Ah, o primeiro amor. Poucas coisas na vida carregam tanto peso, tanta promessa, tanta dor potencial. É um rito de passagem universal, um terremoto na alma que, para o bem ou para o mal, nos molda de maneiras irreversíveis. É essa tempestade adolescente, tão particular e ao mesmo tempo tão coletiva, que o filme First Love: Descobrindo o Amor tentou capturar, e é por isso que, três anos após seu lançamento em 2022, ele ainda me cutuca. Como se pudesse, de alguma forma, reavivar a memória daquele nó na garganta, daquela euforia vertiginosa, daquele pânico silencioso.
Eu, você, nós, todos já estivemos lá. Aquele momento em que o mundo se comprime ao redor de uma única pessoa, e a lógica evapora como água em dia quente. “First Love” nos joga exatamente nesse turbilhão com Jim Albright (Hero Fiennes Tiffin) e Ann Matienzo (Sydney Park). A premissa, de cara, é familiar: dois jovens se encontram, se apaixonam e, como dita a cartilha do drama romântico adolescente, precisam enfrentar os inevitáveis percalços que acompanham essa jornada. A questão, no entanto, sempre foi: será que essa história, contada e recontada mil vezes, ainda tem algo novo a nos dizer? Ou, no mínimo, a nos fazer sentir?
Quando o filme chegou, a presença de Hero Fiennes Tiffin já vinha com uma bagagem considerável, um eco do seu trabalho na série “After”. E, sejamos francos, a sombra de “histórias de angústia com apelo visual” pairava no ar, como bem apontou uma crítica da época, questionando a presença de nomes como Diane Kruger num terreno tão minado por clichês. É uma pergunta válida, não é? O que uma atriz do calibre de Kruger, interpretando Kay Albright, a mãe de Jim, estaria fazendo em meio a tanto furor juvenil? Será que ela seria apenas um farol de sensatez para um público mais velho, ou A.J. Edwards, o diretor e roteirista, tinha planos mais ambiciosos?
E aqui reside a primeira camada de complexidade do filme: o contraste. De um lado, temos a intensidade bruta e, por vezes, desajeitada dos jovens Jim e Ann. Eles se jogam de cabeça no amor com uma imprudência que só a juventude permite. A câmera de Edwards, muitas vezes, paira sobre seus rostos, capturando o rubor da paixão nas bochechas, o brilho ofuscado nos olhos quando a dor aperta. Vemos suas mãos tremerem não porque nos contam que estão nervosos, mas porque a imagem se fixa nos dedos inquietos de Jim, nos olhares hesitantes de Ann que evitam os dele após uma discussão. O amor deles é uma chama que consome rápido, ora iluminando tudo, ora queimando sem piedade. Não é um romance de contos de fadas; é o tipo de paixão que te sufoca um pouco, que te faz perder o fôlego e, ao mesmo tempo, te faz sentir mais vivo do que nunca.
Atributo | Detalhe |
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Diretor | A.J. Edwards |
Roteirista | A.J. Edwards |
Produtores | Lucas Jarach, Nadine de Barros, A.J. Edwards, Henry Briggs Kittredge, Hero Fiennes Tiffin |
Elenco Principal | Hero Fiennes Tiffin, Sydney Park, Diane Kruger, Jeffrey Donovan, Николай Цанков, Chris Galust, Nanrisa Lee, Blake Weise, Sharon Leal, Makeba Pace |
Gênero | Romance, Drama |
Ano de Lançamento | 2022 |
Produtoras | Fortitude International, Voltage Pictures |
Mas, então, entra Diane Kruger, e também Jeffrey Donovan como Greg Albright, o pai de Jim. A narrativa não se restringe apenas ao vai-e-vem emocional dos adolescentes. Ela se expande, ainda que brevemente, para o mundo adulto, para a perspectiva dos pais que observam, impotentes ou tentando intervir, esse vendaval que atravessa seus filhos. A presença de Kruger, para mim, não foi apenas uma curiosidade; ela injetou uma sobriedade silenciosa, um contraponto necessário à explosão juvenil. Seus olhares, muitas vezes, falavam mais alto que qualquer diálogo, transmitindo a preocupação, a experiência de quem já navegou por mares turbulentos e sabe que a dor é parte do caminho. Ela não está lá para roubar a cena, mas para aterrá-la, para dar um peso de realidade à fantasia da paixão.
Edwards, como roteirista e diretor, tenta costurar essa “tapeçaria” – e desculpe o clichê, mas é o que sinto – de emoções. Ele não se esquiva da dor do rompimento, da confusão que se segue, daquele vácuo gelado que fica no peito quando o mundo que você construiu desmorona. A câmera se demora em momentos de solidão, em quartos bagunçados que refletem a mente perturbada dos personagens. O ritmo, por vezes, é lento, quase contemplativo, o que pode testar a paciência de alguns, mas que para mim ressoou com a sensação de tempo arrastado que acompanha as grandes decepções juvenis.
É claro que o filme não é perfeito. Há momentos em que as emoções parecem um pouco forçadas, em que os diálogos poderiam ter mais profundidade, fugindo do melodrama esperado. Mas a humanidade dos personagens, a crueza de suas reações, é o que o salva de ser apenas mais um conto de “amor adolescente”. Hero Fiennes Tiffin e Sydney Park entregam performances que, se não são revolucionárias, são palpáveis. Eles nos fazem sentir a urgência do desejo, o pavor da perda, a confusão da descoberta. Jim Albright, com sua intensidade silenciosa, e Ann Matienzo, com sua força e vulnerabilidade, se tornam mais do que apenas “rostos bonitos”; eles são espelhos das nossas próprias primeiras paixões.
First Love: Descobrindo o Amor talvez não seja um filme que vá redefinir o gênero. Ele não tem a ambição de ser uma obra-prima que ecoa por décadas. Mas, para mim, ele é um lembrete sincero e, por vezes, melancólico, da força incontrolável da juventude e do primeiro amor. É um filme sobre a dor que nos ensina a curar, sobre os encontros que nos preparam para as despedidas, e sobre como, mesmo que pareça o fim do mundo, o sol sempre volta a nascer. E talvez, só talvez, seja essa a verdadeira beleza e o propósito de um filme como este: nos fazer sentir, nos fazer lembrar, e nos fazer acreditar que, apesar de tudo, vale a pena amar de novo.