Era Uma Vez um Gênio: Um conto de desejos e desilusões em Istambul
Três anos se passaram desde que Era Uma Vez um Gênio (ou “Três Mil Anos de Saudade”, como o título original sugere com mais precisão) chegou aos cinemas brasileiros. A obra de George Miller, um cineasta conhecido por sua visceralidade e inventividade, surpreendeu – e talvez tenha dividido – a crítica com sua abordagem contemplativa de um tema tão batido quanto o da lâmpada mágica e os três desejos. A sinopse, simples à primeira vista, nos apresenta Alithea (Tilda Swinton), uma acadêmica solitária que viaja a Istambul para uma conferência, onde encontra um Djinn (Idris Elba) que lhe oferece a chance de realizar três desejos. Mas esta jornada, longe de ser uma comédia mágica pastelão, mergulha em reflexões profundas sobre a natureza do desejo, da solidão e da própria narrativa.
Miller, longe da frenética energia de “Mad Max”, opta por uma direção pausada, quase contemplativa. Os cenários de Istambul são deslumbrantes, e a câmera parece flutuar, observando Alithea e o Djinn em seus diálogos intensos e carregados de significado. A escolha de uma narrativa mais lenta, porém, pode ser um obstáculo para aqueles que buscam uma trama mais dinâmica e repleta de ação. A força do filme reside precisamente na química entre Swinton e Elba, dois gigantes da atuação que elevam o roteiro escrito por ele e Augusta Miller a outro nível. Seus diálogos, repletos de referências literárias e filosóficas, são o coração do longa, explorando a complexidade das escolhas humanas e as consequências de nossos desejos. A escolha de Sabrina Elba como a observadora, e de Erdil Yaşaroğlu e Sarah Houbolt em papéis menores, reforçam a construção de um universo rico em detalhes.
O filme brilha na profundidade de seus personagens, principalmente Alithea, uma mulher complexa e solitária, interpretada por Swinton com uma sutileza impressionante. A capacidade da atriz de transmitir as emoções mais sutis, a luta interna de Alithea entre a razão e a emoção, é cativante. Elba, por sua vez, entrega uma performance magnética, dando ao Djinn uma presença imponente, porém repleta de nuances e vulnerabilidade. A dinâmica entre eles é o que sustenta o filme, uma dança delicada entre a erudição de Alithea e a experiência milenar do Djinn.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | George Miller |
| Roteiristas | Augusta Miller, George Miller |
| Produtores | George Miller, Doug Mitchell |
| Elenco Principal | Tilda Swinton, Idris Elba, Erdil Yaşaroğlu, Sabrina Elba, Sarah Houbolt |
| Gênero | Drama, Fantasia, Romance |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | FilmNation Entertainment, Elevate Production Finance, Sunac Pictures, Kennedy Miller Mitchell |
No entanto, a lentidão narrativa, que pode ser apreciada por alguns, pode ser um ponto fraco para outros. O ritmo contemplativo pode se tornar monótono em momentos, comprometendo o engajamento do espectador. Apesar da beleza estética e da excelência das atuações, a trama poderia ter sido mais estruturada para manter um ritmo constante, evitando algumas pausas narrativas. A ausência de um conflito externo mais marcante pode ser percebida como falha por alguns.
Era Uma Vez um Gênio é um filme sobre a natureza fugaz do desejo, a busca por significado e a complexidade dos relacionamentos humanos. Ele explora temas profundos, como a solidão, a importância das conexões humanas e a necessidade de encontrar significado em nossas vidas, mesmo em meio à adversidade. É um filme que requer do espectador paciência e disposição para se engajar em uma narrativa mais reflexiva, e a recompensa, para aqueles que se entregam a ele, é uma jornada inesquecível pela mitologia e pela psique humana.
Recomendo Era Uma Vez um Gênio aos espectadores que apreciam filmes de caráter mais contemplativo, que valorizam diálogos ricos e atuações excepcionais. Não é um filme de entretenimento superficial, mas uma obra que oferece uma reflexão profunda sobre a condição humana, e que permanecerá na memória muito tempo depois dos créditos finais. É uma experiência cinematográfica única, e uma prova de que, mesmo em um gênero tão explorado, ainda é possível contar histórias originais e profundamente comoventes.




