Escritório Sob Ataque: Quando o Monstro Mais Assustador é a Ganância Corporativa
É preciso um certo tipo de audácia para misturar invasão alienígena, comédia despretensiosa e uma pitada de crítica social. Há quase três anos, em 10 de agosto de 2022, quando Escritório Sob Ataque (originalmente “Office Invasion”) fez sua estreia no Brasil, eu, como tantos, me perguntei: será que essa salada de frutas cinematográfica realmente funciona? Bem, hoje, em setembro de 2025, após revisitar o longa-metragem nas plataformas digitais, minha resposta é um sonoro… sim, e não. Mas que fique claro: o “sim” carrega um peso muito maior.
Vamos à premissa, sem estragar as surpresas. O filme nos joga no meio de uma mineradora, um daqueles templos de metal e ambição que servem como espinha dorsal de muitas economias. Nossos heróis são três amigos improváveis: Sam (Rea Rangaka), Prince (Kiroshan Naidoo) e um terceiro personagem que se torna o coração do trio – interpretado com uma energia contagiante. Eles têm a tarefa ingrata de proteger esse ativo valioso quando, de repente, ele se torna o alvo de monstros alienígenas cujo objetivo é tão simples quanto brutal: saquear e exterminar. É uma corrida contra o tempo, com explosões, piadas e uma luta desesperada pela sobrevivência. O elenco conta ainda com Stevel Marc, que dá vida a Badrick, e Gregg Viljoen, que adiciona um tempero especial à dinâmica.
A primeira coisa que me chamou a atenção, e que continua a me fisgar, é a coragem dos diretores Fred Wolmarans e Gareth Crocker. Crocker, que também assina o roteiro, tem uma visão muito clara, ainda que um tanto caótica, do que quer alcançar. A direção oscila entre sequências de ação surpreendentemente eficazes, especialmente para uma produção que não grita “blockbuster de Hollywood”, e momentos de comédia que, por vezes, beiram o absurdo. Essa dança entre o perigo genuíno e o riso fácil é o que dá a Escritório Sob Ataque sua identidade única. O visual dos aliens, por exemplo, é uma mistura de ameaçador e, ouso dizer, hilário, refletindo o tom do filme. Não espere algo no nível de uma superprodução de ficção científica, mas sim uma abordagem mais artesanal e cheia de personalidade.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretores | Fred Wolmarans, Gareth Crocker |
| Roteirista | Gareth Crocker |
| Elenco Principal | Rea Rangaka, Kiroshan Naidoo, Sechaba Ramphele, Gregg Viljoen, Stevel Marc |
| Gênero | Ficção científica, Comédia |
| Ano de Lançamento | 2022 |
Um Elenco Que Salva o Dia (e a Mineradora)
As atuações são, sem dúvida, um dos pilares que sustentam essa estrutura um tanto excêntrica. Rea Rangaka como Sam traz uma mistura de competência e cansaço que a torna uma protagonista relutável e cativante. Kiroshan Naidoo, como Prince, é o alívio cômico necessário, o cara que você quer por perto quando o apocalipse alienígena chega, só para garantir que alguém vai fazer uma piada sobre a situação. Mas é a dinâmica entre o trio central, incluindo a atuação de Sechaba Ramphele, que realmente brilha. Eles formam o tipo de amizade que você acredita, com piadas internas e lealdade inabalável. Stevel Marc, como Badrick, tem uma presença marcante, adicionando uma camada extra de tensão e carisma que eleva as cenas em que está envolvido.
No entanto, o filme não está isento de falhas. O roteiro, embora original e cheio de boas intenções, tropeça em algumas viradas previsíveis e em momentos em que o humor não acerta o alvo como deveria. Há um certo desequilíbrio tonal em algumas transições, onde a gravidade da situação se choca um pouco abruptamente com uma piada que parece surgir do nada. Em termos de pontos fracos, alguns efeitos visuais são um lembrete do orçamento contido, mas é um preço que se paga pela inventividade.
A Verdadeira Invasão: Ganância Corporativa Disfarçada de Alienígenas
Agora, vamos ao que realmente me pegou, o que me fez revisitar Escritório Sob Ataque anos depois: seus temas subjacentes. As palavras-chave “alien invasion”, “corporate greed” e “corporate takeover” não estão ali por acaso. O filme é um comentário ácido, ainda que embalado em comédia, sobre a desumanização do ambiente corporativo. Quem são os verdadeiros monstros? Os aliens que querem saquear a mineradora ou a corporação que, antes da invasão, já drenava a vida de seus funcionários, valorizando o lucro acima de tudo?
Minha opinião particular, e talvez um pouco controversa, é que o filme é mais eficaz como sátira corporativa do que como ficção científica pura. Os aliens são quase uma metáfora, uma força externa que expõe a fragilidade e a futilidade da ganância humana. A mineradora, com todo o seu “valor”, se torna um símbolo da nossa obsessão por bens materiais, mesmo quando a vida está em jogo. Essa é a verdadeira “invasão alienígena”: a forma como o capitalismo selvagem nos transforma em meros peões, forçados a defender coisas que, no grande esquema das coisas, não valem o custo humano. É uma lição sombria, disfarçada por explosões e monstros gomosos.
Conclusão: Vale a Pena a Visita (ou Re-visita)?
Escritório Sob Ataque é um filme peculiar. É o tipo de obra que você provavelmente não verá em todas as listas de “melhores de todos os tempos”, mas que merece ser apreciada por sua audácia e seu coração. Seus pontos fortes residem na originalidade da premissa, na química do elenco principal e na crítica social inteligente (ainda que nem sempre sutil) que permeia a narrativa. As fraquezas são perdoáveis, principalmente quando se considera a energia e a paixão que transbordam da tela.
Minha recomendação é clara: se você busca uma comédia de ficção científica que não se leva tão a sério, mas que ainda tem algo a dizer sobre o mundo em que vivemos – e que foi lançada há mais de três anos, em 2022, mas continua relevante – dê uma chance a Escritório Sob Ataque. É uma experiência divertida e, surpreendentemente, um tanto reflexiva. É o tipo de filme independente que nos lembra que a criatividade pode superar as limitações de orçamento, e que nem todo monstro tem tentáculos e olhos esbugalhados. Às vezes, ele veste um terno e carrega uma planilha.
