Ah, o tempo! Que bicho traiçoeiro e fascinante. Cá estamos nós, em 30 de setembro de 2025, e a fita que me trouxe para a máquina de escrever hoje é um eco de um passado recente: Fear and Loathing in Las Vegas: Live at Summer Sonic 2022. Por que resgatar um filme-concerto lançado lá em 20 de agosto de 2022, agora? Bom, para ser bem franco, porque a arte, a boa arte, não tem prazo de validade. E porque, vamos combinar, o título já é um chamado irrecusável para qualquer alma que aprecie uma boa dose de caos controlado e uma pitada de loucura existencial.
Veja bem, “Fear and Loathing in Las Vegas”. Só de ouvir já sinto o cheiro de gasolina, o gosto metálico da aventura desmedida e a pulsação de uma mente prestes a explodir. Não é o filme icônico de Terry Gilliam que conhecemos e amamos, nem o livro genial de Hunter S. Thompson, mas o batismo com esse nome para uma banda de música eletrônica – ou talvez seja o próprio Summer Sonic a abraçar essa estética – já me fisgou. É a promessa de uma experiência que desafia o ordinário, que se recusa a ser apenas mais um show filmado. E, entre nós, quem não busca isso, de vez em quando, numa tela?
O que nos é entregue aqui é um portal. Uma janela para o épico Summer Sonic de 2022, um festival que, para muitos de nós que não estávamos lá, parece quase mítico. Como traduzir a energia efervescente de milhares de pessoas sob as luzes pulsantes de um palco gigantesco? Como embalar a catarse coletiva de uma banda de música eletrônica, com seus ritmos que penetram a pele e fazem o corpo tremer, em um formato que caiba na sua sala de estar? Essa é a grande questão, não é mesmo? E essa é a beleza e a frustração de todo filme-concerto.
Não temos a ficha técnica recheada de nomes familiares, nem uma sinopse com reviravoltas dramáticas, e isso, de certa forma, é um respiro. Nos força a focar na experiência pura. No momento. No que acontece quando o som inunda a tela. E o que acontece é uma imersão sonora e visual. Os sintetizadores urram, as batidas eletrônicas constroem catedrais de som que parecem capazes de rachar o chão do festival. As luzes, ah, as luzes! Elas dançam em sincronia com cada drop e cada crescendo, pintando a escuridão do palco com explosões de cores neon, estroboscópicas e hipnotizantes. É quase como se a banda usasse a luz como um instrumento, esculpindo o ar com feixes que se chocam e se fundem, refletindo nos olhos arregalados da multidão.
Atributo | Detalhe |
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Ano de Lançamento | 2022 |
E a multidão… Ah, a multidão. Embora não possamos sentir o suor ou o calor dos corpos se movendo em uníssono, a câmera nos dá vislumbres daquele êxtase coletivo. Mãos levantadas, sorrisos que se perdem na escuridão, corpos que saltam ao ritmo de um trance quase tribal. É um vislumbre da liberdade, do abandono que só a música ao vivo consegue provocar. E é aí que o “Fear and Loathing” no título ganha uma camada a mais, quase irônica. Não é o medo paralisante, mas a loucura liberada, a euforia que beira a desorientação e a completa entrega.
Claro, um filme-concerto nunca será a mesma coisa que estar lá. Jamais. A pele não sente as vibrações do som, o ar não tem o cheiro de ozônio e suor, e a visão periférica não capta a totalidade daquele universo de gente. Mas o que Fear and Loathing in Las Vegas: Live at Summer Sonic 2022 faz, e faz com certa maestria, é tentar. Ele nos dá close-ups de cada botão girando, de cada batida que nasce nos dedos dos artistas, de cada gota de suor escorrendo pelo rosto de um fã. Ele nos permite ver detalhes que teríamos perdido na vastidão da experiência ao vivo, costurando uma narrativa visual que, de outra forma, seria impossível.
Para mim, em 2025, assistir a este registro de 2022 é quase como uma cápsula do tempo. Uma lembrança de um mundo que segue em frente, mas que preserva esses momentos de pura energia. É um lembrete de que, mesmo na ausência de nomes na tela ou de uma trama formal, a paixão pela música, a conexão entre artista e público, e o desejo de transcender o ordinário através do som, são mais do que suficientes para criar algo memorável. Não é apenas um concerto; é uma fatia pulsante da vida, capturada e, de alguma forma, eternizada para que, mesmo anos depois, possamos sentir um pouco daquela batida que sacudiu o Summer Sonic. E, para mim, isso já é mais do que suficiente. É um convite para, por algumas horas, deixar o medo de lado e se entregar a uma espécie de loucura sônica.