Sabe, tem filmes que a gente esbarra por aí, talvez numa dessas maratonas de fim de semana, e eles acabam se instalando na gente de um jeito que a gente nem esperava. Em um Passe de Mágica (ou ‘Jaadugar’, no original, um título que já evoca a essência da história) foi um desses pra mim. Lançado lá em 2022, e infelizmente sem um lançamento formal por aqui no Brasil – uma pena que eu lamento profundamente, pois acredito que essa história tem um charme universal –, ele me fisgou pela premissa: um mágico que detesta futebol precisa, por amor, transformar um time de pernas de pau em finalistas. Imagina só a cena! É como juntar água e óleo, ou melhor, fumaça e apito de árbitro, e esperar que tudo se harmonize em uma poção mágica.
E é justamente nessa colisão de mundos que o filme de Sameer Saxena encontra seu coração e sua graça. Eu, que sempre me vi um pouco como Meenu Narang – o nosso protagonista, vivido com uma vulnerabilidade adorável por Jitendra Kumar –, um sujeito que prefere o palco, a ilusão, a arte de surpreender, em vez da barulheira e da imprevisibilidade do campo, me identifiquei na hora. O filme não nos vende uma fantasia barata de “qualquer um pode ser um herói do futebol”. Longe disso. Ele nos mostra um Meenu desajeitado, de mãos trêmulas não por nervosismo no truque, mas pela pura aversão à bola. Ele é um mágico que usa as mãos para encantar, não para cobrar um escanteio. E é por isso que sua jornada soa tão real, tão palpável. A gente ri da sua desgraça, mas torce com ele, sabe?
O que me prendeu de verdade foi a forma como Em um Passe de Mágica (o nome em português captura bem a ideia) não se contenta em ser apenas uma comédia romântica ou um drama esportivo clichê. Ele se permite ser tudo isso, mas com uma camada extra de nuance. A comédia vem da incongruência, dos diálogos afiados e daquele humor sutil que Jitendra Kumar domina como poucos – ele não precisa de slapstick para fazer rir; um olhar, um suspiro, uma gaguejada já bastam para nos tirar risadas. O drama se manifesta na luta interna de Meenu, em como ele tenta equilibrar sua paixão pela mágica com a exigência de sua amada, a Dra. Disha Chhabra (Arushi Sharma, com uma doçura que desarma). É uma daquelas situações que nos fazem pensar: o quanto a gente estaria disposto a mudar por alguém que amamos? E será que essa mudança nos faria perder um pedaço de quem somos? É uma linha tênue, né?
A trama se aprofunda ainda mais ao explorar a relação de Meenu com seu pai, Pradeep Narang (Javed Jaffrey, que entrega uma performance sólida e emotiva), e a sombra de seu avô, o Jaadugar Chhabra (Manoj Joshi), que era um mágico renomado e também um entusiasta do futebol. É aqui que o filme transcende a superfície da comédia para tocar em temas como legado, expectativas familiares e a busca por um propósito que seja, ao mesmo tempo, próprio e conectado à nossa história. A forma como esses elementos se entrelaçam não é forçada; pelo contrário, parece tão orgânica quanto um bom truque de mágica, onde cada movimento leva ao próximo, culminando num grande final.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | Sameer Saxena |
| Roteiristas | Biswapati Sarkar, Sameer Saxena |
| Produtores | Biswapati Sarkar, Saurabh Khanna, Amit Golani, Sameer Saxena, Shujaat Saudagar, Vikesh Bhutani |
| Elenco Principal | Jitendra Kumar, Arushi Sharma, Javed Jaffrey, Manoj Joshi, Rukshar Dhillon, Sameer Saxena, Ajay Mehra, Raj Qushal, Sandeep Shikhar, Raksha Panwar |
| Gênero | Comédia, Drama, Romance |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | Chalkboard Entertainment, Posham Pa Pictures |
O elenco, aliás, é um show à parte. Jitendra Kumar é a espinha dorsal, claro, mas a química com Arushi Sharma é palpável, tornando o romance crível e o motor da história. E os coadjuvantes? Ah, eles são a alma do vilarejo de Neemuch. Seja o icônico Javed Jaffrey, que traz uma mistura de sabedoria e exasperação, ou a Dipa de Raksha Panwar, cada personagem secundário tem seu momento de brilhar, de adicionar uma cor vibrante a essa tapeçaria de relações humanas. Mesmo os jogadores do time, que à primeira vista parecem caricatos, ganham profundidade à medida que a gente os conhece, vendo suas esperanças e seus próprios “passes de mágica” em campo.
A direção de Sameer Saxena, que também atua no filme como o Dr. Doshi, e o roteiro co-escrito com Biswapati Sarkar, são de uma sensibilidade notável. Eles conseguem tecer uma narrativa que flui sem pressa, mas nunca se arrasta. Há uma alternância entre momentos de humor leve e toques de drama genuíno que mantém o ritmo interessante. É como um daqueles truques de cartas onde você pensa que sabe para onde a história vai, mas de repente, ela vira uma esquina e te surpreende. A produção da Chalkboard Entertainment e Posham Pa Pictures nos entrega um filme que, embora não seja grandioso em escala, é imenso em coração.
E, pensando bem, talvez a falta de um lançamento oficial no Brasil tenha até um lado poético. Em um Passe de Mágica se torna, para nós, quase como um segredo bem guardado, um truque a ser descoberto por aqueles que se aventuram pelos catálogos das plataformas de streaming. É um filme que, mesmo após três anos de seu lançamento original, em 2022, continua atual em suas mensagens sobre amor, paixão, compromisso e a coragem de abraçar o inesperado.
Ao final, Em um Passe de Mágica me deixou com um sorriso no rosto e uma leveza no coração. Não porque ele seja perfeito – qual filme é, né? –, mas porque ele celebra a imperfeição, a jornada tortuosa e, acima de tudo, a ideia de que a maior magia de todas talvez não esteja nos truques elaborados, mas na capacidade de nos transformarmos, de nos permitirmos amar e de, quem sabe, encontrar um pouco de alegria onde menos esperamos, mesmo que seja num campo de futebol empoeirado, com a bola nos pés de um mágico. Vale a pena a busca por essa joia, pode ter certeza.




