeiras e suas buscas por pertencimento. Ele não se esquiva de mostrar as contradições, a brutalidade de um exército invasor, mas o faz com a lente da sátira, tornando o tema acessível sem diminuir sua importância.

Ao final, Deu a Louca na História: O Filme é mais do que uma aventura infanto-juvenil. É um filme que ressoa porque nos lembra que a amizade pode florescer nos lugares mais inesperados, que a juventude é um período de descobertas e que, talvez, o jeito mais divertido de aprender sobre o passado seja dando uma boa gargalhada. É um convite para você, que talvez veja a história como algo distante e empoeirado, a mergulhar em um pedaço do Império Romano e dos Celtas do século I com um sorriso no rosto. E, honestamente, quem não precisa de mais sorrisos na vida?