Frangoelho e o Hamster das Trevas: Uma Jornada Inesperada de Penas, Pelos e Coragem
Sabe aquela sensação de topar com um filme que, de repente, acende uma faísca nostálgica, misturada com um frescor de novidade? Pois é, foi exatamente isso que Frangoelho e o Hamster das Trevas fez comigo lá em 2022, quando aterrissou nos cinemas brasileiros. Confesso que o título já era um convite à curiosidade. “Frangoelho”? Um híbrido inusitado, metade frango, metade coelho, encabeçando uma aventura com um “Hamster das Trevas”? Ah, meu amigo, isso tem a minha assinatura. E hoje, em 2025, a lembrança desse filme ainda me arranca um sorriso.
O que me puxou para essa história, escrita por David Collard e dirigida pela dupla Ben Stassen e Benjamin Mousquet, não foi apenas a premissa peculiar, mas a promessa de uma jornada que abraçava a sua própria estranheza. Vivemos num mundo que muitas vezes nos empurra para a caixinha do “normal”, do que é esperado. E Frangoelho, esse jovem explorador com a cabeça emplumada e as pernas de coelho, é a personificação viva do “diferente”. Ele não é apenas um personagem; é um lembrete vívido de que a nossa maior força pode residir exatamente naquilo que nos torna únicos, naquilo que, à primeira vista, poderia ser visto como uma fraqueza.
A trama, em sua essência, é um clássico conto de aventura: um herói relutante – ou, no caso, um herói que está se descobrindo – parte numa busca por um artefato mágico antes que ele caia nas mãos erradas. Aqui, as mãos erradas pertencem ao seu tio ganancioso, Lapin, interpretado com a voz grave e autoritária de Danny Fehsenfeld, que adiciona uma camada de urgência e um certo charme vilanesco à narrativa. Mas o que realmente enriquece essa jornada são os companheiros de Frangoelho. Temos o Abe, um sarcástico e um tanto dramático Hamster das Trevas, que ganha vida com a voz expressiva de Joe Ochman – e, sim, ele é bem mais do que um nome sugestivo. É o tipo de personagem que entrega as tiradas mais engraçadas sem perder a sua aura misteriosa. E claro, a Meg, uma raposa peralta e corajosa, dublada por Laila Berzins, que equilibra a balança com sua inteligência e agilidade. A química entre esse trio improvável é palpável, transformando cada passo, cada desafio, numa lição sobre amizade e confiança. Você percebe a lealdade deles nos pequenos gestos, nas trocas de olhar que não precisam de palavras, nas mãos estendidas (ou patas, ou asas) nos momentos de perigo.
E falando em perigo, o universo visual de Frangoelho e o Hamster das Trevas é um espetáculo à parte. A nWave Pictures, em conjunto com Octopolis e Dark Horse Entertainment, criou um mundo vibrante, cheio de cores que saltam da tela e texturas que quase podemos tocar. Das florestas densas e misteriosas aos templos antigos e majestosos, cada cenário é meticulosamente desenhado para nos transportar para essa fantasia. A animação é fluida, expressiva, permitindo que os personagens transmitam uma gama de emoções apenas com um piscar de olhos ou um movimento de orelha. Os diretores Benjamin Mousquet e Ben Stassen orquestram essa sinfonia visual com maestria, garantindo que a aventura nunca perca o seu ritmo, alternando momentos de tirar o fôlego com outros de pura comédia.
| Atributo | Detalhe |
|---|---|
| Diretores | Benjamin Mousquet, Ben Stassen |
| Roteirista | David Collard |
| Produtor | Matthieu Zeller |
| Elenco Principal | Jordan Tartakow, Joe Ochman, Laila Berzins, Danny Fehsenfeld, Chris McCune |
| Gênero | Animação, Aventura, Comédia, Família, Fantasia |
| Ano de Lançamento | 2022 |
| Produtoras | Dark Horse Entertainment, Octopolis, nWave Pictures, Canal+, Ciné+ |
O humor, aliás, é um dos pilares do filme. Ele surge não apenas das situações absurdas que um frangoelho pode encontrar, mas também dos diálogos afiados e da personalidade de cada membro do grupo. O Frangoelho, com a voz de Jordan Tartakow, tem um charme ingênuo, mas também uma determinação que se revela quando a situação aperta. Ele é o tipo de herói que te faz torcer por ele, não porque ele é invencível, mas porque ele tropeça, ele duvida, mas ele nunca desiste. É a jornada de autoaceitação, a busca por um lugar no mundo, tudo embalado em uma aventura digna dos melhores clássicos familiares.
Não se engane, apesar de ser um filme para a família, Frangoelho e o Hamster das Trevas não subestima a inteligência do seu público. Há momentos de tensão genuína, questões sobre identidade e pertencimento que ressoam em qualquer idade. Ele nos lembra que a verdadeira força não está em ser perfeito, mas em abraçar nossas peculiaridades e encontrar aliados que nos amparem. A produção de Matthieu Zeller conseguiu equilibrar a leveza da comédia com o peso das lições de vida, sem nunca cair no clichê ou na superficialidade. É uma história que, mesmo alguns anos depois do seu lançamento, mantém seu brilho, sua relevância e sua capacidade de nos fazer rir e refletir.
Então, se você busca uma animação que te arranque gargalhadas, te prenda na cadeira com uma aventura eletrizante e ainda te deixe com um quentinho no coração, dê uma chance a Frangoelho e o Hamster das Trevas. É mais do que um filme de bichinhos falantes; é um lembrete de que as maiores aventuras muitas vezes começam quando abraçamos quem realmente somos, mesmo que isso signifique ser um frango com orelhas de coelho, ou um hamster com um nome um tanto… sombrio.




