Dr. Fantástico

Dr. Fantástico: Uma Comédia Macabra que Continua Pertinente em 2025

Em 1964, Stanley Kubrick nos presenteou com um filme tão brilhante quanto perturbador: Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb). Passados mais de 60 anos, em 18 de setembro de 2025, sua relevância não apenas permanece intacta, como se amplifica assustadoramente. Trata-se de uma sátira mordaz sobre a Guerra Fria, que, paradoxalmente, encontra seu humor no espectro do fim do mundo. A trama acompanha a espiral frenética de eventos após um general americano enlouquecido ordenar um ataque nuclear à União Soviética, desencadeando uma corrida contra o tempo para evitar o apocalipse.

A direção de Kubrick é simplesmente magistral. Seu estilo visual, marcado pela montagem precisa e por enquadramentos impecáveis que criam uma atmosfera claustrofóbica e hilariantemente tensa na sala de guerra, contribui para a construção de uma comédia negra que beira o surrealismo. A alternância entre a urgência da situação e o comportamento caricato dos personagens gera um humor negro peculiar, que nos deixa tanto horrorizados quanto entretidos. A fotografia em preto e branco, longe de ser um detalhe despretensioso, reforça a atmosfera de paranoia e a desumanização da guerra, contrastando com a absurda situação que se desenrola.

O roteiro, fruto da colaboração de Kubrick, Terry Southern e Peter George, é um primor de engenharia satírica. A escrita ágil e inteligente costura diálogos hilários com um subtexto carregado de crítica social e política. Cada personagem, por mais caricato que seja, representa um arquétipo da paranoia da Guerra Fria: o general paranóico, o presidente nervoso, o cientista nazista obcecado com o poder nuclear. A construção do General Ripper, com sua obsessão por pureza e por “sucos vermelhos”, é antológica, uma perfeita personificação da histeria e da irracionalidade militar.

AtributoDetalhe
DiretorStanley Kubrick
RoteiristasTerry Southern, Peter George, Stanley Kubrick
ProdutoresVictor Lyndon, Stanley Kubrick
Elenco PrincipalPeter Sellers, George C. Scott, Sterling Hayden, Keenan Wynn, Slim Pickens
GêneroComédia, Guerra
Ano de Lançamento1964
ProdutorasHawk Films, Columbia Pictures

E que elenco! Peter Sellers, num desempenho antológico, encarna três personagens distintos com maestria: o diplomata britânico, o Presidente Muffley e o próprio Dr. Fantástico, um ex-cientista nazista numa cadeira de rodas com uma paixão perturbadoramente calma por um apocalipse nuclear. A atuação de Sellers é uma aula de interpretação, demonstrando a gama de nuances que ele conseguia incorporar a cada papel. George C. Scott, Sterling Hayden e Slim Pickens completam o elenco de peso, entregando interpretações memoráveis que amplificam o tom caótico e hilariante do filme.

Um dos pontos fortes de Dr. Fantástico reside na sua capacidade de provocar risos mesmo diante de um tema tão grave como a aniquilação nuclear. A ironia, o sarcasmo e o absurdo são as armas principais dessa sátira, que não se furta a satirizar tanto as forças armadas quanto a própria liderança política. No entanto, o filme também apresenta alguns pontos que podem ser considerados fracos, principalmente para um público contemporâneo. A abordagem caricatural de alguns personagens, por exemplo, pode parecer simplista em alguns momentos, ainda que intencionalmente exagerada.

O filme trata de temas atemporais como a irracionalidade da guerra, o perigo da proliferação nuclear e a fragilidade da liderança política diante de crises. Dr. Fantástico não é apenas um filme sobre a Guerra Fria; ele é uma parábola sobre o perigo da ideologia cega, do poder sem controle e da ameaça constante da autodestruição. Em 2025, com o avanço tecnológico e o clima geopolítico conturbado que temos visto, a mensagem do filme ecoa com uma força ainda maior. O “doomsday device” soviético, na época uma ficção, hoje não parece tão impossível.

Em conclusão, Dr. Fantástico é uma obra-prima cinematográfica que transcende seu contexto histórico. Sua combinação única de humor negro, sátira afiada e talento excepcional em frente e atrás das câmeras o torna uma experiência cinematográfica inesquecível e absolutamente imperdível. Apesar de sua idade, o filme continua assustadoramente atual, uma prova da perspicácia de Kubrick em prever os perigos que assombram a humanidade até hoje. Recomendo fortemente sua exibição, seja em plataformas digitais, em uma retrospectiva cinematográfica, ou mesmo numa exibição de cinema. É uma experiência que o deixará pensando, rindo e, provavelmente, um pouco assustado – e tudo isso ao mesmo tempo.

Trailer