Ah, Esquema de Risco: Operação Fortune… Um título que, só de ouvir, já me faz imaginar aquelas capas de VHS antigas, com o herói de óculos escuros e uma explosão ao fundo. Você sabe, o tipo de filme que promete uma dose cavalar de adrenalina e, no caso de Guy Ritchie, sempre uma boa dose de diálogos afiados e um enredo que te faz pensar que precisa de um mapa para não se perder. E é exatamente por essa promessa que, quando o trailer surgiu lá em 2023, eu já estava com o ingresso mentalmente comprado.
Porque, veja bem, a gente tem uma relação complexa com certos diretores. Com Guy Ritchie, é como reencontrar aquele amigo genial, mas um pouco excêntrico, que sempre tem uma história mirabolante para contar. Você espera o caos organizado, a montagem frenética, os personagens que parecem ter saído de um bar esfumaçado em Londres. E, por um tempo, Operação Fortune parecia que ia entregar tudo isso e um pouco mais. O Statham? Claro, ele já é o soco na cara em pessoa. Mas Aubrey Plaza? Josh Hartnett? Hugh Grant? A gente pensa: “Uhm, interessante. O que será que ele vai aprontar com esse pessoal?”.
A premissa, pra quem não lembra, era daquelas que a gente adora no gênero: o agente secreto Orson Fortune (o sempre pragmático Jason Statham) e sua equipe peculiar precisam recrutar um astro de Hollywood, Danny Franscesco (Josh Hartnett, num papel que parece feito sob medida para ele), para uma missão que pode evitar a Terceira Guerra Mundial. O inimigo da vez? Uma tecnologia de armamento letal, tão perigosa que ameaça a ordem mundial. Padrão, certo? Mas no universo Ritchie, nada é apenas padrão.
O que me fisgou de cara, e ainda me prende quando penso no filme, foi a dinâmica da equipe. Orson Fortune é o epítome do agente secreto britânico, letal e sem paciência para rodeios. Ele é o centro gravitacional da ação, e Statham, como de costume, entrega com aquela sua habitual estoicidade. Mas a verdadeira cereja do bolo, pra mim, é a Sarah Fidel da Aubrey Plaza. Sabe aquela colega de trabalho que parece entediada com a própria existência, mas que, na verdade, é a mais inteligente e sarcástica da sala? É ela. O contraste entre a seriedade fria de Statham e o humor seco, quase apático, de Plaza é um espetáculo à parte. Não é só engraçado; é a força motriz de grande parte do apelo cômico do filme. As farpas entre eles, a forma como ela o desconcerta com uma simples frase, é ouro puro.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | Guy Ritchie |
Roteiristas | Ivan Atkinson, Guy Ritchie, Marn Davies |
Produtores | Steven Chasman, Jason Statham, Guy Ritchie, Bill Block, Ivan Atkinson |
Elenco Principal | Jason Statham, Aubrey Plaza, Josh Hartnett, Hugh Grant, Cary Elwes |
Gênero | Ação, Comédia, Thriller |
Ano de Lançamento | 2023 |
Produtoras | Miramax, STXfilms, Toff Guy Films, AZ Celtic Films |
E Josh Hartnett, gente! O coitado do Danny Franscesco é jogado no meio de uma conspiração internacional, saindo de trás das câmeras de um set de filmagem para o centro de um tiroteio em Madrid, ou uma fuga eletrizante pelas ruas de Londres. Ele é o nosso ponto de entrada, o “homem comum” que está tão perdido quanto a gente tentando entender quem é quem e qual é o plano. É a personificação do “mostrar, não contar” para o pânico de ser um espião. Você vê o suor escorrendo, a hesitação antes de um salto, e não apenas lhe dizem que ele está apavorado.
Agora, vamos ser francos, nem tudo é um mar de rosas. Enquanto alguns críticos, lá em 2023, aplaudiram a mistura de ação e comédia, outros reclamaram de um roteiro “convoluído” e um ritmo que “deixa a desejar”. E, olha, não dá para negar que a trama, por vezes, se enrosca num nó que só o próprio Ritchie consegue desatar (e nem sempre com a elegância que ele é capaz). “The Handle”, o tal dispositivo secreto, acaba sendo aquele MacGuffin clássico: importante porque o enredo diz que é, mas cuja substância real é um pouco difusa.
Mas e o Hugh Grant, hein? Como o bilionário e traficante de armas Greg Simmonds, ele mais uma vez prova que é um mestre em interpretar vilões charmosos e cheios de trejeitos. Ele não é apenas um inimigo; ele é um espetáculo. Seus diálogos são um show à parte, cheios de floreios e uma malícia disfarçada de cortesia. É o tipo de personagem que você ama odiar, e que, de certa forma, rouba a cena sempre que aparece, seja em um cassino glamoroso em Cannes ou em uma mansão espanhola.
O filme nos joga de um cenário internacional para outro, da elegância sombria de Londres à vibrante Madrid, passando pelo brilho ofuscante de Cannes, o que é um prato cheio para o visual. Você sente o escopo da operação, a globalidade da ameaça. As cenas de ação são competentes, com a coreografia de luta corporal que a gente espera do Statham, mas o coração do filme, para mim, bate mais forte na interação entre os personagens.
No final das contas, Esquema de Risco: Operação Fortune não é, talvez, a obra-prima definitiva de Guy Ritchie. Não tem a originalidade de Snatch ou a reviravolta de Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes. Mas, sabe, nem todo filme precisa ser um divisor de águas. Às vezes, a gente só quer sentar, desligar um pouco o cérebro (mas não tanto, porque ainda é Ritchie) e ser entretido por uma equipe carismática, um vilão delicioso e uma boa dose de humor e porrada. É um filme que, dois anos depois do seu lançamento, ainda me faz sorrir ao lembrar da Sarah Fidel, com sua voz monocórdica, desarmando uma bomba com a mesma expressão que usaria para pedir um café. E, para mim, isso já é uma vitória e tanto.