O Preço da Coroa: Uma Análise de Elvis e o Redemoinho de Baz Luhrmann
Três anos se passaram desde que Baz Luhrmann nos arrastou para o olho do furacão com seu longa-metragem biográfico, Elvis. Lançado originalmente em 2022, com sua estreia brasileira em 14 de julho daquele ano, este filme não é apenas uma biografia musical; é uma experiência sensorial, um turbilhão de brilho e tragédia que, ainda hoje, reverbera em minha memória cinéfila com a força de um solo de guitarra inesperado.
Não é segredo que sou um entusiasta de cineastas que ousam, que subvertem as expectativas e transformam a tela em um palco vibrante. Luhrmann é um mestre nisso, e em Elvis, ele prova, mais uma vez, que a vida de um ícone do rock ‘n’ roll não pode ser contada de forma comedida.
A sinopse nos promete um mergulho na ascensão meteórica de Elvis Presley e, crucialmente, no relacionamento intrincado e por vezes predatório que ele manteve por mais de duas décadas com seu enigmático empresário, Colonel Tom Parker. É a história de um gênio musical forjado sob a luz implacável dos holofotes e a sombra manipuladora de um homem que via na música e na alma de Elvis não uma arte, mas uma oportunidade de negócio, pura e simplesmente. Os gêneros de Drama, Música e História se entrelaçam aqui para pintar um retrato complexo e muitas vezes doloroso dos bastidores de uma lenda.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Baz Luhrmann |
| Roteiristas | Jeremy Doner, Sam Bromell, Baz Luhrmann, Craig Pearce |
| Produtores | Patrick McCormick, Gail Berman, Schuyler Weiss, Catherine Martin, Baz Luhrmann |
| Elenco Principal | Austin Butler, Tom Hanks, Olivia DeJonge, Helen Thomson, Richard Roxburgh |
| Gênero | Drama, Música, História |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | Warner Bros. Pictures, Bazmark, The Jackal Group |
O Espetáculo e o Intruso: Direção, Roteiro e Atuações
A primeira crítica que surge à mente de muitos ao falar de Luhrmann é o ritmo. Recordo-me perfeitamente das primeiras cenas de Elvis, daquele assalto aos sentidos que alguns descreveram como “frenético e inconstante”. Sim, nos primeiros dez minutos, eu senti o cansaço e a vertigem. O diretor nos joga na explosão do rock ‘n’ roll dos anos 1950 com uma edição vertiginosa e uma paleta de cores tão saturada que parece quase palpável. Mas, o que a princípio pode parecer caótico, para mim, tornou-se a própria essência da obra. É Luhrmann canalizando a energia indomável e avassaladora do próprio Elvis, a revolução cultural que ele representou. O filme não apenas conta a história; ele é a história em sua forma mais visceral. Ele nos acalma, sim, mas nunca perde o pulsar de uma batida de coração acelerada.
O roteiro, assinado por Jeremy Doner, Sam Bromell, o próprio Luhrmann e Craig Pearce, é astuto ao interligar os anos de formação de Elvis, suas aspirações e a gradual teia de dependência criada por Parker. A decisão de narrar a história sob a perspectiva do Colonel Tom Parker, interpretado por um quase irreconhecível Tom Hanks, é um golpe de mestre e, ao mesmo tempo, um ponto de controvérsia. Parker é retratado com uma apatia calculista e um desprezo velado pela arte, focado apenas no lucro. Hanks encarna essa figura com uma performance que é, de certa forma, tão repulsiva quanto fascinante, e ele nos convence do quão tóxica essa relação se tornou. No entanto, por vezes, a narrativa de Parker ameaça engolir o próprio Elvis, desviando o foco do verdadeiro protagonista.
Mas sejamos francos: a força gravitacional inegável de Elvis reside na atuação de Austin Butler. Se houvesse um prêmio para o ator que mais entregou alma, coração e suor em um papel, Butler o mereceria sem questionar. Ele não apenas interpretou Elvis Presley; ele se tornou Elvis. Desde a postura e os trejeitos característicos, até a voz – que, à medida que o filme avança, se funde perfeitamente com a do próprio Rei –, Butler é um fenômeno. Ele capta a vulnerabilidade por trás da máscara de estrela, a paixão indomável pelo palco e a solidão do homem sob a coroa. As críticas que, em 2022, previam que ele “merecidamente lhe garantiriam todos os prêmios do ano” foram proféticas. Sua performance foi, de fato, aclamada universalmente e reconhecida com os mais prestigiados galardões, solidificando seu lugar como um dos grandes momentos de atuação da década.
Olivia DeJonge como Priscilla e Helen Thomson e Richard Roxburgh como Gladys e Vernon Presley, respectivamente, cumprem seus papéis com sensibilidade, adicionando camadas humanas à saga familiar e romântica de Elvis. Eles servem como pontos de ancoragem para o turbilhão de emoções, mas é Butler quem ilumina o palco.
Luzes e Sombras: Pontos Fortes e Fracos
Os pontos fortes de Elvis são inegáveis. A recriação da era, especialmente os anos 1950 e o surgimento do rock ‘n’ roll, é uma proeza de design de produção e figurino. A energia visual e musical é contagiante, transportando-nos para os palcos e bastidores daquela época icônica. A forma como Luhrmann intercala a música e os momentos cruciais da vida de Elvis é magistral, transformando o filme em um espetáculo que é tanto um show quanto uma narrativa. E, claro, a performance transcendente de Austin Butler que, por si só, já valeria o ingresso – ou a assinatura da plataforma de streaming.
Por outro lado, o ritmo vertiginoso, embora um ponto forte para mim, pode ser exaustivo para alguns, especialmente nas quase três horas de duração do longa-metragem. A dependência excessiva da narração de Parker, embora justificada pela perspectiva do diretor, ocasionalmente tira um pouco do protagonismo de Elvis e sua voz interna, tornando-o mais objeto do que sujeito em alguns momentos. Há uma sugestão em uma das críticas de que “o ator não é suficiente para superar…”, e entendo essa perspectiva. A genialidade de Butler é tão avassaladora que pode, por vezes, expor as pequenas rachaduras no ritmo ou na estrutura, que se tornam mais evidentes em comparação com o brilho central.
Temas Atemporais e Mensagens Impactantes
Elvis não é apenas sobre música e fama; é uma profunda exploração do preço da glória e da exploração no show business. É um estudo sobre a linha tênue entre o gênio artístico e a máquina comercial que tenta monetizá-lo. A relação de Elvis com Parker é um microcosmo da dicotomia entre a pureza da criação e a sordidez dos negócios, onde o ‘cantor’ é transformado em um ‘produto’ a ser vendido, espremido até a última gota de talento e energia.
O filme nos lembra que, por trás do brilho e do carisma, há um ser humano com suas próprias fragilidades, solidão e busca por liberdade. É uma biografia baseada em uma história verdadeira que ressoa com a atemporalidade das lendas e as lições amargas do sucesso descontrolado.
Conclusão: Uma Viagem Obrigatória ao Coração do Rock
Elvis é um filme que me moveu profundamente. Em 17 de setembro de 2025, olhando para trás, vejo este trabalho como uma peça essencial na filmografia de Baz Luhrmann e um marco nas cinebiografias musicais. A produção da Warner Bros. Pictures, Bazmark e The Jackal Group conseguiu entregar um espetáculo visual e auditivo que honra a figura complexa de Elvis Presley.
Minha recomendação é enfática: assista a Elvis. Prepare-se para ser varrido pela direção exuberante de Luhrmann e ser completamente cativado pela entrega sem precedentes de Austin Butler. Se você tem um apreço pela música, pela história e pelas histórias humanas de triunfo e tragédia, este filme é para você. Não é uma experiência passiva; é um convite para sentir o batimento cardíaco do rock ‘n’ roll e testemunhar a vida de um ícone que, mesmo sob o peso de sua própria fama, nunca deixou de brilhar. Encontre-o nas plataformas digitais e permita-se ser levado por essa jornada inesquecível.




