Sabe, de vez em quando, a gente se depara com uma sinopse de filme que, de cara, já nos arranca um sorriso – ou, no mínimo, uma sobrancelha arqueada, acompanhada daquela pergunta retórica: “Será que isso vai dar certo?”. E foi exatamente essa a minha reação quando topei com a premissa de Duplamente Grávida 2. Afinal, dez anos se passaram desde que Javier e Felipe nos conquistaram com suas trapalhadas para se tornarem pais. Agora, em 2025, com o filme lançado lá fora em 2022 e ainda esperando um lugar nas telas brasileiras, a curiosidade só aumenta: como é a vida desses dois pais em tempo integral, com as filhas Sol e Luna já grandinhas? E mais importante: o que diabos eles aprontaram dessa vez?
Minha motivação para escrever sobre isso vem de um lugar muito particular: o fascínio pelas comédias que ousam tocar em temas sensíveis, como a formação e a redefinição da família, mas sem perder a leveza. A ideia de dois pais solteiros se virando para criar duas meninas é, por si só, um terreno fértil para situações hilárias e momentos de pura ternura. Mas aí eles decidem que as meninas “sentem falta de uma mãe” e bolam um plano secreto, digno de reality show, para “audicionar” suas namoradas numa viagem… Ah, meu caro leitor, isso é puro ouro para quem gosta de um bom enredo rocambolesco.
O centro da trama, como não poderia deixar de ser, gira em torno de Gustavo Egelhaaf como Javier e Matías Novoa como Felipe. Se no primeiro filme eles já tinham uma química inegável, aqui, dez anos depois, essa dinâmica é aprimorada pela experiência da paternidade. Dá pra sentir o peso e a alegria de serem pais de tempo integral, a rotina, as decisões, os acertos e, claro, os inevitáveis erros. O grande erro, neste caso, é a concepção de que podem “selecionar” uma mãe para Sol (Valery Sais) e Luna (Paola Real) como quem escolhe um sabor de sorvete. A gente vê neles a genuína preocupação com o bem-estar das filhas, misturada a uma boa dose de ingenuidade e aquela típica visão masculina de “resolver” problemas com um plano quase militar. É essa contradição que os torna tão cativantes: são bem-intencionados, mas totalmente desajeitados em suas execuções.
E as candidatas a “mãe perfeita”? Michelle Renaud chega como Camila, e Carmen Aub como Antonia. Duas personalidades distintas, duas formas de interagir com os pais e, claro, com as meninas. A genialidade do roteiro de Diego Ayala, sob a direção de Koko Stambuk, está em não demonizá-las ou transformá-las em meras peças de um jogo. Elas têm suas próprias vidas, seus próprios sentimentos e, imagino eu, suas próprias expectativas em relação a Javier e Felipe. A comédia surge justamente do choque entre o plano secreto dos homens e a percepção das mulheres, que, cá entre nós, não devem ser tão ingênuas a ponto de não notar as peculiaridades da viagem. As interações, os pequenos deslizes e os diálogos que revelam as tensões e os afetos são o combustível para as risadas. Me pego pensando nas caras e bocas da Camila quando percebe algo estranho, ou na forma como Antonia deve reagir aos testes “disfarçados” dos rapazes. Acredito que seja nesse jogo de gato e rato emocional que o elenco principal brilha.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Koko Stambuk |
Roteirista | Diego Ayala |
Elenco Principal | Gustavo Egelhaaf, Matías Novoa, Michelle Renaud, Carmen Aub, Valery Sais, Paola Real, Franco Molinas, Ana González Bello, Verónica Jaspeado |
Gênero | Comédia |
Ano de Lançamento | 2022 |
Produtora | SDB Films |
E as meninas, Sol e Luna? Valery Sais e Paola Real são o coração da história. São elas que dão a dimensão real da busca dos pais. Não é sobre Javier e Felipe encontrando um novo amor para si, mas sobre eles tentando preencher um vazio que acreditam existir na vida das filhas. As crianças, com sua inocência e perspicácia, provavelmente são as primeiras a perceber que algo não cheira bem, ou, ao contrário, talvez sejam as grandes catalisadoras das verdades que precisam vir à tona. As performances infantis, se bem conduzidas, podem elevar o filme de uma simples comédia para algo com mais ressonância emocional.
A direção de Koko Stambuk, conhecido por extrair o máximo do humor de situações cotidianas e um tanto absurdas, deve ter sido crucial para manter o ritmo e a fluidez das cenas. A Produtora SDB Films, ao apostar novamente nessa sequência, mostra que o público se conecta com essa família imperfeita e cheia de amor. Não se trata de uma obra-prima que vai revolucionar o cinema, mas sim de uma comédia honesta que nos lembra que a vida familiar raramente segue um manual, e que, muitas vezes, as melhores intenções podem levar aos caminhos mais tortuosos — e hilários.
É claro que a gente vê a situação e pensa: “Meu Deus, que ideia absurda!” Mas, quem de nós, em um momento de desespero parental (ou até mesmo romântico), não arquitetou um plano um tanto quanto questionável, esperando que tudo se encaixasse perfeitamente? É essa humanidade, essa falibilidade, que me atrai em Duplamente Grávida 2. Não é uma visão “preto e branco” da paternidade ou dos relacionamentos, mas sim um mosaico de cores e tons, de acertos e de erros, de risadas e de algumas reflexões, sobre o que realmente significa ser família hoje.
Ainda em 30 de setembro de 2025, me pergunto: por que um filme tão rico em potencial cômico e com um tema tão universal – a busca por uma família completa e feliz – ainda não encontrou seu caminho para o público brasileiro? É uma pena que uma produção que promete aquecer o coração e arrancar boas gargalhadas siga inédita por aqui. Espero, de verdade, que Duplamente Grávida 2 não demore a chegar, para que possamos, finalmente, acompanhar as novas e deliciosas confusões de Javier, Felipe, Sol, Luna e suas namoradas. Quero ver se o plano deles vai por água abaixo ou se, por um milagre, a comédia romântica se encarregará de dar um jeitinho nessas vidas desengonçadas.