Eu Sou Alfred Hitchcock

Ainda me pego, vez ou outra, revendo um “Psicose” ou um “Janela Indiscreta” e me surpreendendo. É como um velho amigo que você acha que conhece cada ruga, cada história, mas que, no fundo, sempre guarda um detalhe, um segredo no olhar que você só percebe depois de anos. E é essa sensação de familiaridade e descoberta contínua que me puxou para Eu Sou Alfred Hitchcock, o documentário dirigido por Joel Ashton McCarthy, lançado lá em 2021, mas que, para mim, continua ressoando alto aqui em 2025.

Por que Hitchcock ainda nos fascina tanto? Essa é a pergunta que ecoa na minha mente toda vez que penso no mestre do suspense. E é essa mesma pergunta que McCarthy, de alguma forma, tenta responder – ou, talvez, nos convidar a responder. Este não é um documentário que simplesmente alista fatos e datas, como um verbete de enciclopédia. Não, ele é uma imersão, uma tapeçaria tecida com a paixão de quem verdadeiramente entende a magnitude do homem e da obra.

O que mais me cativa na abordagem de Eu Sou Alfred Hitchcock é a forma como ele desdobra a figura complexa do diretor sem cair no maniqueísmo. Você sabe, não é uma glorificação cega, nem uma condenação simplista. É a tentativa de olhar para o homem por trás do mito, e para o mito que o homem ajudou a criar. Através das vozes de cineastas como Edgar Wright, Eli Roth, John Landis e o historiador Alexandre O. Philippe, o documentário constrói um retrato multifacetado que se aproxima muito mais da verdade, ainda que essa verdade seja intrinsecamente cheia de ambiguidades.

Pense comigo: como podemos conciliar o gênio que nos deu cenas icônicas que até hoje nos arrepiam – a sequência do chuveiro em “Psicose”, por exemplo, que redefiniu o cinema de terror – com as histórias, por vezes perturbadoras, sobre seu controle obsessivo e, digamos, suas estranhas inclinações em relação às suas atrizes? Eu Sou Alfred Hitchcock não desvia o olhar. Ele confronta, com uma serenidade quase acadêmica, essas contradições. Não te dá um veredito, mas te mostra os ângulos, te convida a pensar, a sentir a tensão entre a luz brilhante da genialidade e as sombras de uma personalidade complexa. É como se a câmera de McCarthy, tal qual a de Hitchcock, nos forçasse a olhar para o que não queremos, para o incômodo, mas vital.

AtributoDetalhe
DiretorJoel Ashton McCarthy
Elenco PrincipalAlfred Hitchcock, Edgar Wright, Eli Roth, John Landis, Alexandre O. Philippe
GêneroDocumentário
Ano de Lançamento2021
ProdutorasNetwork Entertainment, Fremantle

A escolha do elenco, por assim dizer, das “cabeças falantes” é um dos grandes trunfos. Edgar Wright, com sua paixão enciclopédica e seu entusiasmo contagiante, nos lembra da alegria pura de assistir Hitchcock. Eli Roth, com sua perspectiva mais visceral e, por vezes, chocante, nos ajuda a entender a psicologia da tensão. John Landis, com a autoridade de quem também navegou pelas turbulentas águas de Hollywood, nos dá uma visão interna sobre as pressões e o poder. E Alexandre O. Philippe, um verdadeiro arqueólogo do cinema, oferece as camadas mais profundas de análise, conectando Hitchcock a um universo cultural e filosófico maior. Eles não estão ali apenas para recitar falas; eles estão dialogando com o legado de Hitchcock, interpretando-o, digerindo-o para nós. É um privilégio testemunhar essa conversa entre mentes que, de alguma forma, foram moldadas pelo próprio Hitchcock.

A produção da Network Entertainment e Fremantle é impecável, costurando o vasto arquivo de entrevistas, cenas de filmes e depoimentos de forma orgânica. Não há excessos, não há pretensão. A narrativa flui com a cadência de um bom thriller, prendendo você não pelo susto, mas pela força da argumentação e pela riqueza das imagens. É um deleite visual e intelectual, um convite para revisitar não só os filmes, mas a mente que os concebeu.

Eu Sou Alfred Hitchcock não é apenas sobre o homem Alfred Hitchcock; é sobre o impacto de ser Alfred Hitchcock no cinema e na cultura. É sobre a herança que ele nos deixou, as perguntas que ele ainda nos faz, os medos que ele continua a explorar em nós, mesmo décadas depois de suas câmeras pararem de rodar. Para mim, este documentário é uma peça essencial para qualquer um que já se sentiu capturado por uma de suas tramas, qualquer um que já se perguntou como ele fazia aquilo. Não vai te dar todas as respostas, claro, porque o mistério é parte da magia. Mas ele vai, sem dúvida, enriquecer sua compreensão, aprofundar seu fascínio e, talvez, fazer você ver seu “velho amigo” com olhos um pouco mais sábios e muito mais impressionados. E isso, meu caro leitor, já é muito.

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