Ela Disse: Um retrato necessário, porém imperfeito, do poder e da resistência
Confesso que cheguei a Ela Disse com expectativas altas, e talvez até um pouco de apreensão. Três anos se passaram desde seu lançamento em 08 de dezembro de 2022, e o filme, baseado na investigação do New York Times que desmascarou Harvey Weinstein, já havia sido alvo de debates acalorados. Afinal, como retratar com justiça e sensibilidade uma história tão complexa e impactante? Maria Schrader, a diretora, se propõe a essa tarefa monumental, e o resultado, embora não isento de defeitos, é um filme que não deixa indiferente.
A trama acompanha as jornalistas Megan Twohey e Jodi Kantor na jornada tensa e minuciosa de investigar as acusações de assédio sexual contra o poderoso produtor de Hollywood. Sem revelar o desenrolar específico, posso dizer que o longa-metragem se concentra na pressão, na resiliência e no trabalho investigativo árduo das repórteres, mostrando como elas, a partir de um punhado de relatos hesitantes, constroem um caso que abalaria o mundo.
A performance de Carey Mulligan como Megan Twohey e Zoe Kazan como Jodi Kantor é impecável. Ambas conseguem transmitir a determinação e a fragilidade inerentes ao processo, sem cair em estereótipos. Mulligan, em particular, consegue captar a força silenciosa de sua personagem, enquanto Kazan exala uma inteligência perspicaz e uma sensibilidade que se conecta diretamente com o espectador. O restante do elenco, incluindo Patricia Clarkson e Andre Braugher, contribui com interpretações sólidas e convincentes, adicionando camadas à narrativa.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretora | Maria Schrader |
| Roteirista | Rebecca Lenkiewicz |
| Produtores | Jeremy Kleiner, Dede Gardner, Lexi Barta |
| Elenco Principal | Carey Mulligan, Zoe Kazan, Patricia Clarkson, Andre Braugher, Lola Petticrew |
| Gênero | Drama, História |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | Plan B Entertainment, Annapurna Pictures, Universal Pictures |
Porém, o roteiro de Rebecca Lenkiewicz, embora bem intencionado, apresenta alguns pontos fracos. Em alguns momentos, a narrativa se torna um tanto procedural, perdendo em ritmo e profundidade emocional. O filme, com sua duração considerável, poderia ter sido mais conciso, focando em alguns aspectos cruciais em detrimento de outros mais periféricos. A impressão que fica é que, apesar do esforço de cobrir todos os ângulos da história, alguns detalhes acabam diluindo o impacto emocional que o filme poderia alcançar. A escolha de focar majoritariamente na perspectiva das jornalistas, embora compreensível, também gera um pequeno distanciamento do sofrimento das vítimas, um ponto que, na minha opinião, poderia ter sido melhor trabalhado.
Apesar dessas ressalvas, Ela Disse é um filme significativo. A direção de Schrader é cuidadosa e equilibrada, transmitindo a tensão crescente da investigação sem recorrer a sensacionalismos baratos. O filme captura de forma convincente o ambiente de opressão e medo em Hollywood, e a luta incansável das mulheres para que suas vozes fossem ouvidas, representando um importante marco da era MeToo. O longa explora temas poderosos, como abuso de poder, a importância do jornalismo investigativo e a resistência feminina diante da adversidade. A mensagem é clara: a verdade pode ser silenciada, mas jamais apagada.
No geral, Ela Disse é um filme que, apesar de alguns tropeços narrativos, se consolida como uma obra relevante e necessária. A impecável atuação do elenco principal, aliada à direção competente e ao tema inegavelmente importante, superam as falhas de ritmo e narrativa. Eu recomendo fortemente este filme, principalmente para aqueles interessados em jornalismo investigativo, movimentos sociais e histórias de superação. Para mim, Ela Disse não é apenas um filme; é um testemunho do poder da verdade e da coragem feminina. É um filme que, mesmo três anos após sua estreia, permanece pertinente e nos convida a uma reflexão importante sobre o passado recente e o futuro que esperamos construir. Assistam, e reflitam.




