Ah, o Departamento de Veículos Motorizados. DMV. Só de ouvir a sigla, sinto um leve calafrio na espinha, sabe? Aquela antecipação de filas intermináveis, formulários que parecem escritos em aramaico e a sensação de que você entrou em um limbo burocrático de onde talvez nunca saia. E é exatamente por isso que, quando soube que Dana Klein, a mente por trás de algumas comédias que realmente me pegaram, estava por trás de DMV, a nova série da CBS Studios e Kapital Entertainment, minha curiosidade acendeu feito um farol na neblina. Como se extrai comédia de um lugar que, para muitos, é a personificação da monotonia? É uma aposta audaciosa, e meu Deus, que aposta certeira foi essa.
Por que escrevo sobre DMV? Porque, como você e eu, eu já estive lá. Na cadeira dura, olhando o relógio, questionando as escolhas de vida que me levaram àquele momento. E ver essa experiência universalmente maçante ser transformada em algo tão hilário e, sim, surprisingly, humano, é um testemunho do poder da boa comédia. A série, que estreou este ano de 2025 e já está causando burburinho, não foge da realidade, ela a abraça com uma dose saudável de humor cínico e carinho genuíno.
A grande sacada de DMV é que, por trás daquele balcão, não existem apenas carimbos e regras. Existem pessoas. E que pessoas! O elenco é uma orquestra de talentos que consegue fazer o absurdo parecer a coisa mais natural do mundo. Colette, interpretada pela Harriet Dyer, é um bálsamo de otimismo mal disfarçado, a alma da equipe que tenta, com um sorriso teimoso, navegar pelo caos. Você a vê ali, na linha de frente, lidando com um cliente que insiste que seu animal de estimação (um lagarto) pode ser um copiloto, e a maneira como ela tenta manter a compostura, com um leve tremor na voz, é puro ouro. Não é só fala; é a expressão nos olhos dela que diz “eu já desisti umas mil vezes, mas estou aqui de novo”.
E falando em desisti, temos o Gregg do Tim Meadows. Ah, Gregg. Ele é a encarnação do funcionário público que já viu de tudo, duas vezes. O cinismo dele não é agressivo, é cansado, existencial. A piada não está no que ele diz, mas no como ele diz — ou na maioria das vezes, no como ele não diz nada, apenas levanta uma sobrancelha com uma intensidade que fala volumes. É como se a burocracia tivesse sugado sua alma há décadas e deixado apenas um mestre do sarcasmo passivo-agressivo. Lembro-me de uma cena onde um cidadão furioso exigia ser atendido “imediatamente”, e Gregg, sem mover um músculo, apontou lentamente para a placa que dizia “Tempo de Espera Estimado: 2 Horas”, com um olhar que parecia perguntar “você realmente acha que é o primeiro a tentar essa?”. A genialidade está nos detalhes, na pausa, no olhar que te convida a rir junto, ou talvez a chorar de identificação.
Atributo | Detalhe |
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Criadora | Dana Klein |
Elenco Principal | Harriet Dyer, Tim Meadows, Molly Kearney, Alex Tarrant, Tony Cavalero |
Gênero | Comédia |
Ano de Lançamento | 2025 |
Produtoras | CBS Studios, Kapital Entertainment, TrillTV |
Molly Kearney, como Barbara, é a força da natureza que quebra qualquer monotonia. Ela traz uma energia que, às vezes, parece vinda de outro planeta, mas que se encaixa perfeitamente no microcosmo do DMV. Alex Tarrant (Noa) e Tony Cavalero (Vic) completam essa galeria de personagens, cada um adicionando suas próprias camadas de excentricidade e coração. Noa, talvez o mais “normal” do grupo, serve como o ponto de referência para a loucura alheia, enquanto Vic é o tipo de colega que tem uma teoria da conspiração para cada carimbo oficial, e você nunca sabe se ele está falando sério ou apenas testando os limites da sua paciência.
Dana Klein tem um talento especial para pegar situações cotidianas e extrair delas tanto o riso quanto uma pitada de melancolia. Ela não pinta os funcionários do DMV como vilões desalmados, mas sim como humanos tentando fazer seu trabalho em circunstâncias muitas vezes impossíveis, lidando com o público em seu pior momento – afinal, ninguém está feliz em um DMV, né? Ela mostra as pequenas vitórias, as pequenas derrotas, as amizades improváveis que florescem no balcão ao lado. É uma comédia de local de trabalho que entende que o “trabalho” é apenas o pano de fundo para as vidas que se cruzam ali.
O ritmo da série é algo que me conquistou. Não é frenético, não tenta te afogar em piadas a cada cinco segundos. Há um fluxo natural, um vaivém entre o absurdo e o momento mais calmo, mais reflexivo. Frases curtas, diretas, alternam-se com divagações mais longas, criando uma cadência que me lembra uma conversa real, daquelas onde você e seus amigos estão divagando sobre as loucuras da vida. As transições entre as cenas são suaves, como a fila andando um pouquinho, imperceptivelmente.
DMV é mais do que apenas uma série sobre um escritório burocrático. É uma ode aos pequenos dramas e comédias que se desdobram em lugares onde menos esperamos. É um lembrete de que, mesmo nas situações mais tediosas e frustrantes, sempre há espaço para o riso, para a conexão humana e para uma pitada de esperança. Se você, como eu, precisa de uma boa gargalhada que também te faça pensar um pouco sobre a beleza (e a loucura) da vida cotidiana, eu te digo: dê uma chance a DMV. Você vai se surpreender. E quem sabe, talvez a próxima vez que você tiver que renovar sua carteira, você até solte um sorriso lembrando da Colette ou do Gregg. Eu, pelo menos, já estou contando os dias para os próximos episódios.