Endgame: Roubo de Identidade

Sabe, de vez em quando a gente topa com um filme que parece uma carta, um convite inesperado que chega e bagunça nossa caixa de e-mails, mas de um jeito bom. Foi mais ou menos essa a sensação que tive quando Endgame: Roubo de Identidade cruzou meu caminho, lá por meados de 2022, quando fez sua estreia por aqui. Não é todo dia que uma comédia de crime vinda da China consegue me fisgar tão profundamente, mas este, dirigido por 饶晓志, é uma pérola que merece nossa atenção, e olha que já se passaram uns bons anos desde então.

A vida, meus caros, é uma caixinha de surpresas, e para Chen Xiaomeng, o protagonista dessa história, era uma caixinha de decepções empilhadas, uma após a outra, sem fim à vista. Imaginem a cena: um ator de teatro cuja carreira não engata nem com reza braba, a vida amorosa mais seca que deserto, e até o ato final de desespero – o suicídio – parece ser um roteiro que ele não consegue executar com maestria. A gente ri, claro, mas é um riso que esconde um nó na garganta, porque quantos de nós não nos sentimos, em algum momento, desorientados, sem rumo, desejando um “reset” completo? Xiaomeng decide então, num último suspiro de dignidade, visitar um balneário. Afinal, se é pra dar o último adeus, que seja com a pele limpa e a alma (tentando estar) leve.

E é aí que a mágica acontece. Ou a tragédia, dependendo do seu ponto de vista. Em um instante de pura (e hilária) aleatoriedade, um sabonete traiçoeiro no chão do balneário vira o pivô de uma reviravolta digna de um épico. Um homem escorrega, cai, e pimba, entra em coma profundo. Xiaomeng, com a cabeça fervilhando de ideias – ou a falta delas – tem um insight. Por que não trocar de lugar com o sujeito? Afinal, a vida dele já não podia piorar, certo? Ah, pobre Xiaomeng. Acontece que o homem em coma não é um zé-ninguém, mas sim Zhou Quan, um assassino profissional renomado, vivido com uma nuance espetacular por 劉德華 (Andy Lau). E assim, com um piscar de olhos e uma troca de identidades, nosso ator fracassado se vê mergulhado em um mundo de crime, intriga e, pasmem, uma chance inesperada de redenção.

O que me prendeu em “Endgame” não foi apenas a premissa, por mais genial que seja. Foi a forma como o filme lida com a identidade. Zhou Quan, ao acordar sem memória, assume a vida medíocre de Xiaomeng, e é fascinante ver a precisão quase robótica de um assassino profissional aplicando sua disciplina a coisas mundanas como lavar louça ou decorar um roteiro teatral. As mãos, antes acostumadas a manusear armas, agora tentam segurar um lápis para marcar falas, com uma seriedade que beira o ridículo, e é aí que a comédia floresce. 劉德華 entrega uma performance que oscila entre a frieza calculista de seu personagem original e a confusão adorável de alguém que está tentando desesperadamente se encaixar em uma vida que não lhe pertence. Ele não diz que está confuso; ele mostra isso no olhar perdido, na forma como tenta imitar os trejeitos desajeitados do homem cuja vida ele roubou.

AtributoDetalhe
Diretor饶晓志
Roteiristas饶晓志, 范翔, Li Xiang
Produtores梁琳, 孙永焕
Elenco Principal劉德華, 万茜, 程怡, 黄小蕾, Guo Jingfei
GêneroComédia, Crime
Ano de Lançamento2021
Produtora上海艺言堂影视文化传播有限公司

Por outro lado, Xiaomeng, agora vivendo a vida perigosa de Zhou Quan, é uma fonte inesgotável de humor. Vê-lo tentando se portar como um assassino profissional, com seu histórico de falhas até para tirar a própria vida, é um deleite. Ele não tem a postura, a frieza, o traquejo. Seus nervos, você sente, ficam à flor da pele, quase visíveis em sua testa franzida e nos suores frios que o percorrem. É uma dança constante entre o desespero e a necessidade de sobreviver, e o roteiro, assinado por 饶晓志,范翔 e Li Xiang, faz isso com uma habilidade que raramente se vê.

E não posso deixar de mencionar 万茜 como Li Xiang, a mulher que se vê enredada nessa teia de mentiras e identidades trocadas. Ela é o ponto de equilíbrio, a voz da razão (ou da emoção) que nos lembra que, por trás de toda essa farsa, há corações envolvidos. Sua química com os protagonistas adiciona uma camada de calor humano e uma pitada de romance que impede o filme de se tornar apenas uma sucessão de gags. A forma como ela reage às situações bizarras que se desenrolam é orgânica, real, e nos faz torcer por ela, por eles, por um desfecho que pareça justo.

Endgame: Roubo de Identidade é uma montanha-russa de emoções. Um momento você está rindo alto de uma situação absurda, no outro está tenso, prendendo a respiração, imaginando como os personagens vão se livrar da encrenca. É a prova viva de que a comédia pode coexistir com o perigo, que a identidade é algo maleável, e que, às vezes, é preciso perder-se para realmente se encontrar. O filme questiona: quem somos nós quando não temos nossas memórias? Quem nos tornamos quando as circunstâncias nos empurram para um papel que nunca imaginamos? E será que um “fim de jogo” pode ser, na verdade, um novo começo?

A direção de 饶晓志 é afiada, com um ritmo que não deixa a peteca cair. Ele sabe quando apertar o passo para a ação e quando desacelerar para um momento de reflexão ou de humor mais sutil. A produção da 上海艺言堂影视 cultura e传播有限公司 entregou um trabalho visual competente, que ambienta a história sem tirar o foco do que realmente importa: os personagens e suas jornadas malucas.

Assistir a Endgame: Roubo de Identidade em 2022 foi uma experiência que me marcou. Hoje, em 2025, ao revisitá-lo em memória, percebo que sua mensagem ainda ressoa. É um lembrete agridoce de que a vida é cheia de curvas inesperadas, e que, talvez, o verdadeiro eu seja encontrado nas situações mais improváveis. Se você busca um filme que te faça rir, pensar e sentir, com personagens que você vai querer abraçar (ou fugir desesperadamente), então, dê uma chance a este. Garanto que não é todo dia que um sabonete muda tanto a vida de alguém, não é mesmo?

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