eXistenZ: Uma imersão visceral na carne da realidade virtual
David Cronenberg, mestre do body horror e da paranoia existencial, nos presenteou em 1999 com eXistenZ, um filme que, 26 anos após seu lançamento (considerando a data de hoje, 15/09/2025), continua a provocar reações tão extremas quanto a própria experiência que retrata. A sinopse, sem grandes revelações, gira em torno de Allegra Geller (Jennifer Jason Leigh, em uma performance memorável), uma designer de videogames que se vê no meio de uma trama de assassinato, buscando refúgio – e talvez a própria salvação – na realidade virtual de sua mais recente criação. A linha tênue entre o real e o virtual se esvai numa jornada perturbadora, repleta de suspense e imagens que grudam na retina.
A Carne e o Código: Direção, Roteiro e Atuações
Cronenberg, como sempre, se entrega a uma direção visceral e visualmente impactante. A câmera se move com a fluidez desconcertante de um organismo vivo, refletindo a instabilidade da realidade que os personagens habitam. O roteiro, também de sua autoria, é um labirinto de ideias complexas, misturando ficção científica com elementos de thriller psicológico numa trama que, admito, me deixou em estado de perplexidade até a cena final. Não é um filme para quem busca linearidade narrativa; é uma experiência, uma imersão.
As atuações são igualmente excepcionais. Jennifer Jason Leigh transcende os limites da atuação com sua Allegra Geller, vulnerável e determinada ao mesmo tempo. Jude Law, como o cético Ted Pikul, complementa a personagem de Leigh, oferecendo uma perspectiva mais terrena para contrastar com o absurdo que os cerca. O elenco de apoio, com destaques para Ian Holm e Willem Dafoe, completa o quadro com personagens memoráveis, cada um com sua dose de estranheza e mistério.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretor | David Cronenberg |
| Roteirista | David Cronenberg |
| Produtores | David Cronenberg, András Hámori, Robert Lantos |
| Elenco Principal | Jennifer Jason Leigh, Jude Law, Ian Holm, Willem Dafoe, Don McKellar |
| Gênero | Ação, Thriller, Ficção científica |
| Ano de Lançamento | 1999 |
| Produtoras | Alliance Atlantis, Serendipity Point Films, Natural Nylon Entertainment |
Pontos Fortes e Fracos: Entre o Gênio e a Loucura
Um dos pontos fortes inegáveis de eXistenZ é sua atmosfera opressiva e profundamente perturbadora. Cronenberg constrói um mundo futuro próximo que não é distópico no sentido tradicional, mas sim desconcertantemente estranho. A tecnologia orgânica, os grotescos bio-ports e a própria realidade virtual projetada são perturbadoramente críveis, e a sensação de desconforto que o filme provoca é magistral. A trilha sonora, sombria e ambiente, contribui significativamente para esta atmosfera.
Porém, a não-linearidade e a complexidade do roteiro podem ser um obstáculo para alguns espectadores. O ritmo pode parecer lento em alguns momentos, e a trama, repleta de simbolismos e subtextos, exige atenção e paciência. Entendo as críticas que o filme recebeu em 1999 e a polarização que gera até hoje: algumas pessoas o consideram um filme lento e sem sentido, como um dos trechos de crítica que li menciona. Para mim, porém, essa complexidade é parte de seu fascínio.
Temas e Mensagens: Uma Exploração Existencial
eXistenZ explora temas complexos sobre a natureza da realidade, a identidade individual e a dependência da tecnologia. O filme questiona até que ponto estamos dispostos a nos submeter à imersão em realidades virtuais, e as consequências dessa imersão em nossas vidas. A relação entre o criador e sua criação, o poder da tecnologia e a busca pela verdadeira experiência são analisados com precisão e profundidade.
Conclusão: Uma Obra-Prima para os Ousados
eXistenZ não é um filme fácil. Não é um filme para todos. É um filme desafiador, incômodo, às vezes repulsivo – e, exatamente por isso, brilhante. Se você busca um filme de ficção científica de ação e suspense tradicional, talvez eXistenZ não seja para você. Mas se você está disposto a mergulhar numa experiência cinematográfica única, perturbadora e profundamente intelectual, então prepare-se para uma jornada inesquecível. Recomendo sua exibição principalmente para aqueles que apreciam o cinema autoral e as obras que os desafiam a pensar de maneira diferente. A disponibilidade em plataformas de streaming facilita o acesso a essa obra-prima que continua, passados 26 anos, a provocar e intrigar.




