Sabe aquela sensação de quando a gente se pega rindo alto de uma situação na tela, mas ao mesmo tempo sente um leve desconforto? Um misto de “isso não deveria ser engraçado, mas é!” com “será que eu faria isso?”. É mais ou menos essa a montanha-russa que 20 Anos + Jovem (ou ’20 ans d’écart’, no original francês), de 2013, nos propõe, e, sinceramente, eu adoro quando um filme consegue mexer com esses nossos botões mais íntimos.
Vou te contar, volta e meia me pego pensando sobre as expectativas que a sociedade impõe, especialmente às mulheres, quando o assunto é relacionamento e idade. É um terreno minado, né? Um homem mais velho com uma mulher mais jovem, ah, isso é “experiência”. Uma mulher mais velha com um homem mais jovem? Aí a coisa muda de figura, vira “ousadia”, “loucura”, ou, na pior das hipóteses, algo a ser julgado com uma lupa. E é exatamente nesse caldeirão de percepções que David Moreau, o diretor, mergulha com uma inteligência e um charme que poucas comédias românticas conseguem.
A Maquilhagem da Ambição e o Flertar com o Escândalo
No centro dessa história temos Alice Lantins (interpretada com uma maestria que só Virginie Efira tem), uma editora de moda de 38 anos, brilhante, mas que patina para ser levada a sério no competitivo universo editorial. Ela é perspicaz, ambiciosa, mas se vê estagnada. A vida, essa peça irônica, decide intervir de uma forma inusitada. Após uma viagem, num desses momentos de distração que a gente bem conhece, ela perde um cartão de memória crucial. E quem o encontra? Balthazar Apfel (Pierre Niney, com aquele charme juvenil que desarma qualquer um), um estudante de vinte e poucos anos, com um ar de quem acabou de sair de um catálogo de moda, mas com uma doçura que surpreende.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | David Moreau |
Roteiristas | David Moreau, Amro Hamzawi |
Produtores | Christophe Lambert, Abel Nahmias |
Elenco Principal | Virginie Efira, Pierre Niney, Gilles Cohen, Amélie Glenn, Charles Berling |
Gênero | Comédia |
Ano de Lançamento | 2013 |
Produtoras | TF1, EuropaCorp, Ciné+, Canal+, TF1 Films Production, Echo Film |
O encontro inicial é um acaso, um breve esbarrão que, por si só, não mudaria a trajetória de ninguém. O que muda tudo é uma foto. Uma única foto, um momento despretensioso entre eles, que vaza para a imprensa e, de repente, transforma Alice na mulher “ousada” do momento. Aquela imagem, sem que nada de fato tivesse acontecido, vira o combustível para o burburinho que ela, em seu cálculo astuto, percebe que pode ser a escada para o topo da carreira. E aqui entra a sacada do filme: Alice não se assusta com a fofoca; ela se diverte com ela. Ela vê uma oportunidade onde muitos veriam um desastre. E é essa escolha consciente de investir num relacionamento forjado na controvérsia que dá o tom da comédia e do drama pessoal.
A performance de Virginie Efira é um espetáculo à parte. Ela não apenas “interpreta” Alice; ela é Alice. Seus olhos, ora faiscantes de ambição, ora traindo uma insegurança quase infantil, nos guiam por uma personagem complexa. Quando ela decide se entregar à farsa, a gente consegue ver a engrenagem girando em sua mente. Ela não está apenas “fingindo”, ela está atuando para o mundo, mas, no fundo, a linha entre a persona pública e seus sentimentos genuínos começa a se borrar de uma forma fascinante. Ela não é uma vilã; é uma mulher que, cansada de ser invisível, decide pegar as rédeas de sua própria narrativa, mesmo que essa narrativa seja um pouco… fabricada.
O Charme Inesperado de um Romance Improvisado
E Balthazar? Ah, Balthazar. Pierre Niney entrega um personagem que poderia facilmente ser um mero adereço na ascensão de Alice, mas ele se recusa a ser. Ele é ingênuo, sim, mas não bobo. Sua paixão por Alice, que começa como uma admiração quase platônica, se torna genuína e intensa, o que complica o plano de Alice de uma maneira deliciosa. A dinâmica entre eles, essa dança entre a manipulação calculada de Alice e a entrega sincera de Balthazar, é o que realmente sustenta o filme. O roteiro, assinado por Moreau e Amro Hamzawi, é inteligente ao não transformar Balthazar em um estereótipo, dando a ele profundidade e agência, mesmo quando ele está envolvido na farsa de Alice.
Gilles Cohen, como Vincent Khan, o chefe de Alice, também merece destaque. Ele personifica o tipo de executivo que busca o “novo”, o “ousado”, o “vanguardista”, e sua reação à suposta transgressão de Alice é o que move grande parte da trama cômica. A interação entre esses personagens, com diálogos afiados e situações que beiram o absurdo, mas que, de alguma forma, sempre se mantêm críveis, é o ponto forte do filme.
Além das Risadas: Uma Reflexão sobre Nossas Máscaras
O que 20 Anos + Jovem faz com maestria é nos fazer rir da hipocrisia social e das nossas próprias pretensões, ao mesmo tempo em que nos faz questionar o que realmente valorizamos. Será que a imagem é tudo? O que acontece quando o jogo de aparências se choca com a emoção verdadeira? O filme não te dá respostas fáceis. Pelo contrário, ele te joga na cara as ambiguidades da vida real. Alice está usando Balthazar para subir, sim, mas será que, no processo, ela não acaba se abrindo para algo que nunca esperava?
Lançado em 2013, o filme ainda ressoa com uma força impressionante em 2025. As discussões sobre etarismo, sobre o papel da mulher no mercado de trabalho e sobre a autenticidade nas redes sociais (mesmo que a trama anteceda a explosão de influenciadores como conhecemos hoje) continuam super atuais. É um daqueles filmes que, para mim, provam que uma comédia romântica não precisa ser vazia ou previsível. Ela pode ser, sim, uma ferramenta para nos fazer pensar, para rir de nós mesmos e, talvez, para ver o amor e a ambição por uma perspectiva um pouquinho diferente. E eu te digo, se você busca uma história que te divirta e te faça soltar um “hummm” pensativo depois dos créditos, esta é uma aposta e tanto.