O que nos leva a sentar diante da tela para reviver as cicatrizes mais profundas da humanidade? Em um ano como 2025, onde a memória parece cada vez mais volátil, me pego refletindo sobre essa pergunta ao pensar em Dongji Rescue. Sabe, às vezes, um filme não é apenas um filme; é um grito, um sussurro de um passado que insiste em não ser esquecido. E com a quantidade de informações que chegam até nós a cada segundo, é raro algo realmente nos fisgar e nos manter presos, nos fazendo sentir o peso do que está sendo contado. Dongji Rescue fez exatamente isso comigo.
Desde o momento em que soube sobre a premissa deste drama de guerra, que mergulha nas águas gélidas de um dos episódios mais brutais da Segunda Guerra Mundial, o incidente do “Lisbon Maru”, senti um nó no estômago. Você deve se lembrar do documentário de 2023 do Fang Li sobre o tema – aquele cargueiro, lotado de prisioneiros de guerra britânicos, torpedeado por um submarino americano no Mar da China Oriental. A ironia cruel de um aliado inadvertidamente causando mais sofrimento… o cerne da tragédia já é dilacerante. Mas o que Dongji Rescue, sob a direção hábil de Guan Hu e 费振翔, faz é nos puxar para dentro desse inferno de uma forma que poucas produções conseguem.
O filme não te deixa à distância, observando o horror. Ele te coloca lá, sentindo o ar pesado, a esperança minguante e o desespero crescente dos mais de mil homens, cujas vidas estavam em jogo. É um mergulho em um mar de complexidades, onde as linhas entre herói e vítima, inimigo e sobrevivente, se esvaem. Não há espaço para o preto e branco quando se fala de sobrevivência nua e crua.
A maestria do roteiro de 董润年, Chen Shu, 张冀 e 费振翔 reside em como eles constroem esses personagens. Não são meras figuras históricas, mas gente de carne e osso, com seus medos, suas coragens e suas fraquezas. Pense em 朱一龙 como A Bi. Há uma quietude nele, um olhar que parece carregar o peso de um mundo inteiro. Você vê a determinação, mas também a exaustão, a dor não dita. É uma performance que se manifesta nos pequenos gestos: as mãos que tremem levemente ao tomar uma decisão impossível, a forma como ele protege os mais jovens, mesmo quando sua própria força parece falhar. Não é a atuação grandiloquente; é a profundidade silenciosa que te atinge.
Atributo | Detalhe |
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Diretores | Guan Hu, 费振翔 |
Roteiristas | 董润年, Chen Shu, 张冀, 费振翔 |
Produtores | Zhu Wenjiu, 梁靜 |
Elenco Principal | 朱一龙, 吴磊, 倪妮, 杨皓宇, 陈明昊 |
Gênero | Drama, História, Guerra |
Ano de Lançamento | 2025 |
Produtoras | The Seventh Art Pictures, Tao Piao Piao, Beijing Culture, Beijing Enlight Pictures, China Film Group Corporation |
E o que dizer de 吴磊 como A Dang? Ele traz uma energia mais crua, talvez a inocência perdida, o desespero juvenil que ainda não se resignou completamente. Você o vê se debatendo, buscando um sentido onde não há, e cada luta dele ressoa com a nossa própria capacidade de resistir. Já 倪妮, interpretando A Hua, é a personificação da resiliência em meio ao caos. Sua personagem não é apenas um raio de esperança; é a chama que se recusa a ser apagada, mesmo nas circunstâncias mais escuras. Ela não precisa de grandes discursos para mostrar sua força; basta um olhar, um ato de solidariedade, e você entende o universo de sua personagem. Yang Haoyu como Li Yuanxing e Chen Minghao como Mr. Chen, por sua vez, complementam esse elenco com atuações que, mesmo em papéis de apoio, são tão viscerais que ancoram a narrativa em momentos cruciais, adicionando camadas de humanidade e, por vezes, de uma necessária mas brutal ambiguidade moral.
Os diretores Guan Hu e 费振翔 não apenas contam uma história; eles criam uma experiência imersiva. A cinematografia é de tirar o fôlego e, ao mesmo tempo, claustrofóbica. Você sente o frio cortante do oceano, a falta de ar dentro do navio afundando, o cheiro de suor e medo. A trilha sonora, por sua vez, não serve apenas como um pano de fundo; ela se torna um personagem em si, pulsando com a angústia e os raros momentos de triunfo. As transições entre os momentos de ação frenética e a quietude desesperadora são fluidas, quase como uma maré que ora te arrasta para o fundo, ora te eleva em um breve suspiro. É um ritmo que mimetiza o próprio desespero da situação.
Dongji Rescue é uma produção conjunta de peso, com The Seventh Art Pictures, Tao Piao Piao, Beijing Culture, Beijing Enlight Pictures e China Film Group Corporation, e você sente o investimento e a paixão em cada quadro. Os produtores Zhu Wenjiu e 梁靜 entregaram não apenas um filme, mas um monumento àqueles que sofreram e lutaram por sua sobrevivência, e àqueles que, de alguma forma, tentaram resgatá-los.
Este filme me fez questionar o limite da crueldade humana, mas também a infinita capacidade de compaixão e sacrifício. Não é um filme fácil de assistir. Ele te confronta com a feiura da guerra e a beleza da resiliência humana. E essa é a beleza, né? É nos levar a sentir, a pensar, a debater. A dor dos personagens, suas escolhas impossíveis, tudo isso ecoa muito depois que os créditos sobem. Dongji Rescue é mais do que um filme sobre a Segunda Guerra Mundial; é uma meditação sobre a condição humana, a fragilidade da vida e a força inabalável do espírito. E, para mim, é por isso que ele é tão importante e porque ele fica na sua mente. Ele nos lembra que algumas histórias precisam ser contadas, não importa o quão dolorosas elas sejam.