Donnie Darko

É curioso como alguns filmes chegam na sua vida e se recusam a ir embora. Eles se agarram à sua memória, provocam discussões à mesa de jantar e, mesmo anos depois, continuam a ser desvendados, camada por camada. Para mim, Donnie Darko é, sem sombra de dúvidas, um desses filmes. Lançado originalmente em 2001 e chegando ao Brasil apenas em 2003, essa obra de Richard Kelly não é só um filme; é uma experiência, um enigma que convida a múltiplas leituras e, francamente, a algumas noites insones pensando no que diabos você acabou de assistir.

Pode ser que você tenha tido seu primeiro contato com Donnie Darko em uma sessão de cinema independente, ou talvez tenha tropeçado nele de madrugada na TV a cabo. Independentemente de como ele te encontrou, a sensação é a mesma: uma mistura de fascínio e desconforto. A história nos apresenta Donnie Darko, interpretado de forma impecável por um jovem e visceral Jake Gyllenhaal, um adolescente aparentemente desajustado da Virgínia suburbana dos anos 80. À primeira vista, ele é só mais um garoto problemático no high school, navegando pelas complexidades das relações pai-filho e da terapia. Mas logo percebemos que há algo muito, muito mais profundo acontecendo aqui.

Donnie está à beira da loucura – ou da iluminação, dependendo do seu ponto de vista – devido a visões constantes de um coelho monstruoso chamado Frank (interpretado por James Duval com uma presença assustadoramente magnética). Esse “amigo imaginário” tem uma influência sinistra sobre Donnie, incitando-o a atos antissociais, como vandalismo e até mesmo, eventualmente, incêndio criminoso. Frank não só prevê o fim do mundo, mas também o manipula, plantando a semente de uma intriga de histórias entrelaçadas que joga com viagens no tempo, gurús fundamentalistas e os desígnios do universo.

O que me prendeu desde o primeiro momento foi a forma como Kelly – que não só dirigiu, mas também roteirizou essa preciosidade – constrói a atmosfera. É um drama psicológico que se disfarça de fantasia e mistério, mergulhando o espectador em um surrealismo palpável. As coisas ficam realmente estranhas quando Donnie, por acaso, escapa a uma morte bizarra: um motor de avião cai em seu quarto enquanto ele está sonâmbulo, guiado por Frank para fora de casa. É a partir desse ponto que a linha entre a doença mental de Donnie e uma realidade alternativa se dissolve completamente. Ele luta contra seus demônios, literal e figurativamente, enquanto o mundo ao seu redor parece desmoronar em uma espiral de hipocrisia e falso otimismo.

AtributoDetalhe
DiretorRichard Kelly
RoteiristaRichard Kelly
ProdutoresAdam Fields, Sean McKittrick, Nancy Juvonen
Elenco PrincipalJake Gyllenhaal, Jena Malone, James Duval, Drew Barrymore, Beth Grant
GêneroFantasia, Drama, Mistério
Ano de Lançamento2001
ProdutorasFlower Films, Pandora Cinema, Newmarket Films

O elenco, aliás, é um show à parte. Jake Gyllenhaal não apenas interpreta Donnie; ele encarna a confusão, a inteligência e a vulnerabilidade do personagem. A presença de Jena Malone como Gretchen Ross, o romance inesperado e puro de Donnie, adiciona uma camada de humanidade e tragédia à narrativa. Drew Barrymore, uma das produtoras executivas através da sua Flower Films (junto com Pandora Cinema e Newmarket Films, que ousaram financiar o projeto), brilha como Karen Pomeroy, a professora de inglês que tenta, a seu modo, ser uma voz da razão e compaixão em um sistema educacional opressor. E Beth Grant, como a instrutora motivacional Kitty Farmer, é a personificação do moralismo hipócrita suburbano, um contraste perfeito para a busca de verdade de Donnie.

Donnie Darko não é um filme que te entrega respostas de bandeja. Pelo contrário, ele te joga num labirinto de símbolos e questionamentos. Seria tudo uma alucinação complexa de um adolescente com esquizofrenia, ou estaríamos testemunhando um sacrifício cósmico em um universo paralelo? Essa ambiguidade é um dos seus maiores charmes, ecoando aquela crítica que menciona a necessidade de uma “explicação real para os eventos para entender completamente a ideia original”. É um filme que te desafia a pensar, a revisitar cada cena, cada diálogo, cada referência à “filosofia da viagem no tempo” ou à eleição presidencial da época.

Para mim, a beleza de Donnie Darko reside em sua capacidade de nos fazer sentir a estranheza da vida adolescente, a busca por pertencimento, a revolta contra a falsidade e, acima de tudo, a sensação avassaladora de que há algo maior em jogo, algo que desafia nossa compreensão. É um “cult flick with sophisticated themes” que, sim, talvez tenha uma “meh story” para quem busca algo linear e mastigado. Mas para quem abraça a complexidade, a nuance e a experiência sensorial de um filme que flerta com o inexplicável, ele é uma joia atemporal.

E você, o que pensa sobre o final de Donnie? É redenção, sacrifício, loucura? Deixe sua opinião nos comentários, adoraria saber!

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